Correndo por fora do célebre mundo gastronômico e de todo o estrelato televisivo, o papo de hoje é com Henrique Fogaça e sobre OITÃO, a explosiva banda de hardcore paulistana que anunciou seu retorno às atividades recentemente, com nova formação e o novo single, “Instinto Sujo“.

Foto de divulgação

Henrique, dois anos parados e já são cinco anos desde o álbum ‘Pobre Povo’, agora OITÃO traz ao público uma nova formação. Como foi este processo de mudanças até a produção deste novo single?

Henrique: Olá, a OITÃO foi formada em 2008 e nós fundamos a banda na Casa Verde (referência ao bairro paulistano Casa Verde). O Marcão do Claustrofobia e o Caio moravam lá e tinham um estúdio. A gente ensaiava lá, fizemos dois ensaios e nós tínhamos o primeiro baterista que era o Benê, então ele faltou no segundo ensaio e, como nós estávamos lá, o Marcão falou “se você quiser eu toco a batera”. Foi uma surpresa, porque ele é guitarrista e vocalista do Claustrofobia. Ele já tinha ouvido as músicas lá num ensaio nosso, nós tínhamos uma música na verdade, e uma segunda que nós estávamos fazendo, então ele sentou lá, tocou a bateria e ficou na banda. Nós gravamos o primeiro disco nessa formação e, depois de uns oito meses, nós fizemos alguns shows, até bastante shows no começo, mas depois o Marcão teve que sair por causa do Claustrofobia. Ele tinha uma turnê e nós continuamos a banda com outra formação e com outro baterista.

Em 2009 nós lançamos um disco e demoramos a lançar o ‘Pobre Povo” devido a correria, muita coisa neste meio tempo, nestes seis anos, mas enfim saiu o ‘Pobre Povo’ em 2015. Devido a correria de trabalho de todos, nestes últimos tempos, nós ficamos parados mais ou menos dois anos e, agora que deu uma leve brecha nas minhas coisas, eu resolvi retomar a OITÃO com a formação, praticamente, de quem ajudou a fundar a banda, os que estavam juntos no começo. Voltou o Marcão para a batera, o Caio – que é irmão do Marcão – também sempre esteve nos ensaios e ajudou a compor músicas, as primeiras músicas do OITÃO, depois que nós começamos a ensaiar direto lá. Então agora o Caio, que é baterista, vai tocar baixo, e o Ciero, que já está na OITÃO há uns cinco anos, pois quando o Tadeu, que era o primeiro guitarrista saiu, então eu chamei o Ciero.

Inclusive, sobre o Ciero, a primeira “deminho” (demo) da OITÃO foi gravada no Da Tribo, então as raízes da OITÃO estão praticamente em nós quatro aqui, no Marcos, no Ciero e no Caio. O Tadeu também foi muito importante, o primeiro guitarrista, e os outros integrantes também, mas estamos aí voltando com força total, na melhor forma, na melhor maturidade musical. A OITÃO está chegando com o novo single “INSTINTO SUJO” e a nossa ideia é, de dois em dois meses, mais ou menos, ir lançando músicas com vídeo clipe. A OITÃO está na pegada de novo.

“Bons filhos a casa torna”, OITÃO está fazendo mais do que um reencontro entre amigos, mas também como um retorno às raízes sonoramente agora, com Marcus e Caio do Claustrofobia. O novo single apresenta um banda soando mais visceral do que nunca! O que os fãs e público podem esperar a partir de agora? Um novo álbum já está a caminho?

Henrique: Algo muito verdadeiro dentro da nossa vivência na música. Eu tenho 45 anos de idade, o Ciero vai fazer 45 anos também, o Marcão tem 40 anos e o Caio tem 39 anos, então nós somos de uma mesma “leva” de som, temos muitas influências parecidas dentro do Hardcore, do Punk e do Metal. Agora, mais amadurecidos, com a “cozinha” muito bem formada, muito bem esclarecida, e no bem comum do som para todos dentro do estilo, a gente vai chegar com uma coisa violenta, atual, old school ao mesmo tempo, com letras ácidas. A banda é uma válvula de escape, o intuito da OITÃO, de uma certa forma, é a gente poder se expressar através da música, através do que a gente vive, do que a gente vê, do que a gente sente, uma forma de contestação. A OITÃO vai chegar desse jeito, como sempre foi, e agora mais. Eu acho que o primeiro disco foi uma experiência muito boa, ficou muito bom, o segundo disco a gente fez, mas foi aquela coisa muito atenta, muito cuidadosa, tanto na gravação como na composição. Agora é o verdadeiro OITÃO, na melhor formação, e na melhor forma que a gente possa mostrar o nosso som, o nosso estilo e o que a gente pensa em relação a música, o cotidiano e a vida em geral.

“Instinto Sujo”, como outras músicas da banda, mais uma vez queima todo a potência do nome OITÃO em uma letra agressiva e direcionada ao cotidiano, religião e política, mantendo a essência do hardcore, mas, em contrapartida, mantendo o conceito de liberdade de expressão direcionada apenas a música, isso é, mantendo o preconceito, discriminação, intolerância, etc, fora de campo. Diante de como as coisas estão atualmente na cena nacional, com todos sendo empurrados a assumir lados, você tem sentido esta como a melhor atitude em relação a OITÃO? Como você sente a relação do público a esse respeito e como está sendo sendo a resposta para este novo single?

Henrique: INSTINTO SUJO, o vídeo clipe, é uma ficção na verdade, mas mostrando uma realidade que a gente vive, não é nem a atualidade, nós vivemos isso desde que eu me conheço por gente, e eu vejo que a política no Brasil é muito falha, é muita mamata, é muito descaso com o povo. Entra partido e sai partido, as coisas foram sempre escancaradas em várias facetas, então, no primeiro disco da OITÃO nós temos a música “Horário Político”, lançada em 2009, que fala um pouco da cena política. Em 2015 nós fizemos, no ‘Pobre Povo’, a “Podridão Engravatada”, que fala também de política, e a “INSTINTO SUJO”. Na verdade, é algo que já vem se arrastando de cinquenta, sessenta anos atrás, essa pilantragem. Tem às vezes políticos que tentam fazer alguma coisa, uma exceção muito pequena, mas é relatando o que a gente vê, o que o povo sofre, o que a televisão mostra, o que a gente sente no bolso. A gente sente falta de hospital, de segurança, então é por aí né, uma coisa global no nosso país.

“Instinto Sujo” está ganhando um vídeo clipe no dia 20 de Março, produção pela Caxão Produtora. Como foram as gravações deste primeiro vídeo nesta nova fase da banda?

Henrique: Sobre o vídeo clipe, nós gravamos na Mooca, no restaurante de um amigo meu que é o BBQ Cadillac, do Tata. Viemos com o Xtudo, que é o dono da Caxão Produtora, ele já trabalha há algum tempo, fazendo vídeo clipes, e aí fizemos em cima da letra, do som, mostrando ali a indignação do povo como se fosse qualquer pessoa sabe, indignada, falando e questionando um político, né? Rasgando um papel de leis que eles estão assinando ali em benefício próprio. Então é um pouco essa indignação, mostrada como se fosse qualquer brasileiro, podendo estar naquele personagem que eu estou, com uma máscara, questionando as decisões de um político e o que ele tem feito para toda uma sociedade.

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OITÃO ganhou notoriedade nos últimos anos crescendo em nome e presença de palco, indo da atenção da mídia especializada até grandes momentos como no Maximus Festival. Agora, vocês estão com o novo single pela Canil Records, a banda já tem previsão para novos shows?

Henrique: A OITÃO começou em 2008, já temos doze anos de banda e eu posso dizer que fizemos grandes shows com bandas que foram muito influentes na minha vida. Tive o privilégio de conviver por algum tempo, e participar no mesmo palco, com bandas como The Exploited, Nuclear Assault, Extreme Noise Terror, Brujeria, Dead Kennedys, Slayer. Tocamos com várias bandas, em vários festivais. O Maximus foi um festival grande, um dos últimos que nós tocamos antes de acabar a banda, então não temos data para os próximos shows, porque o Marcos e o Caio estão morando em Las Vegas com o Claustrofobia. A meta agora é, até o final do ano, nós já termos o material gravado. Temos umas seis músicas, eu estou colocando as letras e a gente está finalizando o trabalho nelas. A gente está fazendo esse trabalho de ir lançando, de dois em dois meses, e eu só posso dizer que já estamos terminando a próxima música a ser lançada e começando o vídeo clipe que se chama “Proteste”. Nós saímos de “Instinto Sujo” e vamos protestar, então é isso que eu posso dizer, até o final do ano a gente vai estar lançando uma quantidade de material para, em 2021, estar ativamente fazendo shows.

Henrique, de motoqueiro, skatista, vocalista de banda a chefe consagrado, destaque de escola de samba em 2017 e ícone da televisão, você é um homem multi-facetado em todo o plural da palavra. Eu li o livro ‘Um chef hardcore’ e pude conferir um pouco mais sobre a sua história e ao mesmo tempo você desbanca uma simplicidade real e uma reciprocidade plena diante de todo o seu trabalho. Como você lida com tudo isso e qual o reflexo de tudo que você faz dentro da sua música? Você pode dizer que o OITÃO é uma espécie de catarse para você?

Henrique: Eu tenho todos esses predicados, cozinha, skate, moto, luta, filhos, e eu posso dizer que, tudo que eu faço, eu faço com muita verdade, com muito amor, e eu não sou só um cozinheiro. Antes de tudo, eu sou um roqueiro, desde meus dez, onze anos de idade. O rock transformou a minha vida. Comecei ouvindo Iron Maiden, AC/DC, depois Sarcófago, Mutilator, Holocausto, umas bandas mais Death e depois eu conheci a música Punk nacional, especificamente. Internacional também, mas eu me identifiquei muito com as músicas nacionais, em uma forma de você contestar através da música. Uma música crua, com poucos acordes, só que a mensagem… o que me pegava era a mensagem, o objetivo, bandas como Cólera, que me influenciou muito na forma de pensar em relação ao mundo em que a gente vive, então eu posso dizer que estamos aí. (Risos)
Um catarse na minha vida? Sim, a OITÃO é! Eu acho que todo mundo precisa ter uma válvula de escape, uma forma de se expressar, seja artisticamente ou não, e a música como eu disse, é muito ligada à mim desde moleque. Eu sempre gostei de rock, o som, a música em si me agrada muito e, poder trabalhar em cima da música, mostrando o que você pensa, podendo por pra fora questões que são de aprisionamento, de uma certa forma. Eu acho que a música liberta, a música é uma válvula de escape para a liberdade, expressão e para se libertar até de traumas e questões.

Retorno da OITÃO e Claustrofobia também sempre a todo vapor, como está sendo conciliar as agendas?

Henrique: A OITÃO e a Claustrofobia. Como eu disse, eles estão nos Estados Unidos e, eu e o Ciero, estamos aqui no Brasil, mas a gente se fala toda hora. Eu já mencionei como vai ser o processo de criação do OITÃO até o final do ano, lançar essas músicas que já temos gravadas, e é isso, é família. O Marcão é muito amigo meu, o Caio e o Ciero, convivemos como irmãos, nós pensamos iguais, tamo junto, porque banda é um casamento sem sexo, banda é complicado. Senão, tem muita diferença de ideia, muito bater de frente. Nós estamos sempre alinhados de uma certa forma, a nossa conduta em relação ao som é bem parecida, as bandas que ouvíamos anteriormente, o nosso estilo de vida, a forma de pensar, o nosso gosto muito parecido em relação a música extrema. É isso que une cada vez mais o Claustrofobia e o OITÃO. Conciliar a agenda hoje é mais amadurecido, além do meu lado empresário, pois eu tenho restaurantes, então eu consigo fazer um planejamento e estou fazendo isso muito bem com o OITÃO, pra gente poder conciliar as agendas com a do Claustrofobia, de uma forma saudável e boa para todos. A resposta é um planejamento bem feito com datas e cronograma, e assim trabalhar de uma forma bem profissional que é o jeito que tem que ser, é o que todos nós merecemos do OITÃO. (Risos)

Henrique você tem declarado sobre a sua profunda ligação com a música e o quanto isso é importante pra você. OITÃO possui alguns pilares fortes dentro da cena atualmente, como você vê a cena geral do Rock e Metal brasileiro?

Henrique: A minha ligação com a música, como eu já respondi, é desde dez, onze anos de idade, então é algo que eu posso dizer que hoje é o meu estilo de vida. A forma de eu conduzir os meus negócios, eu aprendi batendo muito a cabeça, mas eu tenho muito esse viés ideológico da música, do “do it yourself” faça você mesmo, então eu sempre corri muito atrás das coisas. Eu já ouvi muito “não” na carreira profissional, então isso é o que me dá força. Eu acho que isso aplicado na música é a verdade que você está trazendo à tona, a verdade através da música.
Os pilares dentro da cena são esses: a verdade, pôr as pessoas pra pensar, através das letras, questões, o estilo de música. Somos bons músicos, então eu acho que esse é o grande pilar, a verdade é a verdade do que a banda mostra, não é fake e nem “mimimi”, o barato é louco e o processo é lento (risos). Para quem conhece o rock em geral, é difícil o underground no Brasil. Os Estados Unidos tem uma abertura maior, por isso que o Claustrofobia está lá, que já tem 25 anos de banda quase, mas infelizmente no Brasil o leque, a abertura, não é tão favorável ao estilo de música, o que predomina aqui no Brasil é funk e sertanejo, falando a verdade, mas o rock tem um espaço sim. O rock bem posicionado, bem feito, tem pra todo mundo, só é questão de trilhar, estar com as pessoas certas, fazendo um trabalho verdadeiro, que a gente mantém essa bandeira, esse pilar do rock por muitos e muitos e muitos anos. Vai de geração pra geração, espero que esse mundo tão moderno não estrague e não mate o rock.

Músico, chefe, pai de família, quem é Henrique Fogaça para o público musical?

Henrique: Hoje eu acho que é “o cara do OITÃO lá, que é do Masterchef agora”, mas sempre foi o Henrique do OITÃO, o Henrique vocalista do OITÃO. Pra todo mundo que conhece o OITÃO antes, e muita gente que conheceu depois do Masterchef, por essa exposição midiática, eu acho que tem dois Henriques. Tem muitos amigos meus, de muito tempo atrás que até me encontraram esses tempos agora num show do Exodus, que inclusive eu sou amigo do Gary Holt que é o guitarrista, e aí me encontrou o Sérgio que é de uma banda punk que está parada. Ele disse “Henricão, te conheço há mil anos véio, cê tá na televisão, parabéns, maior respeito, mas você é o Henrique do OITÃO do hardcore aqui”. É isso aí para as pessoas que me conhecem há muito tempo, que sabem do meu corre, da minha correria na vida. Já quem me conhece depois do Masterchef fala “ah o cara do Masterchef que é vocalista do OITÃO” ou “o cara do OITÃO que é o cara do Masterchef”, enfim…

Henrique, o que você gostaria de dizer aos leitores da Roadie Metal e ao público?

Henrique: Nós estamos aí, retomando o OITÃO, na nossa melhor formação, fazendo um trabalho muito sério, dedicado, trazendo à tona as influências do hardcore e do punk, do metal, de uma forma bem posicionada, amadurecida, e mostrando que no Brasil a gente se dedica, a gente ama o rock e a gente vai mostrar o melhor que a gente pode dentro do nosso estilo, da nossa vivência, dos nossos sentimentos, passados através da música em uma forma contestadora. Então é isso, aguardem o OITÃO, estamos com muita vontade de mostrar o nosso trabalho, e que as pessoas esperem que vai ser um trabalho mais foda do que o outro, essa é nossa ideia. Obrigado a todos os leitores!

Foto de divulgação

Membros da banda

Henrique Fogaça – Vocal

Ciero DaTribo – Guitarras

Marcus D’Angelo – Bateria

Caio D’Angelo – Baixo

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