Roadie Metal Entrevista: Aquiles Priester – “O grande esquema do artista é saber o que o público quer”

Após encerrar a turnê “Temple of Shadows In Concert” ao lado de Edu Falaschi, o baterista do Hangar, e ex-Angra, Aquiles Priester, iniciou uma turnê própria com um supergrupo escolhido por ele, o qual está sendo chamado de “Aquiles Priester e os Malditos”, onde eles estão tocando um tributo ao Iron Maiden, e especialmente ao álbum “Somewhere In Time”, lançado em 1986.

De início, o baterista havia anunciado que a turnê rodaria apenas no Nordeste, mas, no fim eles acabaram realizando datas em várias outras regiões do Brasil, a qual eles estão rodando em um micro-ônibus com toda uma estrutura, a qual eles prometem ser algo próximo daquilo pela Donzela de Ferro nos palcos, tendo inclusive um Eddie de três metros.

No último dia 20 de setembro (sexta-feira), o grupo formado por Aquiles Priester na bateria, Cristiano Worttman e Roberto Barros nas guitarras, Raphael Dafras no baixo, Fábio Laguna nos teclados, e Fabrício Fonseca nos vocais, trouxeram a “Onde Os Fracos Não Têm Vez Tour” para Recife, onde eles tocaram no piso superior do Burburinho Bar para mais de 200 pessoas.

Na ocasião, toda a banda concedeu uma entrevista para a Roadie Metal, falando sobre a turnê e coisas da carreira.

Roadie Metal: Como foi a ideia de realizar esta turnê tocando Iron Maiden?

Aquiles: Então, isso aqui era uma ideia antiga minha, e eu já tinha feito com duas bandas esse show do “Somewhere in Time”, mas eram bandas que já existiam, e foi assim que conheci o Fabrício, que foi sub do cantor do “Maiden In Hell”. Mas eu tive uma ideia de montar um time meu, uma galera que eu já tocasse junto, para de uma certa forma elevar o nível de como se tocar Iron Maiden, porque tocar Iron Maiden parece simples, mas é difícil soar bem como a banda soa. Quando você ver a banda tocando e a facilidade que eles tocam ao vivo a impressão que se tem é que é simples, mas quando põe a galera pra tocar, as guitarras não afinam, os bends e os temas não estão juntos, então a gente percebe que com essa banda aqui tenho certeza que nunca toquei um Iron Maiden que tenho soado tão bem.

Roadie Metal: Por que especificamente o “Somewhere in Time”? Qual a importância desse álbum para você?

Aquiles: Pra mim especificamente foi porque eu comecei a tocar bateria por causa desse disco, foi o primeiro disco de metal que ouvi e foi o disco que mais ouvi na minha vida, isso na época da fita K7.

Roadie Metal: De início você tinha anunciado a turnê apenas para o Nordeste, e depois abriu datas também em outras regiões, isso foi por conta da boa repercussão? E por que de início vocês tinham escolhido o Nordeste?

Aquiles: Porque eu já sabia que no Nordeste ia ser bom, porque na outra tour que fiz com o Edu ano passado, eu tinha comentado com alguns contratantes de fazer essa tour com um “time A” para tocar Iron Maiden, e todo mundo ficou interessado, diferente de uma tour autoral. Quando você que quer fazer uma banda autoral o pessoal só quer fazer bilheteria, e nessa turnê a gente não tem bilheteria, é só cachê fixo, a não ser nas praças que eu queria fazer o meu show.

Roadie Metal: Você acha que hoje em dia a galera está se interessando muito mais por ouvir os clássicos antigos do que material novo?

Roberto: Com certeza, o Brasil é um país diferente para o Heavy Metal, não é cultural pra gente, então quem entrou ali nos meados dos anos 2000, fez seu nome no metal nacional. E a galera gosta de ouvir isso, porque isso fez parte da história e infância deles, assim como foi parte da minha. Então essa geração que está vindo agora já não consome tanto esse material, já está em uma outra pegada. Então essa galera quer ouvir esses clássicos, quer ouvir as bandas que eles gostam, então Brasil é um pouco diferente, nos Estados Unidos mesmo é mais de um milhão de bandas, fazendo tour, viajando, lançando disco novo e trabalhando, no Brasil é totalmente diferente, costumo dizer que no Brasil o povo elege uma banda para um estilo. Então a gente percebeu que o caminho é esse de tocar as coisas que são consagradas, não só da carreira do Aquiles no Angra, mas também as do Iron. A gente fez esses shows agora com o Edu, e todos foram extremamente lotados, a carreira da gente, que era mais desconhecido, pegou uma ascensão gigantesca por conta de tocar clássicos do passado.

Aquiles: E se você pegar como exemplo essa turnê que estamos fazendo com o Edu, é uma banda cover, mas é uma banda cover que se parece muito com a banda que lançou o disco naquela época, porque tem o baterista, o vocalista, e o tecladista, e tem dois guitarristas e um baixista que tocam exatamente igual a como fazíamos antes. E é engraçado porque as pessoas pagam, acho que essas músicas que foram imortalizadas nesses discos, são músicas que fazem parte da vida dessas pessoas, e elas não aceitam que outros toquem, e apenas aqueles que gravaram.

Roadie Metal: Ao mesmo tempo que tem esse pessoal que paga mais pelos tributos, tem também alguns que o criticam pelo fato dos seus trabalhos recentes terem sido focados mais em “covers” do que em autorais, o que você tem a dizer sobre isso?

Roberto: Mas esse é o pessoal que não vai nos shows! (risos)

Aquiles: Meu? É o c* deles… Ano passado o Hangar fez um tour com 18 datas, igual a essa, a diferença é que o Hangar só vendeu dois shows, fizemos 16 datas por bilheteria. Nessa aqui estamos fazendo 16 datas com cachê fechado, e duas com bilheteria porque eu quis, porque eu sei que ali vai ser melhor. Então eu seria burro se eu repetisse uma turnê com o Hangar pra fazer bilheteria outra vez. O grande esquema do artista é saber o que o público quer, e se o público quer que a gente toque Iron Maiden, então a gente vai dar pra eles isso, não vamos ficar dando soco em ponta de faca.

Cristiano: E esses haters que tão falando besteira na Internet eles não têm a mínima noção de como funciona o mercado musical, eles ficam falando besteira atrás do smartphone. As pessoas precisam tocar pra ganhar dinheiro, precisam se manter, todo mundo aqui tem família. O Hangar lançou disco em 2016, a gente fez tour, lançou DVD, mas é muito mais difícil vender show. A gente faz música autoral, todo mundo aqui faz, só que o pessoal paga mais por cover, é simples, conta básica.

Roadie Metal: Nos projetos autorais, há alguma coisa em produção?

Aquiles: Não! Mas o Edu está fazendo um disco solo, a banda inteira vai participar, mas a gente sabe que só vai tocar uma ou duas músicas desse disco, e o resto vão ser clássicos do Angra. Só que como artista, o Edu achou melhor fazer um disco inédito, pra que as pessoas não falassem dessa forma de que só estamos fazendo cover. Na verdade, não é cover até porque nós fizemos aquelas músicas, mesmo que não tenhamos sido os compositores, fomos nós que fizemos os arranjos e demos cara pra aquelas músicas, então é normal que ela vai soar melhor quando a gente tocar.

Fábio: E no final das contas, até quem compôs as obras também está se copiando, o Kiss não vai tocar o repertório que eles lançaram agora, e sim músicas que gravaram há 30 anos atrás, então acaba sendo uma reprodução do que você era, não o que você é agora.

Fabrício: O próprio Iron Maiden está fazendo isso nessa turnê agora do “The Legacy of the Beast”, que é uma turnê de uma compilação das melhores músicas da carreira do Iron, eles não estão divulgando um disco novo.

Aquiles: E no futuro, o Hangar vai fazer cover do próprio Hangar. Em 2021 a gente vai fazer uma turnê tocando o “Inside Your Soul” na íntegra, e a gente vai chamar o Mike para cantar. Ou seja, o Mike não faz mais parte da banda, mas ele vai ser cover pra ele imitar ele mesmo. (risos) É aquela frase importante: ‘Eu vou te ensinar a me enganar, e depois vou enganar você também!’ (risos).

Roadie Metal: O que os fãs podem esperar dessa turnê, e qual recado vocês tem para eles?

Aquiles: É um show muito diferenciado, se você vai num show desses aqui, onde a casa tem uma estrutura boa, uma iluminação, um som bom, você vai ver um show de Iron Maiden que você nunca viu, a não ser que você já tenha visto o Iron Maiden tocando. O espetáculo que a gente faz tem a parte musical, tem a parte teatral, e o Fabrício é um cara que canta muito bem Iron Maiden, porque ele já está acostumado a fazer, e quando você fecha os olhos, você não acredita que está fazendo parte daquilo.

Roadie Metal: De início o Pedro Campos (Hangar) ia fazer os vocais nessa turnê, o que aconteceu para ter essa troca na equipe?

Aquiles: Foi porque o Pedro não pode fazer a turnê por problemas pessoas, e ele pediu para a gente não divulgar a razão. Mas o Fabrício está dando um show em cada show, é impressionante. Eu não sei de vocês, mas ninguém me perguntou sobre o Pedro, juro mesmo, isso porque o Fabrício já especialista nisso, e trabalha com bandas tributos a Iron Maiden e Queen, é um cara que está acostumado a usar a voz dele num show de duas horas, duas horas e meia, e ele vai super bem, e é sempre excelente.

Roadie Metal: Bom, isso é tudo, e muito obrigado.

Aquiles: Quero agradecer a galera da Roadie Metal, pois vocês vêm aqui fazer uma cobertura de um evento desses, são vocês que fazem a cena existir.

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