Após a pandemia do novo coronavírus estourar em todo o mundo, o que ocasionou na paralisação do mercado de shows ao vivo, muitas bandas passaram a aproveitar o tempo livre para compor novas canções, saindo assim álbuns que certamente não sairiam tão cedo se não fosse pela Covid-19.

Um desses exemplos é a banda espanhola de Thrash Metal Angelus Apatrida, que no próximo dia 05 de fevereiro irá lançar seu mais novo álbum homônimo, o sétimo do seu catálogo, sucedendo o “Cabaret de la Guillotine” após 3 anos.

E para falar sobre o novo trabalho, o guitarrista e vocalista Guillermo Izquierdo deu uma entrevista exclusiva a Roadie Metal, a qual pode ser conferida a partir de agora.

Roadie Metal: Fale um pouco sobre o novo álbum.

Guillermo: Temos um novo álbum vindo agora no dia 05 de fevereiro, se chama “Angelus Apatrida”, é o nosso sétimo álbum, o quinto com a Century Media Records, e o primeiro composto durante uma pandemia. Foi um efeito colateral da pandemia da Covid-19, e referente ao novo álbum, já lançamos dois singles e espero que as pessoas curtam.

Roadie Metal: Por que vocês decidiram não dar um título específico ao álbum dessa vez?

Guillermo: Anteriormente era para ser um EP, inclusive estávamos compondo as primeiras músicas durante a turnê no Brasil em 2019, mas em 2020 era pra ter sido o 20º aniversário da banda, e passamos por muitas coisas depois do início da pandemia, e toda banda possui o seu álbum homônimo, e pensamos que o melhor momento para fazermos um era agora. Mudamos um pouco o som e investimos bastante para esse álbum ser feito durante a pandemia, enquanto todos estavam no Lockdown e na quarentena. Então pensamos “Isso é o que somos, e isso é o melhor que podemos fazer”. Então por que não chamar de “Angelus Apatrida”? Porque sabemos que ainda somos uma banda pequena para o resto do mundo, e ainda somos uma banda nova para muitas pessoas, então esse pode ser o início para muitos nos conhecerem. E ao mesmo tempo sabemos que o nome da banda é difícil para muitos pronunciarem, ou se lembrarem, então quisemos fazer um homônimo para que todos falassem mais o nosso nome e não esquecesse.

Roadie Metal: Por curiosidade, por que o nome “Angelus Apatrida”?

Guillermo: Porque éramos garotos quando começamos a banda, e sendo sincero, nunca gostei desse nome. “Angelus Apatrida”, em inglês, seria um Angelus sem um país, sem uma pátria. Mas sendo sincero, quando éramos crianças, começamos a tocar e só queríamos um nome para nos apresentar, e esse foi um dos primeiros que pensamos, então pensei “ok, talvez próximo mês a gente mude o nome”. Mas no fim não mudamos e 20 anos depois aqui estamos com o mesmo nome esquisito.

Roadie Metal: Foi algo do tipo “ninguém pensou em nada melhor, então vai ser esse mesmo”, né?

Guillermo: Exatamente, e também pensamos “por que não temos um nome em inglês?” então meu irmão disse “por que não temos músicas, e não sabemos se iremos cantar em inglês ou em espanhol”. Então pela mesma razão fizemos um nome metade espanhol, e por isso escolhemos um nome em latim. E claro, não havia outra opção (risos).

Roadie Metal: Como tem sido a recepção dos dois primeiros singles (Bleed the Crown e Indoctrinate)?

Guillermo: Até agora estamos satisfeitos com o retorno do pessoal, acho que foram as melhores reações quando lançamos os dois singles, e mal podemos esperar para que todos ouçam o resto do álbum, e acho que eles ficarão bem surpresos. Acho que esse é o nosso lançamento mais importante até o momento, e temos investido bastante para que esse seja nosso álbum mais popular, e até agora o retorno tem sido ótimo.

Roadie Metal: Ouvindo a alguns materiais antigos da banda, percebi que você mudou um pouco o seu estilo de vocal, soando menos Old School. Isso foi intencional?

Guillermo: Não foi intencional, é que durante todos esses anos a sua voz muda, não sou o mesmo cara de dois anos atrás, não sou o mesmo cara de 20 anos atrás, estou ficando velho, mas estou tendo mais experiência e estou tentando melhorar a minha voz, e claro, larguei o cigarro há 4 anos, que foi uma coisa importante para mim. Agora me sinto confortável com a minha voz, porque consigo cantar o mesmo que eu cantava há 20 anos e de uma forma mais confortável, então consegui mais amplitude com a minha voz, agora consigo fazer graves, consigo gritar como antes, acho que está mais natural e um pouco mais original. Me sinto mais confortável. Mas não foi nada planejado, foi uma mudança natural por conta do passar do tempo, e também por conta da experiência que consegui ao longo dos anos.

Roadie Metal: Vocês acham que vão conseguir realizar algum show para divulgar o novo álbum?

Guillermo: Queremos poder entrar em turnê o mais breve possível, mas até agora não sabemos o que vai acontecer mês que vem. Ainda temos alguns festivais de verão, que esperamos que aconteça, mas agora está tudo no ar porque ninguém sabe o que vai acontecer com a pandemia. Mas estamos trabalhando para fazer alguns shows na Espanha no fim de fevereiro para promover o novo álbum, alguns shows com distanciamento social, até porque esse é o nosso principal trabalho e nossa fonte de renda, e não estamos trabalhando há 10 meses, com isso, estamos em uma situação ruim. Precisamos trabalhar, precisamos entrar em turnê. Mas no momento a coisa mais importante é a saúde e a segurança, então vamos ver o que acontece no futuro. Claro, quanto mais cedo pudermos entrar em turnê, poderemos voltar para a estrada, voltar para o Brasil, para a América Latina, assim que pudermos.

Roadie Metal: Como está a atual situação da pandemia na Espanha?

Guillermo: A vacinação começou na semana passada (N.R.: A entrevista foi realizada no dia 14 de janeiro), minha namorada, que é enfermeira, já foi vacinada, meu irmão já foi vacinado, eu mal posso esperar para ser vacinado, para que todos sejam vacinados, porque isso será o início do fim dessa pandemia. Agora a Espanha não está tão ruim quanto no início, mas ainda estamos em Lockdown, mas é um Lockdown apenas de noite, entre meia-noite e seis da manhã não é permitido você estar fora de casa, a não ser que você prove que vai trabalhar. Acho que o resto da Europa está pior, e essa é a razão que não vamos fazer turnê em fevereiro, mas com esperança a vacinação vai funcionar, e poderemos terminar esse pesadelo. E segundo minha namorada, ela trabalha em hospitais, os leitos estão quase cheios porque as pessoas fizeram reuniões no Natal, o que fez muitos irem para o hospital e morrerem todos os dias. Mas quero acreditar que esse é o início do fim da pandemia, então fiquem seguros, pessoal, e não podemos fazer mais nada a não ser esperar e cuidar um dos outros.

Roadie Metal: Como a pandemia afetou os planos do Angelus Apatrida em 2020?

Guillermo: Afetou completamente, 2020 era pra ser um dos melhores anos da nossa carreira, tínhamos vários planos de turnês, íamos tocar nos Estados Unidos pela primeira vez, estávamos falando em tocar na América Latina de novo, tínhamos uns 30 festivais de verão bem importantes ao longo do ano. Foi a pior coisa que podia acontecer com a gente. Por outro lado, pudermos escrever um novo álbum, o que não estava planejado para ser feito em 2020, então tivemos uma coisa positiva nisso tudo. Mas de qualquer forma, isso nos afetou bastante, principalmente porque esse é o nosso principal trabalho, somos uma empresa pequena de quatro trabalhadores, precisamos estar na estrada quase toda semana e se não trabalharmos a gente não ganha dinheiro. Agora as economias da banda estão quase acabando, e espero que a gente possa voltar a fazer turnê logo.

Roadie Metal: O Angelus Apatrida realizou durante a pandemia alguns shows online, e uma daquelas “Lockdown Sessions”. Como foi a sensação de tocar ao vivo sem uma plateia?

Guillermo: Foi engraçado, nos divertimos bastante, e principalmente o que fizemos no verão, que foram o Century Media Isolation Festival e o European Metal Festival Alliance. Claro, você sabe que está falando com uma câmera, mas sua imaginação te prega uma peça para você parecer que está tocando para pessoas de verdade. E fizemos outro show livestream em Múrcia, aqui na Espanha, no fim de novembro, foi bem profissional, com 3 ou 4 câmeras, e foi o primeiro show online que fizemos com ingressos pagos. Não foi uma situação ruim, talvez a gente faça de novo no futuro, foi bem divertido, e precisamos fazer algo durante essa pandemia, pois esse é o nosso trabalho.

Roadie Metal: Pergunto isso porque várias bandas, principalmente as mais antigas, resistiram a esses novos formatos de shows por não verem sentido tocar sem plateia, ou para um público em menor número. Qual a sua opinião sobre isso?

Guillermo: Eu entendo eles, principalmente quando você é uma grande banda e tem dinheiro para ficar sem tocar por dois anos, talvez se fossemos uma grande banda com dinheiro, talvez a gente teria feito isso. Mas por outro lado, se você ama o que faz – claro, não é a mesma coisa tocar para uma câmera e tocar para uma plateia de verdade, mas pelo menos você sabe que tem gente que te apoia e que quer vê-lo. Mas entendo essas bandas, e claro é algo que vai acabar um dia e iremos voltar para a estrada, respeito todas as opiniões sobre isso. No nosso caso, não é o melhor que podemos fazer, mas pelo menos é algo que podemos fazer.

Roadie Metal: Como foi tocar no Brasil em 2019?

Guillermo: Foi uma ótima experiência, porque só tínhamos tocado no Brasil uma vez, em 2016, em São Paulo, e foi nossa primeira turnê no Brasil e foi muito boa. Claro, teve shows que tiveram mais gente do que em outros, mas ficamos bastante felizes por conhecer o país, e as pessoas de cidades diferentes, e claro, estabelecer parcerias para o futuro. E muitas pessoas que não conheciam o Angelus Apatrida tiveram o seu pontapé inicial ali, então mal podemos esperar para retornar. Fizemos essa turnê com a Xaninho Discos, e fizemos amizade com a banda Hatefulmurder. Ir para o Brasil em dezembro é ótimo, pois é verão por aí enquanto é inverno na Espanha.

Roadie Metal: Então já há planos para retornar ao Brasil?

Guillermo: Tínhamos planos para fazer uma turnê latino-americana em 2020, e definitivamente faremos isso depois que essa pandemia acabar. Já estamos conversando com a Xaninho Discos para fazer algo no futuro, provavelmente em 2022.

Roadie Metal: Qual a sua mensagem para os fãs brasileiros?

Guillermo: Primeiramente, queria agradecer a todo mundo, pois nos divertimos bastante no Brasil, e sabemos que todos os dias conseguimos mais fãs nas nossas redes sociais, então nos sigam no Instagram e no Facebook. Todos os dias temos mais brasileiros escutando o Angelus Apatrida, e estamos contentes em tê-los aqui, amamos vocês, temos uma conexão especial com o Brasil. Todos fiquem seguros e cuidem um dos outros, cuidem da sua família, porque isso acabará um dia e poderemos voltar aos shows, e a abraçar e beijar uns aos outros. Até lá fiquem seguros, e apoiem a cena local, pois ela precisa do seu apoio mais do que nunca agora.

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