Formado em 2008 na Suécia, o Amaranthe veio com uma proposta ousada de misturar elementos do Pop com o peso do metal, se utilizando de três vocalistas (um feminino, um masculino e um gutural). Em 2020, o grupo lançou seu sexto álbum de estúdio intitulado “Manifest”, liberado no dia 02 de outubro através da Nuclear Blast Records.
O trabalho, que sucede o “Hélix”, de 2018, chegou sendo um dos mais pesados do grupo em toda a sua carreira, atingindo também altas colocações nas paradas na Europa.
Apesar da boa repercussão do álbum, o Amaranthe se encontra na posição de não poder entrar em turnê para divulgar o “Manifest”, por conta das restrições causadas pela pandemia do novo coronavírus, assim como todas as bandas que estão lançando novos trabalhos nesse ano de 2020
Falando sobre esses e outros assunto, o guitarrista da banda Olof Mörck concedeu uma entrevista exclusiva para a Roadie Metal, a qual vocês podem conferir logo abaixo.
Roadie Metal: Fale um pouco do novo álbum “Manifest”.
Olof: Bom, esse é o nosso sexto álbum, lançamos no dia 02 de outubro, e diria que esse seria nosso álbum mais pesado. Após o “Hélix”, houve um pouco de retorno aos nossos primeiros álbuns, começou a ficar mais pesado após nosso quarto álbum ficar mais “Pop”. Então queríamos soar mais pesados com o “Manifest”, mas ainda mantendo influências de diferentes estilos, como normalmente fazemos. É uma mistura que o Amaranthe faz de todos os estilos que gostamos e juntamos em apenas uma coisa.
Roadie Metal: O álbum atingiu boas posições nas paradas europeias, vocês chegaram em 4º na Finlândia, 12º na Alemanha e 14º na Suíça. Isso foi uma surpresa para vocês?
Olof: Estivemos nas paradas antes com os álbuns anteriores, mas nunca em posições tão altas como essas. Com o “Maximalism” e o “Massive Addictive” atingimos 84º e 86º nas paradas alemãs, que já foi um grande passo. Então estamos extremamente felizes com isso.
Roadie Metal: A faixa “Viral” tem algo a ver com a pandemia ou foi uma coincidência?
Olof: Na verdade foi um pouco dos dois, sinceramente, porque eu vim com o título, as primeiras letras e boa parte da música em dezembro de 2019, que foi bem antes da situação da Covid-19 estourar. Então, no meio de março, quando a coisa piorou na Europa, pensamos que seria uma boa oportunidade de comentarmos sobre toda a situação – porque certamente está sendo tempos sombrios para todos no mundo – mas nossa mensagem com a música, e principalmente com o vídeo, foi que independente da coisa estar ruim, que todos estão isolados, e que não está havendo shows de Metal, as coisas vão voltar ao normal mais cedo ou mais tarde. E da nossa perspectiva, mal podemos esperar para voltar aos palcos, então isso é a gente tentando trazer pensamentos positivos para toda essa situação.
Roadie Metal: Como a pandemia atingiu os planos do Amaranthe para 2020?
Olof: Para começar, tivemos um pouco de sorte, porque tivemos uma turnê com o Sabaton e Apocalyptica entre janeiro e fevereiro, e conseguimos terminar essa turnê, e o Lockdown começou depois que iniciamos as gravações do álbum. Vivemos na Suécia, mas gravamos nossos álbuns na Dinamarca, e eles fecharam a fronteira poucos depois que a cruzamos, senão teríamos que atrasar o disco. Até terminarmos o álbum nossos planos não foram afetados, mas claro, os festivais de verão foram cancelados, teríamos feito as turnês europeias e americana agora no outono, então tivemos praticamente 90 shows cancelados. Então é triste que não estamos podendo fazer turnê, mas a coisa mais importante desse ano é que conseguimos lançar o álbum, e estamos felizes em relação a isso.
Roadie Metal: Você tem alguma expectativa de quando vocês poderão voltar a estrada?
Olof: É difícil dizer, mas reagendamos nossa turnê europeia para abril e maio de 2021, então estamos cruzando os dedos para que consigamos fazer. Mas quem sabe, talvez precisemos de uma vacina para podermos entrar em turnê como antes, mas estamos cruzando os dedos e mantendo as esperanças.
Roadie Metal: Essa é a turnê que vocês vão fazer com o “Beyond the Black”, certo?
Olof: Exatamente, essa é a turnê que adiamos para abril, e também colocamos a turnê americana para o final do ano.
Roadie Metal: Como foi o Lockdown para o Amaranthe?
Olof: Sinceramente, a Suécia não teve exatamente um “Lockdown”, mas foi bem restrito na Dinamarca. Mas normalmente quando você está em estúdio gravando um álbum, é basicamente uma “quarentena” de qualquer forma, porque você passa todo o seu tempo no estúdio e vai apenas para a casa a qual alugou para dormir – e você se encontra com o produtor, os membros da banda, e é isso. Então, para a gente, foi provavelmente bom isso ter coincidido com as gravações do álbum, porque praticamos bastante antes da nossa “própria quarentena”.
Roadie Metal: A banda pretende fazer alguma performance online ou alguns desses shows com distanciamento social que já estão acontecendo na Europa?
Olof: A gente tem pensado nisso, estamos atrás disso. O que queremos fazer é que, podem abrir [shows] para mais pessoas na Suécia nos próximos meses, não muitas pessoas, mas talvez 200 ou 300, ou algo assim, o que significa que poderemos tocar em frente a uma plateia, mesmo que seja um show pequeno, para mostrar ao resto do mundo que há um show acontecendo. Se não pudermos ter uma plateia, talvez a gente ainda faça, mas é algo que estamos discutindo há algum tempo, e agora estamos discutindo mais após o álbum ter sido lançado.
Roadie Metal: Por que a banda decidiu não usar a versão de “Do or Die” com a participação de Angela Gossow no álbum?
Olof: Vimos o lançamento de “Do or Die” como algo separado do “Manifest”, mas isso deve ter ficado um pouco confuso depois que decidimos por a música no álbum, porque encaixou bem conceitualmente e sonoramente. Mas não queríamos por a mesma versão, e como muitos perguntaram sobre onde estavam Nill e Henrik, e tínhamos basicamente uma “versão das garotas”, decidimos fazer então uma nova versão (N.R.: Com os dois vocalistas masculinos). Então foi bem legal para os fãs terem duas perspectivas diferentes. Ambas são músicas do Amaranthe, mas feitas de forma diferente.
Roadie Metal: Então vocês têm uma “versão das garotas” e uma “versão dos garotos” de “Do or Die”?
Olof: Exatamente, acho que não foram muitas bandas que já fizeram isso (risos).
Roadie Metal: E como vocês conseguiram tirar a Angela Gossow da sua aposentadoria, mesmo que por um pouco?
Olof: Na verdade isso foi ideia da Angela, ela teve a primeira ideia conceitual. Desde que ela queria fazer esse projeto, e em termos de letra, mostrar uma visão de futuro apocalíptico, onde o meio-ambiente já foi pro saco, e tudo o mais. Mas ela não sabia com que banda ela queria fazer isso, até começar a trabalhar com a gente. E depois dela ouvir a música, ela percebeu ‘seria muito legal para mim se eu fizesse isso’, ela nos disse. Para a gente, isso foi realmente animador, já que somos fãs da Angela Gossow desde os 17 anos, somos grandes fãs do Arch Enemy há uns 20 anos. Então eu e a Elize ficamos bem animados com isso. E foi muito legal.
Roadie Metal: E essa foi a primeira performance dela depois de 8 anos, certo?
Olof: Exatamente, acho que a última vez que ela participou de um álbum foi no último em que ela gravou com o Arch Enemy em 2011 (N.R.: Khaos Legion).
Roadie Metal: Esse é o segundo álbum com Nils Molin no vocal masculino, como você acha que ele evoluiu do “Hélix” para o “Manifest”?
Olof: Para a gente não foi difícil achar um lugar para ele, mas não conhecíamos a voz dele como conhecemos agora, porque precisávamos conhecer seu gosto musical, o estilo da sua voz, onde ele brilha mais, seu melhor registro. E Nils ficou pessoalmente mais envolvido na produção do “Manifest”, ele ficou comigo por duas ou três semanas para mixar o disco na Dinamarca, então o álbum também teve o toque dele.
Roadie Metal: Nils tem outro projeto chamado Dynazty, certo?
Olof: Exatamente!
Roadie Metal: Inclusive, sei que esse projeto também lançou álbum novo esse ano (N.R.: The Dark Delight). O Nils conseguiu lidar bem com as duas bandas lançando disco no mesmo ano?
Olof: Absolutamente, eu e toda a banda amamos o Dynazty, acho que o álbum deles foi um dos melhores lançamentos desse ano, estamos bem felizes por ele. E era para ele ter feito com a turnê com o Dynazty esse ano, e Nils está na banda há 3 anos em paralelo ao Dynazty, e tem funcionado. Então se funciona para ele, também funciona para a gente.
Roadie Metal: A faixa “BOOM!1” é, provavelmente, a música mais diferente que o Amaranthe já fez. Ela tem o Henrik fazendo “Rap”, tem breakdowns de guitarra, e o vocal de Nils se destaca mais do que a da Elize pela primeira vez, se não me engano. Como essa música surgiu?
Olof: Foi uma ideia divertida que eu e Henrik tivemos ano passado, estávamos escrevendo essa música para ser uma música de show, para colocar várias explosões e fogos em várias partes. Então estávamos falando sobre como aproximar a música conceitualmente, e era para estar acompanhando com guturais bem rápidos, que soa como Rap, como você disse. E para isso funcionar eu queria algo bem pesado e diferente, algo bem “Metalcore”, ou seja lá como queira chamar. E o contraste foi colocar Nils no refrão, e Elize definitivamente não foi a voz principal, ela ficou mais na harmonia, no background, para soar mais “Rock n Roll”. Foi uma ideia bem diferente, foi divertido trabalhar em algo assim, e acho que ficou bem legal.
Roadie Metal: Vocês têm planos para tocar no Brasil após a pandemia?
Olof: Com certeza está no topo da nossa lista, estávamos planejando tocar na América Latina em geral depois da turnê nos Estados Unidos. Mas como a turnê nos Estados Unidos não aconteceu, a gente não avançou nesse plano. Mas após a pandemia, definitivamente tentaremos tocar no Brasil e na América Latina pela turnê do “Manifest”.
Roadie Metal: Como foi tocar no Brasil em 2017?
Olof: Tocamos no Manifesto Bar, em São Paulo. Foi simplesmente incrível, foi nosso primeiro show na América do Sul em geral, e tínhamos grandes expectativas, pois sempre ouvimos coisas boas em relação a plateia latina-americana. E foi um show menor, para umas 600 ou 500 pessoas, mas o sentimento foi de que o show foi em uma arena. A gente se divertiu bastante e tomamos bastante caipirinhas.
Roadie Metal: Voltando um pouco para o início da banda. Como surgiu essa ideia de utilizar três vocalistas?
Olof: Naquela época éramos um monte de músicos que viviam saindo juntos, as vezes tocando ou gravando, e de vez em quando acontecia de ter três ou cinco vocalistas cantando ao mesmo tempo, e as pessoas faziam participações nas músicas do Amaranthe. Pensávamos que isso seria apenas um projeto, e não uma banda. Mas na primeira vez que ouvimos três vocalistas na mesma música, a gente pensou ‘isso realmente funciona’, é um tipo diferente de som, tem bastante dinâmica, ficou bem interessante alternar entre os vocais diferentes. Quando publicamos as músicas no MySpace em 2008 as pessoas receberam calorosamente. Então pensamos ‘se as outras pessoas gostaram, e a gente achou legal, então deveríamos formar uma banda com três vocalistas’.
Roadie Metal: Como foi a ideia de convidar Noora Louhimo para participar da música “Strong”?
Olof: Somos grandes amigos há um bom tempo, conhecemos eles (N.R.: Battle Beast, banda que Noora é vocalista) quando começamos a turnê do “The Nexus” na Finlândia, tocamos em um monte de festivais e em vários shows juntos, e toda as vezes que nos encontramos é bem divertido. Também considero Noora como uma das melhores vocalistas de metal entre as bandas mais jovens. E éramos para fazer a turnê americana juntos, então posso garantir que temos uma ótima cooperação e que essa turnê será um pacote completo. Então a convidamos para participar do álbum antes mesmo de saber que a Covid-19 ia nos impedir de fazer essa turnê. E ela arrasou e se divertiu bastante colocando a voz dela no disco.
Roadie Metal: Como você acha que vai ser a indústria da música após a pandemia?
Olof: Acho que vai mudar muita coisa, primeiramente, muitas bandas e casas de shows acabarão caindo fora, porque não conseguirão se manter, o que obviamente é muito triste. Mas do lado positivo, quando as bandas puderem entrar em turnê de novo, principalmente na primeira metade do ano, ou no primeiro ano, acho que o público estará bem animado por estar de volta aos shows, e mal posso esperar por isso, principalmente depois de tanto tempo fora dos palcos. E também acho que muitas bandas, e muitas pessoas que trabalham na indústria da música, eles trarão bastante da sua criatividade, agora enquanto não há possibilidade de entrar em turnê eles tentarão inovar e trazer novas coisas pro palco. Uma vez as bandas estando de volta aos palcos haverá muito entusiasmo, e a cena do metal estará mais forte do que nunca.
Roadie Metal: Como vocês lidam com as críticas dos headbangers old school que não gostam do conceito moderno da banda?
Olof: A gente sabia que haveria esse tipo de reação desde o primeiro álbum, mas acho que tem melhorado ultimamente. No começo acho que 80% achava que o som era “moderno demais” ou “pop demais”, mas acho que nos últimos, quando tocamos nos grandes festivais como o “Wacken Open Air” e “Grasspop”, tem havido um monte de headbangers old school na plateia. A Alemanha é um país com um monte de headbangers old school, e lá a cena costuma aceitar mais hoje em dia. Então, é bom ver que as pessoas estão aceitando melhor, mas sempre haverá um monte de gente que nunca vai gostar do Amaranthe, mas isso é normal, nem todos gostam do que você faz.
Roadie Metal: Qual a sua mensagem para os fãs brasileiros?
Olof: Primeiramente, quero agradecer o apoio, sei que há vários fãs brasileiros que acompanham desde o primeiro álbum. Mas qualquer um dos Brasil que tenha ouvido os álbuns, comprado os álbuns, ou ido no nosso show em São Paulo, queremos realmente agradecê-los pelo apoio, e esperamos ver todos no Brasil o mais breve possível.