O nível de exigência dos fãs do YES é um dos mais rigorosos que existem. Com tanto material de excelência apresentado ao longo de uma larga trajetória que deu os seus primeiros passos no início dos anos 70, a expectativa sempre que é anunciado um novo registro autoral, chega as raias do absurdo. Porque SÓ ASSIM para entendermos o quanto “Heaven And Earth” foi contestado por grande parte da “mais do que exigente’ comunidade do rock progressivo. Mas dissertaremos sobre todo o processo que culminou nesse resultado…
Após a tumultuada saída de Jon Anderson, no final dos anos 2000, os seguidores de várias gerações se “ressabiaram” de forma incisiva. Compreensível, pois não se tratava apenas da saída do vocalista, mas uma das maiores vozes da música mundial e marca-registrada da lendária banda. O competente álbum “Fly from Here” de 2011, com David Benoit assumindo o posto, teve uma surpreendente recepção positiva.
Apesar do fantasma de Anderson continuar BEM presente, pois o mesmo saiu em turnê acústica, provando que a voz (um dos motivos alegados para sua saída) ia muito bem, obrigado. Comparações inevitáveis a parte, Benoit dá lugar em 2012 a um vocalista de uma banda cover do Yes, Jon Davison. O mais incrível é que ele REALMENTE consegue emular rigorosamente o timbre mágico e as linhas vocais de Jon Anderson. É IMPRESSIONANTE!
Seu batismo de fogo foi na turnê “Spring Tour”, onde o YES levou seus fãs ao deleite reproduzindo três discos clássicos na íntegra: “The YES Álbum” (1971), “Close To The Edge” (1972) e “Going For The One” (1977). A banda com o retorno do ex-tecladista Geoff Downes ao posto, se mostrou absurdamente em forma nos palcos, foi um sucesso absoluto! Davison? Aprovadíssimo, recriando de forma rigorosamente igual todas as clássicas passagens harmônicas de Anderson. Fora ter mostrado carisma e simpatia, com um estilo “hiponga/exotérico” que conseguiu cativar os fãs nos shows. Nessa excitação coletiva, já prevíamos a ansiedade quando foi anunciado o próximo álbum de estúdio dos ingleses…
O vigésimo-primeiro álbum do grupo “Heaven And Earth” saiu na metade de 2014 e gerou tanta controvérsia, que até o presente momento foi o último registro do YES. Por mais incrível que isso possa parecer, a assombrosa reprodução vocal de Jon Davison, antes incensada, incomodou. A similaridade altamente precisa com o timbre de Anderson, suscitou o “YES a moda antiga” para os fãs, e não foi o que se propôs… Aliás, não é a primeira vez que o grupo incursiona por uma seara mais comercial e acessível. A questão é que a “pisada no freio” do bardo progressivo, principalmente após uma turnê comemorativa só com clássicos, criou outro tipo de expectativa. A capa com autoria de Roger Dean, artista responsável pelas principais ilustrações da história da banda, também foi um aspecto contribuidor saudosista para esse movimento.
A faixa que repercutiu positivamente de forma quase unânime, foi justamente a que encerra o disco, “Subway Walls”, com quase 10 minutos de duração e alguns improvisos instrumentais em sua estrutura. No restante, as músicas vem estabelecidas no formato de canções, soando mais “redondinhas” que o habitual. A abertura “Believe Again”, apesar de seus 8 minutos, já sinaliza para uma estrutura singela de composição, sem as explosões de outrora. Não há rock progressivo em sua quintessencia clássica, com arranjos grandiosos, passagens intrincadas e solos a exaustão. A intenção foi nitidamente surpreender e sair da zona de conforto. O YES já teve outras inclinações bem mais pop em seu percurso (“90125” e “Big Generator” que o diga!), mas que não foram avaliadas como algo “preguiçoso” ou sem fôlego. Pois é, exatamente o que ocorreu aqui…
O caráter de “música agradável para relaxar” foi defenestrado pela maior parte da massa. Estou naquela porcentagem que não comparou a obra com seus clássicos antigos, e simplesmente embarcou na viagem estabelecida, conseguindo avaliar um bom resultado em sua proposta. Apesar da bela balada “To Ascend”, rememorar em sua estrutura acústica, a soberba “Wonderous Stories” dos áureos tempos. Mas paramos por aí! “Step Beyond”, com teclados “a la AOR’ e belos solos de Steve Howe, seria facilmente um HIT se lançada no início dos anos 80, bastante palatável e bem construída. “In a World Of Our Own”, remete ao Steely Dan e o Supertramp fase “Breackfast in America”. Bem, essa foi a tônica pensada para “Heaven And Earth”. Vale destacar a “produção azeitada” de Roy Thomas Baker.
Já que citamos Howe, realmente é impossível que músicos desse quilate concebam algo RUIM. Portanto, é um disco para se ouvir com o coração aberto e sem apegos nostálgicos. Aliás, o baixo “mais na cara” de Chris Squire, é o grande destaque instrumental do álbum, linhas inspiradíssimas! Pena que acabou soando como uma despedida, já que perderia a batalha para um câncer exatamente um ano depois. Jon Davison obviamente se destaca em seu trabalho vocal e também contribuiu com as letras (ótimas, por sinal!).
Apesar dos pesares, chegou ao número 20 no Reino Unido, a mais alta performance mercadológica da banda desde o álbum de 1994, “Talk”. Também entrou nas paradas dos EUA no número 26, foi bem! Então voltamos a repetir: quer rock progressivo clássico, nem se dê ao trabalho da audição. Agora, simplesmente deseja degustar música independente do gênero proposto, seja bem vindo para um punhado de boas canções. Abaixo “Heaven And Earth” disponível para audição:
Yes – Heaven And Earth
Data de lançamento: 16 de julho de 2014
Gravadora: Frontiers Records
Tracklist:
01 – Believe Again
02 – The Game
03 – Step Beyond
04 – To Ascended
05 – In a World Our Own
06 – Light of the Ages
07 – It Was All We Knew
08 – Subway Walls
Formação:
Jon Davison – vocal
Chris Squire – baixo
Stevie Howe – guitarra
Geoff Downes – teclado
Alan White – bateria