Na década de 90, o W.A.S.P. vinha experimentando com sua música, tentando expandir o seu som. Após o aclamadíssimo “The Crimsom Idol” no começo da década, se seguiram dois discos numa veia mais experimental: “Still Not Black Enough“, que apostou numa sonoridade mais sombria e pesada, e “Kill Fuck Die“, este puxando mais para o rock industrial. Eis que em 1999 Blackie Lawless promete um disco de “retorno às raízes” para fechar o século, e lança “Helldorado“. Mas antes de começar a resenha, deixo uma pergunta no ar: Será que uma banda que teve seu ápice em um disco que buscou expandir seus horizontes musicais necessita de um “retorno às raízes”?

Após uma rápida faixa introdutória narrada, começa a energética faixa-título “Helldorado“. Um rock’n roll turbinado, com riffs de guitarra rápidos que às vezes quase flertam com o Southern, dando uma leve cara de Motörhead à parte instrumental, unido ao vocal típico de Lawless, que invoca a sujeira e rebeldia do Rock’n Roll, porém sem perder a afinação e a melodia. Uma boa faixa, um bom começo, embora um pouco imaturo para uma banda que se aproxima ao fim de sua segunda década de existência. A segunda faixa se chama “Don’t Cry (Just Suck)“, e ela nem precisava existir, pois é exatamente igual à primeira em todos os quesitos. Mesmo estilo de riff, mesmo estilo de refrão (até a progressão de notas parece ser a mesma), mesma estrutura e uma letra horrível que… Comentarei mais sobre mais tarde neste texto. Enfim, a terceira faixa do disco é a “Damnation Angels“, que quebra um pouco da mesmice com um andamento mais cadenciado, mas longe de ser uma balada. Uma energia levemente “épica” dá à canção um ar daqueles hinos de rock de estádio, porém a falta de personalidade impede que a faixa se eleve a tal patamar, parando apenas na “música genérica para tocar durante os créditos de algum filme”.
Agora vejam bem, não é do meu estilo fazer resenhas faixa-a-faixa, porém eu fiz questão de fazer isso para as primeiras três canções deste álbum, pois o mesmo poderia muito bem acabar após a terceira, já que daqui para frente é apenas “mais do mesmo”, no pior sentido possível. Se a segunda faixa já era parecida demais com a primeira, imagine outras sete seguindo exatamente o mesmo estilo.
Não estou exagerando quando digo que este é um dos discos mais repetitivos que já ouvi na vida. A semelhança entre uma música e outra é quase bizarra, é literalmente a mesma ideia se repetindo música após música. Os riffs são indistinguíveis, possuem o mesmo andamento, o mesmo campo melódico, muitas vezes parecem seguir até os exatos mesmos acordes. As melodias vocais nos refrões são praticamente idênticas também, todas seguindo aquele estilo “grito de festa”, que indubitavelmente é divertido quando usado em uma ou outra faixa, mas quando se repete durante o disco todo (enquanto também se repete de quatro a OITO vezes na mesma faixa), fica chato. É como se um comediante passasse um stand-up inteiro repetindo a mesma piada.
E as letras, santo Dio. A faixa “Don’t Cry (Just Suck)” chega a dar nojo, tamanho a imaturidade da mesma, sem contar que a faixa beira o abusivo, vendo que a mesma passa a impressão de narrar o cantor forçando uma mulher a fazer atos sexuais com ele. E não quero nem imaginar o que significa o verso “No, you’re never too young“. Mesmo que minha interpretação da música esteja errada, as letras são simplesmente mal escritas. Em momentos não há nem palavras nas letras, substituindo-as por vocalizações para se encaixar na métrica. Vejam essa estrofe “genial” da faixa “Saturday Night Cockfight“:
“Oh yeah it’s cockfighting saturday
And I say Oh say Oh
All right, I’m gonna fuck or fight
It’s my way, it’s alright tonight“
Não ajuda o fato de 50% das letras serem rimas entre night e high. Sei que pareço estar implicando demais com as letras, mas é extremamente decepcionante ver letras tão imaturas e infelizes saindo da mesma mente que nos trouxe as letras introspectivas e bem-boladas de “The Crimson Idol” e “Still Not Black Enough“. Sem contar que toda essa falação de sexo, drogas e rock’n roll cheira a crise de meia-idade.
E é essa minha opinião final sobre o disco: Uma crise de meia-idade em forma musical. Existem coisas boas aqui, a produção é ótima e os solos de Chris Holmes são eletrizantes como sempre, mas estas poucas qualidades não conseguem salvar o trabalho do mar de mediocridade criativa que permeia o disco inteiro.
Tracklist:
1 – Drive By
2 – Helldorado
3 – Don’t Cry (Just Suck)
4 – Damnation Angels
5 – Dirty Balls
6 – High on the Flames
7 – Cocaine Cowboys
8 – Can’t Die Tonight
9 – Saturday Night Cockfight
10 – Hot Rods to Hell (Helldorado Reprise)
Formação:
Blackie Lawless – Vocal, guitarra base
Mike Duda – Baixo
Chris Holmes – Guitarra solo
Stet Howland – Bateria
Nota: 3,5