Sentai-vos, pois o musical está prestes a tomar início! Acomodem-se da forma que acharem mais confortáveis, pois a peça será um suplício! Mas animem-se! Ela é empolgante, repleta de entremeios, momentos épicos e triunfantes, e outros, proporcionalmente, causticantes. Aqui será replicada a Oresteia, com suas maldições e homicídios, espadas e dissídios, tomem assento na assembleia!
Em sua inacabável inspiração para trabalhar com tragédias clássicas, David DeFeis lidera sua banda Virgin Steele, considerada por muitos como uma das mais injustiçadas do Metal, ao seu nono álbum, The House Of Atreus: Act I, lançado em 1999. Em suas letras, DeFeis começa a dissertar uma história inspirada no clássico grego Oresteia, uma trilogia escrita pelo dramaturgo Ésquilo e que é considerada um dos primeiros exemplos do gênero Tragédia. A mesma trata sobre a maldição que se abate sobre da Casa de Atreu, o rei de Micenas, cujo filho Agamenon fora assassinado, após voltar da Guerra de Troia, com premeditação por sua própria esposa Clitemnestra e de seu amante e primo de Agamenon, Egisto. Tempos depois, os irmãos Orestes e Electra, filhos de Agamenon e de Clitemnestra, planejam e assassinam a própria mãe e seu companheiro, como ato de vingança pela morte de seu pai. Foi preciso a intervenção da deusa Atena para que a paz voltasse a já esfacelada casa de Atreu.
É conhecido entre os fãs da banda que DeFeis nasceu em uma casa repleta de atores e desde cedo teve uma formação com muito conhecimento clássico, incluindo estudos de piano e bacharelado em composição. O interesse de DeFeis por mitologia é tamanho que o mesmo possui uma coleção de espadas, as quais ele usa inclusive em estúdio para criar efeitos sonoros realistas, as quais enriquecem suas tramas musicais. E essas espadas podem ser ouvidas desembainhadas frequente ao se ouvir os álbuns da saga The House Of Atreus.
Musicalmente falando, The House Of Atreus é um dos trabalhos mais complexos da longa discografia do Virgin Steele. Sua primeira parte abarca quase uma hora e vinte minutos de duração com tudo que a rica sonoridade da banda e a criatividade de DeFeis pode oferecer: em 22 faixas (é, é muito!), encontraremos músicas rápidas na levada do Power Metal, faixas mais cadenciadas e contemplativas e interlúdios, muitos interlúdios, ora instrumentais, ora narrativos e/ou dialogados. Para os fãs de Heavy Metal épico, The House Of Atreus é um prato cheio. Para quem não curte tanto álbuns longos e com excesso de efeitos dramáticos, não é um trabalho que até se inicia empolgante, mas que certamente se tornará cansativo. Se serve de curiosidade, a faixa The Fire God foi reaproveitada do álbum Stay Ugly (1986), do Piledriver. Na verdade, na verdade, este álbum foi todo composto pelo próprio David DeFeis, apesar de ele nunca ter sido um integrante oficial desta banda.
Em relação ao álbum anterior, Invictus (1998), o Virgin Steele perdeu o baixista Rob DeMartino, que deixou a tarefa de gravar os baixos para o guitarrista de longa data e fiel escudeiro de DeFeis, Edward Purcino (este sim fora integrante do Piledriver na época de Stay Ugly). A bateria mais uma vez ficou a cargo do monstro Frank Gilchriest, dono de uma resistência impressionante. Suas levadas técnicas em bumbo duplo são um dos grandes destaques da musicalidade do Virgin Steele durante sua passagem por lá, que durou duas décadas.
Mas a grande intenção de David DeFeis ao criar The House Of Atreus não foi somente musicá-la. Todavia, leva-la para os palcos de teatro, apresentando-a como uma ópera, com tudo que se tem direito, com cenários e atores representando cada personagem. Com o apoio da companhia de ópera da cidade alemã de Memmingen e da Landestheater Production, o objetivo de DeFeis foi realizado. Klytaimnestra – The House Of Atreus esteve em cartaz em vários teatros da Europa entre os anos de 1999 e 2001, dando-lhe a credencial de ter sido a primeira ópera Heavy Metal apresentada como tal. Cabe lembrar que em sua versão musical, DeFeis é quem interpreta todas as personagens e dirige toda a grandiosa orquestração.
Pois muito bem, ser aventureiro que usa o Metal como trilha sonora de suas aventuras do cotidiano. Quando estiver de férias (que é quando você terá tempo suficiente), este escriba recomenda fortemente a audição de The House Of Atreus, do Virgin Steele. Isto é, se você ainda não teve esta oportunidade. Falo isso porque, como mencionado no início desta monografia, a banda do incansável DeFeis é uma das mais injustiçadas do Metal, mas é uma ótima alternativa ao Manowar, se você é quadro do partido que entende que a banda de Joey DeMaio nunca foi lá grande coisa ou não lhe satisfaz mais. Se o tempo não lhe for favorável, The House Of Atreus não é uma boa opção de audição.
Nobres espectadores e ouvintes. Amanhã, neste mesmo palco, o Roadie Metal Cronologia, tomará lugar o Ato II desta tragédia. Aguardai!
Fim do Ato I
Interlúdio: a ópera The House Of Atreus serviu de inspiração para um tal de Tobias Sammet criar um projeto chamado Avantasia… Mas aí já é outra história
THE HOUSE OF ATREUS: ACT I – VIRGIN STEELE (T & T Records, 1999)
Tracklist:
01. Kingdon Of The Fearless (The Destruction Of Troy)
02. Blaze Of Victory (The Watchman’s Song)
03. Through The Ring Of Fire
04. Prelude In A minor (The Voyage Home)
05. Death Darkly Closed Their Eyes (The Messenger’s Song)
06. In Triumph Or Tragedy
07. Return Of The King
08. Flames Of The Black Star (The Arrows Of Herakles)
09. Narcissus
10. And Hecate Smiled
11. A Song Of Prophecy
12. Child Of Desolation
13. G minor Intervention (Descent Into Death’s Twilight Kingdom)
14. Day Of Wrath
15. Great Sword Of Flame
16. The Gift Of Tantalos
17. Iphigenia In Hades
18. The Fire God
19. Garden Of Lamentation
20. Agony And Shame
21. Gate Of Kings
22. Via Sacra
Line-up:
David DeFeis: Vocais, teclados, orquestração, efeitos
Edward Purcino – Guitarras, contrabaixo
Frank Gilchriest – bateria