INTRODUZINDO: Estamos diante de um dos nomes mais fortes dentro do cenário da música extrema mundial: VENOM, que sempre foi e sempre será um ícone dentro do segmento, a que chamam Black Metal – apesar do som dessa banda em nada ou muito pouco se assemelhar à grande massa que compõe atualmente o cenário – carregando muito mais características do Thrash Metal. Destacar a importância da banda e sua contribuição para a disseminação “do Mal na música“, bem como influenciar diretamente na gênese da avalanche de “hordas negras” que teríamos difundida dentro de poucos anos, não significa afirmar que “o trabalho do VENOM é algo obrigatório, muito menos imperdível”.
Particularmente (e quando uso essa palavra, estou frisando que trata-se DA MINHA OPINIÃO), o pouco que conheço do trabalho desse “ícone” é extremamente o suficiente – a saber, conhecia os três trabalhos que antecedem o disco que trataremos hoje, “POSSESSED“, lançado em Abril de 1985. E se os maiores clássicos da referida banda, “Welcome to Hell”, “Black Metal” e “At War With Satan” já soavam tenebrosos aos meus ouvidos (tenebrosos no sentido literal da palavra, não como um elogio a’la Addams), “POSSESSED” conseguiu aniquilar de vez qualquer chance de um dia “EU” conseguir desfrutar de algum “prazer sonoro” ouvindo VENOM. Neste ponto, tendem a brotar os comentários mais meticulosos: “mas black metal não tem o objetivo de gerar prazer sonoro, trata-se de caos e destruição, sangue, satanismo”, e mais um monte de “mimimi”. Perdoem-me, caros compatriotas, mas, música é sim um “prazer” – é alimento inter-dimensional ao espírito, é clamor à alma, é vibração energética ascendente à carne, seja o que for, não trata-se apenas de “mero barulho”. E bem, o que eu presencio aqui, é exatamente o último, ou seja – serve apenas para “pancadaria e mosh” – nada pelo qual me interessaria em aprofundar-me.
RELEASE: Venom é uma banda de thrash / (black) metal inglesa, formada em 1978. Proveniente do NWOBHM, a formação clássica da banda era composta por Cronos (voz e baixo), Mantas (guitarra) e Abaddon (bateria).
O estilo inovador do Venom, com um som muito pesado para a sua época, o vocal ríspido de Cronos, o ritmo veloz e as letras satânicas, fizeram a banda se destacar no cenário mundial consagrando-os um dos grupo mais conhecidos e importantes do metal dos anos 80 – pelo menos, um dos mais comentados… Seus dois primeiros álbuns, “Welcome to Hell” e “Black Metal“, tornaram-se referência no gênero e são considerados os primeiros discos de “metal extremo” lançados. Sua influência sobre o Thrash Metal – do qual também recebem crédito pela criação – e sobre o metal em geral foi tamanha, que seu segundo disco deu nome ao subgênero “Black Metal“.
DISSECANDO O DISCO: a abertura do disco fica por conta de ‘Powerdrive‘ que, assim como ‘Flytrap‘ e ‘Satanachist‘, são extremamente “barulhentas” e rápidas. O shape das três composições soa bem semelhante entre si, sem pontos altos a serem destacados (com a exceção dos ruídos infernais que precedem a terceira faixa). A quarta faixa – ‘Burn This Place (To The Ground)‘ – se inicia muito semelhante a primeira: uma saraivada de bumbos, uma locomotiva abrindo caminho, quando os instrumentos e vocal pulam num vagão e pegam uma carona. A primeira impressão, é a faixa que mais se assemelha a um Motorhead. Impressão… Já ‘Harmony Dies‘, a seguinte, confirma a forte influência advinda da banda de Lemmy. O trabalho de guitarra no solo desta faixa é o único produto que consigo destacar até o momento. A faixa que dá nome ao álbum chega. Coincidentemente, é a faixa de número “6”. A atmosfera criada em seu prelúdio foi bem bolada, transpassando ao ouvinte um clima sombrio e frio. Destaque para os “lamentos” de Cronos (que mais parece um psicótico…) no final da track. Este “incremento” tornou-se marca registrada dele. Verdadeiramente, ‘Possessed‘ é a faixa destaque do disco: trabalhada, com muitas nuances, progressiva, a primeira com uma duração decente (4:50min), como o Diabo gosta. (… o Diabo é meu, e o meu Diabo gosta assim).
Estamos praticamente na metade do disco (que contém 13! músicas) e, como já relatado anteriormente, nada de “surpreendente” até aqui, com exclusivo “destaque” – por assim dizer – para a faixa homônima do disco. ‘Hellchild‘ resgata a essência do disco (se não, em suma, da banda como um todo), de sonoridade ríspida e fugaz. Assim também se apresentam suas sucessoras, ‘Moonshine‘, ‘Wing And A Prayer‘ (que a propósito é a única instrumental do disco) e ‘Suffer Not The Children‘. Excluindo-se a faixa instrumental (que se diferencia das demais apenas por ser desprovida de vocais) podemos conjecturar essas três canções em um bloquinho, como “três irmãs”, pela grande semelhança que apresentam. Senti neste “bloquinho” uma pitada de “punk/rock”… Pode ser impressão apenas, contudo, não havia degustado tal sabor nas faixas anteriores. O fato é que pela volatilidade das músicas, em uma audição mais distraída você pode perder uma faixa sem perceber – piscou, e já se passaram seus dois minutos e pouco de duração. ‘Voyeur‘ da prosseguimento: “mais uma do mesmo”, sem apontamentos.
Eis que de repente, na faixa 12(!) do disco, algo interessante surge! Tambores tribais (até que enfim algo que foge ao caixa-bumbo-thrash demonstrado até o momento!) se mesclam a uma massa sonora atmosférica, vocais angelicais (ou diabólicos?) tingem o tecido da mesmice de vermelho sangue. ‘Mystique‘ tem pegada, tem feeling, tem harmonia. O riff principal da música é sem dúvida o que temos de melhor neste disco. Novamente, o Diabo se alegra e aponta o segundo destaque do disco. O baixo nessa música é apavorante (pela segunda vez, assim como em ‘Possessed‘, conseguimos distinguir as notas, visto que geralmente trata-se apenas de uma chuva de granizo). Plena atenção no solo dessa track, que dá as caras apenas no final… e concluí o trabalho da música com chave de ouro!
Faixa 13, a última – temos que contar, porque do contrário, provável se perder em meio ao milharal. ‘Too Loud (For The Crowd)‘ apresenta alguns elementos interessantes, que fornecem base necessária para climatizar a música. Arriscaram um breakdown, que quase colou, e no final, algo que se assemelha a um disco ao vivo. Jeito estranho de terminar o disco, porém, algum crédito pela originalidade. A versão “deluxe” do disco trás mais seis faixas, totalizando 19 faixas em um LP duplo. Por hora, deixamos assim que está de bom tamanho, afinal, o que contamos aqui é o álbum em si lançado em sua época.
CONCLUSÃO: Mesmo sendo o Venom o precursor de bandas que estimo grandiosamente, como Sodom, Kreator, Slayer, e no mais, os grandes nomes do Thrash Metal, bem como do Black Metal que se originariam futuramente; reconhecendo – mais uma vez – sua importância para estes acontecimentos que, do contrário, sem sua existência, sequer poderiam ter ocorrido; tenho comigo que o som “original” desses caras, não me é tragável. Obviamente, há as músicas que se destacam, que até agradam, mas, não possuem o poder suficiente para tornar sua audição uma rotina em minha vida. Pela enésima vez, esclareço que isso se trata de uma QUESTÃO PESSOAL, meu gosto pelo trabalho musical apresentado. Portanto, em “POSSESSED“, sugiro apenas a faixa título e ‘Mystique‘, as duas mencionadas anteriormente e, para seu comodismo, com os respectivos links do Youtube devidamente elencados.
NOTA: equilibrando os pontos altos e baixos, deixo registrado meu 5,0 – percebi que as faixas que me agradaram, em verdade, são as “experimentais” da banda, e que as demais, que pouco chamaram minha atenção é que verdadeiramente carregam o estilo do VENOM. Por isso, eu que “estou fora do barco”.
CURIOSIDADE: O Engenheiro de Som do VENOM, Keith Nichol, tinha dado algumas camisas da banda para seu irmão, Richie Nichol. Richie levou para casa e sua filha colocou uma e, em seguida Richie e um fotógrafo, mais tarde, sugeriram para Abaddon, que eles pegassem a filha de Richie e o filho de Abaddon, que eram quase da mesma idade, e os vestissem com as camisetas do “Welcome To Hell” para uma sessão de fotos. Então foram tiradas e um dos negativos das fotografias foi utilizada na capa do álbum.
Faixas:
1.”Power Drive” 03:16
2. “Flytrap” 03:49
3. “Satanachist” 02:43
4. “Burn this Place (to the Ground)” 02:42
5.”Harmony Dies” 02:42
6.”Possessed” 04:51
7. “Hellchild” 02:40 “
8. Moonshine” 03:19
9. “Wing and a Prayer” 02:47
10. “Suffer Not the Children” 03:07
11. “Voyeur” 03:01
12. “Mystique” 04:58
13. “Too Loud (for the Crowd)” 03:02
Formação no disco:
Cronos (Conrad Lant) – baixo, vocais
Mantas (Jeff Dunn) – guitarra
Abaddon (Tony Bray) – bateria