Aos trancos e barrancos, o Venom nunca parou. Esteve sempre em atividade, embora a popularidade tenha sido bem afetada. Alguns discos chegam a ser bem obscuros, desconhecidos por muitos fãs, como “The Waste Lands”, de 1992, que sequer ostenta o logotipo na capa.
Uma retomada dos trilhos ocorreu em 1997, quando o álbum “Cast In Stone” trouxe a formação clássica de volta, mas essa, na sequência dos anos, foi novamente se desfazendo até o momento de Cronos permanecer como o único integrante original, prosseguindo com novos companheiros para completar a sua blasfêmica trindade.
Então, chegamos em “Metal Black”, de 2006. Facilmente se deduz que o título e a capa buscam referenciar o maior clássico de sua discografia, o álbum “Black Metal”, de 1982, um dos discos mais influentes do Metal e que deu o nome a um subestilo que tomou proporções imensas. Não considero, porém, que seja o caso de comparar um com o outro. Cronos batiza a sua obra da forma como quiser, mas, pessoalmente, acredito que a grande maioria dos artistas que utilizam recursos dessa natureza, ou que, depois de muitos anos, resolvem lançar a Parte II ou Parte III de trabalhos consagrados, acaba por falhar miseravelmente em suas pretensões. Então, “Metal Black” será visto e apreciado como o trabalho individualizado que é, cujo único fator de parâmetro será a sua afinidade com a assinatura musical que o Venom cravou na música pesada.
Tendo o irmão de Cronos, Antton, na bateria, e o guitarrista Mykus, que já havia sido um dos substitutos de Mantas em 1987, no disco “Calm Before The Storm”, “Metal Black” inicia muito bem, com a faixa “Antechrist”, onde percebemos um Venom longe de estar descaracterizado. A produção, nessa fase, está melhor, mas não relega a indispensável sujeira. A próxima música, “Burn In Hell”, abre com as batidas de Antton e é uma das mais empolgantes, com um refrão matador!
“House of Pain” é pesadona e tem uma interpretação vocal de Cronos carregada de malignitude, sendo bem superior à condução retilínea de “Death & Dying”. O riff de “Rege Satanas” bebe na fonte das origens da NWOBHM e cria um ótimo clima de variedade dentro do álbum, pena que “Darkest Realm” soe absolutamente desnecessária, salva apenas pelo solo de Mykus.
“A Good Day To Die” representa bem o Venom atual, com mais técnica em suas composições e fecha a primeira metade do tracklist, somando, até agora, mais pontos positivos do que negativos. O que foi dito sobre técnica pode ser reproduzido para descrever “Assassin”, outra faixa carregada de força e impulso headbanging.
“Lucifer Rising” evidencia novamente o peso e tem um bom trabalho de Antton na condução dos pratos durante a base das estrofes. “Blessed Dead” começa empolgando, mas as partes de seu arranjo não parecem se acomodar bem dentro da mesma música, deixando-a muito truncada. Nesse ponto, o disco cai em qualidade, pois “Hours of Darkness” e “Sleep When I´m Dead” podem ser classificadas apenas como corretas.
A melodia vocal do refrão de “Maleficarvm” lembrou-me parcialmente a clássica “Manitou”, mas a faixa prossegue para um caminho totalmente diverso dessa referência. A última música, “Metal Black”, pisa fundo no acelerador e podemos identificar algumas citações à sua irmã inversa dentro da melodia. Em conclusão, a nossa percepção é de que “Metal Black” cresceria como obra caso tivesse deixado algumas de suas catorze faixas de fora. Há um número satisfatório de boas músicas, mas aquelas que estão aquém do necessário contribuem apenas para fazer o disco mais longo do que deveria, deixando a impressão final de algo cansativo. Infelizmente, temos que considerar o que ele é, e não o que poderia ter sido. “Metal Black”, apesar de seu potencial, repousa num ponto entre o mediano e o bom.
Venom – Metal Black
Data de lançamento: 27/03/2006
Gravadora: Castle/Sanctuary
Tracklist
01 Antechrist
02 Burn in Hell
03 House of Pain
04 Death & Dying
05 Regé Satanas
06 Darkest Realm
07 A Good Day to Die
08 Assassin
09 Lucifer Rising
10 Blessed Dead
11 Hours of Darkness
12 Sleep When I’m Dead
13 Maleficarvm
14 Metal Black
Formação
Cronos – baixo, vocal
Mykvs – guitarra
Antton – bateria