Roadie Metal Cronologia: Uriah Heep – Living The Dream (2018)

Em 1970, um ano após sua formação, o Uriah Heep lançava o seu primeiro álbum, “…Vey ‘Eavy… Very ‘Umble”. A recepção manifestada pela revista Rolling Stone, através da redatora Melissa Mills, entrou para o anedotário da história do Rock. Melissa afirmou que cometeria suicídio caso aquela banda fizesse sucesso.

Espero sinceramente que Melissa esteja bem, e que tenha aprendido a medir certas palavras, mas a realidade é que aquela banda atravessou décadas e acumulou fãs, perfazendo cinquenta anos de carreira e totalizando a marca de 24 álbuns de estúdio, cujo mais recente exemplar é este “Living The Dream”, de 2018.

A primeira impressão surge necessariamente da capa e esta é absolutamente eficiente em sua simplicidade. Uma imagem da silhueta dos músicos encarando uma imensa lua cheia. Todos sabem o fascínio que nosso satélite natural exerce quando tem sua face plenamente iluminada e o resultado obtido na ilustração não poderia ser distinto.

Na esteira do efeito inebriante dessa imagem, somos despertos pelas batidas de Russell Gilbrook na abertura do disco. “Grazed By Heaven” é uma canção instigante, que encontra o seu merecido lugar dentro do catálogo da banda e, logo de cara, entrega a primeira dobradinha de guitarra/teclado nos solos de Mick Box e Phil Lanzon.

No decorrer das músicas perceberemos que o Uriah Heep, diferentemente do que realizou em “Wake The Sleeper”, não procurou se apoiar tanto na utilização daqueles específicos detalhes de composição e arranjo que fazem sua marca registrada. Sua identidade permanece, mas a banda desconsidera qualquer zona de conforto em proveito de canções fortes e modernas, mantendo o olhar voltado para o futuro. Escutar o Heep atual é ter contato com veteranos que parecem estar em permanente estado de renovação de sua obra, para os quais a mera suposição de uma “turnê de despedida” soaria disparatada. Gilbrook tem sua responsabilidade dentro dessa vitalidade coletiva do quinteto e, a sua parceria com Davey Rimmer, substituto do saudoso Trevor Bolder nas quatro cordas, tem se mostrado íntegra e criativa.

Por vezes, o timbre do vocalista Bernie Shaw tangencia para algo semelhante ao de Ian Gillan, do Deep Purple. Não é uma constante, mas pode ser percebido durante as místicas linhas de estrofe da faixa-título. A canção seguinte, “Take Away My Soul” varre essa sensação para longe, graças ao seu forte apelo de hit e a apaixonante citação à melodia da clássica “July Morning”, que parece ter sido ali inserida apenas para aquecer o velho coração de fã!

“Knocking At My Door” mantém o carisma elevado, mas o que surge na sequência é um dos momentos mais elevados de um disco repleto deles: “Rocks In The Road” começa bem, mas, o que ela apresenta de especial, inicia no trecho que corresponde à metade de seus oito minutos. A partir desse ponto, a dupla Gilbrook/Rimmer será a condutora de uma levada que irá agregando guitarra, depois teclado, e prosseguirá em um crescendo instrumental que absorverá o próprio ouvinte, tragando-o e fazendo com que se perca dentro da estrada sonora aberta pela banda.

Se o disco terminasse aqui, já teria cumprido seu papel. Foi pertinente a inclusão de uma faixa mais calma como “Waters Flowin”, para que pudéssemos nos reencontrar dentro do processo de audição. Restabelecidos, estamos em condição de apreciar a canção “It´s All Been Said”, uma das que melhor se comunica com o material antigo, principalmente na rítmica de seu riff principal, cujas paradas parecem remeter à estrutura da antológica “Gipsy”, do primeiro disco. “Goodbye To Innocence”, por outro lado, torna a percorrer a linha purpleana de atuação.

Passando pela impulsividade de “Falling Under Your Spell”, chegamos ao final com a balada “Dreams Of Yesteryear”, que termina com uma melodia que se repete e nos traz uma doce sensação de despedida, mas não se preocupe. Foi apenas o disco que terminou. O Uriah Heep prossegue e continua. Não há, afinal, como duvidar da longevidade de uma banda que grava um álbum tão bom como “Living The Dream”!

Uriah Heep – Living The Dream (Frontiers Records, 2018)

Músicas

01 Grazed By Heaven

02 Living The Dream

03 Take Away My Soul

04 Knocking At My Door

05 Rocks In The Road

06 Waters Flowin

07 It’s All Been Said

08 Goodbye To Innocence

09 Falling Under Your Spell

10 Dreams Of Yesteryear

Formação

Mick Box – guitarra, vocais

Phil Lanzon – teclado, vocais

Bernie Shaw – vocais

Russell Gilbrook – bateria

Davey Rimmer – baixo

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