Com então quase 20 anos de carreira nas costas, o Power Trio Irlandês lança seu décimo trabalho de estúdio.

Percebe-se que apesar de não estar flertando mais com Mainstream do rock mundial, os caras se mantiveram produtivos, ativos e em ação.

Crooked Timber é de certo modo um mix de tudo que fizeram até então. Para quem tem acompanhado a Cronologia da Roadie Metal vai perceber e concluir que o experimentalismo domina seus trabalhos, e que apesar de haver uma ou outra coisa mais comercial no seu já extenso catálogo, o Therapy? não busca mais aceitação de ninguém (se é que um dia buscou).

Mostrando muita personalidade e sem preocupações com a crítica, o Therapy? continua a fazer um som para agradar a si mesmos, e dentro desta proposta, quem gostar OK, quem não gostar que seja feliz ouvindo qualquer uma dessas bandas de Britpop.

Em Crooked Timber encontramos três coisas certeiras, baixo, bateria e guitarra. E mesmo que você não seja fã desse estilo (post punk/modern rock/noise) há de se concordar que a atitude dos caras continua vigente.

O Therapy é daquelas bandas que mostraram o “dedo do meio” para a industria fonográfica junto a um sonoro “I DON’T GIVE A FUCK”.

Nada bonito ou ajustado, como sugere o título do álbum, algo como “Madeira Torta” (em tradução livre) que não tem como consertar.

Cheio de ironias paradoxais, o álbum já abre chutando tudo com The Head That Tried to Strangle Itself (ou se preferir, A Cabeça Que Tentou Se Estrangular). Um riff de guitarra crua, parece dar eco na sua repetição e quando entra o baixo a impressão de eco aumenta ainda mais, e se você acompanhar a letra perceberá que ela aborda alguém com graves problemas emocionais. A linha de baixo lembra bastante “Blue Shot” do Jesus Lizard.

Enjoy the Struggle traz o baixo no estilo Jesus Lizard ( como em todo o álbum) e com bateria do Neil Cooper que intercala o básico (Caixa-chimbal) com ritmo percussivo quebrado. A voz do Andy está perfeita (no melhor estilo Cairns de cantar) um solo de guitarra meio jazz que lembra os áureos tempos do Page Hamilton (do Helmet) que abusava na distorção em seus solos desconexos.

A pegada “Noise” se mantém presente em “Clowns Galore” que não passa de um post punk fuleira ,mas bacana.

Impressionante o timbre do baixo do McKeegan, inclusive, sugiro ouvir com um bom fone de ouvidos e graves vívidos para uma melhor experiência na viagem que é “Exiles”. Nada de comercial nesta faixa, que aliás, pode parecer monótona aos desavisados, mas quem curte instrumentos bem tocados, principalmente este baixo que é tocado de maneira impecável com a utilização de palhetas, o que deixa o som “tão pesado quanto cristalino”.

A música de trabalho desse álbum foi a que deu nome ao mesmo. Em “Crooked Timber” recebemos uma melodia hipnótica e psicodélica, onde cabe até mesmo um poema e que através da angústia percebe-se que alguém querido se foi (provavelmente a criança que aparece no vídeo abaixo), e que através de metáfora, subentende-se que infelizmente não temos poder para alterar o destino que nos é traçado.


Em Blacken the Page o clima mais denso é quebrado com uma música rápida e curta, porém o conteúdo de questionamento e tristeza prevalece nas letras.

Após uma faixa curta eles resolveram mostrar uma longa viagem experimental em “Magic Mountain” que mais parece um “trilha branca” instrumental, sem muita relevância a não ser o experimentalismo.

Esse álbum não se tornou um sucesso comercial (óbvio), porém, com certeza os velhos fãs que acompanham a banda desde seus momentos de maior destaque na mídia, ficaram felizes com mais esse registro de respeito na carreira dos Irlandeses.

Além dos destaques mencionados acima, o que chama muito a atenção é a produção da gravação de Crooked Timber por Andy Gill, que fez um trabalho impecável, principalmente no som do contra baixo. Formidável.

Não há como negar que seria bacana ver o Therapy? novamente nas paradas de sucesso, com espaço na mídia, como aconteceu entre 1994 e 1995 com os lançamentos de Troublegum e Infernal Love respectivamente. Porém, me sinto feliz por estes dois álbuns terem me apresentado essa banda que ainda é uma das minhas favoritas.

Nota: 7,0

Crooked Timber – Therapy?
Data de lançamento: 23 de março de 2009
Gravadora: Demolition Records

Tracklist:

01 – “The Head That Tried to Strangle Itself”
02 –“Enjoy the Struggle”
03 – “Clowns Galore”
04 – “Exiles”
05 – “Crooked Timber”
06 – “I Told You I Was Ill”
07 – “Somnambulist”
08 – “Blacken the Page”
09 – “Magic Mountain”
10 – “Bad Excuse for Daylight”

Line Up:

Andy Cairns – vocais, guitarra
Neil Cooper – bateria
Michael McKeegan – contra baixo