Os britânicos do The Cult adentravam a década de 90 com um respaldo impressionante. Era incrível como conseguiam cativar fãs dos subgêneros mais díspares dentro do rock. Passou pelo pós-punk (“Dreamtime”, 1984), dark wave ( “Love”, 1985), carregou em ares setentistas (“Electric”, 1987), sendo Ian Atsbury alçado a comparação definitiva com Jim Morrison, e o clássico absoluto “Sonic Temple” (1989), um verdadeiro “liquidificador” de todas essas influências. E conseguia respeito de grande parte desses pares, em uma época que ser integrante radical de uma tribo urbana, era fórmula “sine qua non” de idolatria basicamente exata.
O ano de 1991 foi um dos mais emblemáticos da história da música. Com o advento da MTV pelo mundo, tivemos uma sucessão de obras-primas alçadas até hoje como fundamentais para suscitar movimentos e colocar bandas e artistas definitivamente no Olimpo! Alguns exemplos: a trinca impulsionadora do movimento grunge, “Nevermind’ (Nirvana), “Ten” (Pearl Jam) e “Batmotorfinger” (Soundgarden); “Black Álbum” (Metallica); “Use Your Illusions” 1 e 2, do Guns N’Roses; “Blood Sugar Sex Magic” (Red Hot Chilly Peppers”); “No More Tears” (Ozzy Osbourne); “Out of Time” (REM); “Achtung Baby” (U2), UFA! Só esses multiplatinados citados, são responsáveis por mais da metade de discos vendidas pelo mundo nesse ano…
Talvez seja por isso que um trabalho tão consistente como “Ceremony”, tenha sido ofuscado a ponto de não figurar nessa lista. Mas também temos outro fator a destacar. Em “Sonic Temple”, o The Cult já sobressaia uma influência maior de hard rock mais pesado e vigoroso. Podemos dizer que foi uma transição natural, mas o fato é que muitos se surpreenderam com a guinada sonora, até porque o gênero estava definitivamente em seu último suspiro em termos de mainstream (o ano de 91 veio para “cravar” isso). E “Ceremony”, é definitivamente um disco de hard rock. Aliás, um GRANDE DISCO do estilo!
Apesar de não ter a mesma visibilidade e repercussão (só chegou ao número 25 da parada americana) que o anterior, foi muito bem recebido particularmente no cenário rock. A coesão do álbum impressiona (impossível saltar faixas!), o nível se mantinha altíssimo. A MTV divulgava baladas em profusão em sua rede, mas “Heart Of Soul” e “Sweet Salvation” eram exemplos de que pode-se “pisar no freio” sem apelar para formulas fáceis e açucaradas. Duas incisivas canções, aliás as que tiveram maior “reverberação” popular nesse registro. Na mesma vibe, só que mais pesada, “If”, é um primor na mesma intensidade!
Algo nada comum ao The Cult se faz presente em “Ceremony”: músicas mais longas e de ares progressivos! E fica nítido a evolução técnica e artística nos petardos “Wonderland” e “White”, com solos magistrais de Billy Duffy e Ian Atsbury cantando como nunca. E esse resultado com o clima entre eles não estando nada favorável, optaram por gravar suas partes separadamente em momentos diferentes. É realmente impressionante que tenha dado tão certo!
Claro que o título do álbum, aliada a belíssima capa (foram processados pelo pai do menino retratado, e perderam 61 milhões de dólares) não era em vão… Temos um mergulho incessante na cultura indígena americana, e isso fica explícito na faixa-título e em “Wild Hearted Son”. Além das letras, introduções de algum ritual tribal ou celebração xamanica se fazem presente, com dois “rockões de arena” perfeitos para levantar massas em aberturas de show. A poesia de “Indian”, sobre uma nativa “esperando sua penitência na beira de uma estrada“, é uma das coisas mais belas que a banda já produziu.
De resto, é uma excelência hard rock de primeiríssima, e com mais peso do que o grupo já tinha apresentado até então. O trabalho nos riffs é irresistível, todos sedutores e empolgantes! “Earth Mofo”, a “sabbathiana”, “Bangkok Rain”, o blues-rock a la “AC/DC anos 70” de “Full Tilt”, com levada funk que surpreende… Figura facilmente entre os melhores da banda com certeza, apesar de dividir a preferência dos fãs. Aliás, muitos surgiram a partir desse disco, especialmente os amantes de possibilidades mais pesadas. Aqueles que apreciavam as texturas mais góticas, torceram o nariz. É o preço que acaba se pagando em mudanças sonoras e visuais dessa extirpe.
The Cult – “Ceremony”
Data de Lançamento: 24 de setembro de 1991
Gravadora: Beggars Banquet Record
TrackList:
1. Ceremony
2. Wild Hearted Son
3. Earth Mofo
4. White
5. If
6. Full Tilt
7. Heart of Soul
8. Bangkok Rain
9. Indian
10. Sweet Salvation 11. “Wonderland
Formação:
Ian Astbury – voz
Billy Duffy – guitarras
Charles Drayton – baixo
Mickey Curry – bateria