O ano era 2000, e o The Cult, sob a batuta de Ian Astbury já havia estado por 6 anos sem lançar material novo. Nesse ínterim, saíram da gravadora Sire Records, dos Estados Unidos e assinaram com a também americana Atlantic Records. Além disso, houve uma profunda mudança no line up da banda, com a saída do baixista Craig Adams e do baterista Scott Garrett, restando apenas o próprio Astbury e o guitarrista Billy Duffy. O The Cult estava entrando novamente em estúdio para um novo álbum, o sétimo de sua discografia. Além de Astbury e Duffy, o produtor seria de novo Bob Rock.
“Beyond Good and Evil”, lançado em 5 de junho de 2001, marcou o retorno de Matt Sorum, na bateria. O músico, que já havia integrado o The Cult entre os anos 89 e 90, durante a tour do álbum “Sonic Temple” e logo depois integrou o Guns N’Roses, estava de volta para gravar este novo álbum. Já as linhas de baixo foram revezadas entre Chis Wyse (faixas 1-4, 6-9, 13) e Martyn LeNoble (faixas 5, 10-12). Em relação ao nome do álbum, Ian Astbury chegou a revelar que sua preferência era por “Demon Process”, porém ainda se chegou a cogitar chama-lo de “bring me the Head of Dave Grohl”, até que o nome fosse definitivamente escolhido. “Beyond good and evil” era uma referência ao livro de mesmo nome escrito pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche, em 1886. Outras alternâncias de nomes marcaram algumas faixas do álbum. A faixa “My Bridges Burn” originalmente se chamava “Save me”. Também “Breathe” tinha um nome mais longo “Breathe (You Bastard)” e além disso, possuía um overdub de teclados após o solo de guitarra, que foi removido. “Speed of Light” teve vários nomes antes de ser decidida, como “Black California”, “Who plays the Devil”, entre outros.
3 músicas do álbum foram lançadas como singles, “Rise”, que costuma entrar em listagens de melhores músicas da banda, “Breathe” e “True Believers”, porém, apenas “Rise” foi lançada como single oficial. Além das 12 faixas regulares, algumas versões trazem mais 3 faixas bônus. “Libertine”, foi lançada somente na Austrália e Japão, “Wild Child” e “In the Clouds” foram lançadas na Rússia e no leste europeu.
O que podemos dizer sobre a musicalidade de “Beyond Good and Evil”? Basicamente a banda soou como ela própria, mantendo o estilo que a tornou conhecida, com seu característico hard rock obscuro, por vezes tentando soar mais metal clássico. Não há dúvidas em que os maiores destaques sejam a voz de Ian Astbury e as guitarras de Billy Duffy, embora Matt Sorum não faça feio, afinal é um grande baterista. Mas, tudo isso que eu acabei de dizer não significa que o trabalho seja depreciado, longe disso.

A faixa de abertura é “War (The Process)”. Ela começa meio difusa, mas logo mergulha num instrumental bem pesado, com um riff insano. Ótimo vocal e linha de guitarra intensa e obscura. Um belo cartão de visitas. “The Saint” traz um efeito telefônico nos vocais, nos momentos iniciais. É também intensa, mas não tanto quanto a faixa de abertura. “Rise”, o single oficial é a terceira faixa, e começa com um riff bem sujo. Uma faixa com andamento rápido e pesado, com um clima incendiário. Traz um solo animalesco. “Take the Power” já é menos intensa e cadenciada, embora mantenha o peso.
A quinta faixa, “Breathe”, também lançada como single é uma das poucas faixas que trazem na composição outros nomes além de Ian e Billy. O início lento e cheio de efeitos acaba por enganar o ouvinte, que espera por uma balada. Ledo engano, pois é uma faixa mais lenta sim, porém pesada, com solos curtos, mas grandiosos. Matt Sorum também faz um ótimo trabalho nas linhas de bateria. Agora sim, com “Nico” temos uma balada, por assim dizer, que lembra algumas músicas do U2. “American Gothic” traz uma abertura animal da bateria, mas não é tão pesada quanto parece nos momentos iniciais e alterna entre velocidade mais lenta e mais rápida, com efeitos vocais. “Ashes and Ghosts” fecha o bloco intermediário, que traz as melodias menos intensas, embora pesadas. Bob Rock entra como co-autor. Segue o mesmo padrão que as anteriores. O solo é intenso, curto e sujo.
“Shape the Sky” abre a última parte do play, dando uma acelerada no ritmo, com um andamento até um pouco diferente das demais. “Speed of Light”, também trazendo Bob Rock como co-autor, alterna momentos mais calmos com outros mais pesados e traz um belo solo, mais limpo. Ian abusa dos vocais, até com sussurros entre momentos mais intensos. “True Believers” é a faixa mais longa, ultrapassando os 5 minutos. Aqui temos uma balada, sempre no estilo The Cult, lógico, ou seja, mais lenta, porém não tão melódica como as baladas tradicionais. O álbum se encerra com “My Bridges Burn”. Claro, que tinha que ser uma música intensa, pra que o ouvinte ficasse com a sensação de ter ouvido um álbum grandioso. A música é bem acelerada, mais puxada pro hard rock. Serviu bem para o papel de encerramento.
E antes de deixar meu parecer final, vamos analisar as 3 faixas bônus. “Libertine” faz uma ótima dupla entre guitarra e bateria. O riff é interessante, conferindo a ela um andamento gostoso e o solo é curto e intenso. “Wild Child” é um cover do The Doors, originalmente lançado no álbum “The Soft Parade” (1969). Aqui, a versão traz vários efeitos, com instrumentos nativos. É um hard rock mais leve, por assim dizer, em relação às demais faixas, com um ar festivo. Finalmente temos “In the Clouds”. Destaca-se aqui o trabalho das guitarras. A música traz ainda uns efeitos eletrônicos em alguns momentos.
Embora eu já tenha comentado um pouco sobre as minhas impressões da audição de “Beyond Good and Evil” num parágrafo mais acima, podemos complementar dizendo que este é um álbum maduro, coeso, intenso, que não necessita provar nada pra ninguém, mesmo levando tanto tempo para ser lançado. E não há o que dizer de ruim sobre a produção de Bob Rock. Tudo o que se ouve aqui é o The Cult como o The Cult. Arranjos sujos, muita intensidade nos vocais, etc. O álbum estreou na 37ª posição nos EUA, em 22º no Canadá e em 25º na Espanha, o que é bastante elogiável. Várias músicas presentes no álbum poderiam figurar entre as melhores da banda. Sem dúvida, é um álbum acima da média, valendo muito a sua audição.

Data de Lançamento: 05/06/2001
Gravadora: Atlantic Records
Tracklist:
01. War (The Process) (04:12)
02. The Saint (03:36)
03. Rise (03:39)
04. Take the Power (03:55)
05. Breathe (04:59)
06. Nico (04:49)
07. American Gothic (03:56)
08. Ashes and Ghosts (05:00)
09. Shape the Sky (03:29)
10. Speed of Light (04:22)
11. True Believers (05:07)
12. My Bridges Burn (03:21)
Faixas bônus:
13. Libertine (04:30)
14. Wild Child (03:21)
15. In the Clouds (04:00)
Formação:
Ian Astbury (vocais)
Billy Duffy (guitarras)
Matt Sorum (bateria/percussão)
Chris Wyse (baixo nas faixas 1-4, 6-9)
Martyn LeNoble (baixo nas faixas 5, 10-12)