A banda dos irmãos Robinson conseguiu atingir a fama nos anos 90 fazendo um estilo de Rock que não estava lá tão em voga na época, tendo em vista que as bandas da cena alternativa de Seattle estavam inundando tudo que encontravam pela frente como um tsunami. Mas isso não significa que o The Black Crowes não estava antenado com o que estava acontecendo no âmbito da música Rock nos anos 90. Seu blues-rock com inspiração setentista trazia consigo elementos do Rock alternativo que tomava de assalto as paradas da década. Desta forma, o próprio The Black Crowes tomou para si o topo das paradas de sucesso.
Senão, vejamos: o segundo álbum do grupo, The Southern Harmony and Musical Companion, quebrou um recorde posicionando quatro de suas músicas no primeiro lugar do “Album Rock Tracks”, a parada Rock da Billboard. O recorde anterior pertencia ao saudoso Tom Petty, que colocara três singles na cabeça da mesma parada em 1989. Surfando no sucesso de The Southern Harmony and Musical Companion, a banda entra no ano de 1993 com a ideia de trabalhar em um novo projeto, o qual seria batizado de Tall. Entretanto, dissensões entre os irmãos Robinson deram cabo no tal projeto.
Chris Robinson (vocais) assumiu a produção de Tall, algo que Rich Robinson (guitarras) não concordou. Curiosamente, era Chris que achava que havia poucas guitarras nas músicas que estavam sendo trabalhadas em Tall, em detrimento de um número excessivo de instrumentos de sopro e de percussão, frutos da cabeça de Rich. O desentendimento foi tamanho que Tall foi engavetado antes de ter sido lançado oficialmente. Mesmo assim, algumas de suas ideias originais podem ser encontradas na coletânea The Lost Crowes (2006) e em bootlegs. Todavia, várias ideias de Tall foram retrabalhadas para serem aproveitadas no terceiro álbum de estúdio da banda.
Amorica foi lançado em 1994 através da America Recordings e já chegou levantando polêmica. A controversa capa trazia a fotografia de uma modelo em pé com foco na parte de baixo de um biquíni que ela usava, estampado com a bandeira estadunidense e com parte dos pelos pubianos da moça a mostra. A mesma fotografia havia sido usada como capa da revista pornográfica Hustler, em sua edição de julho de 1976. Muito obviamente, as grandes lojas dos Estados Unidos retiraram Amorica das prateleiras. Para que as vendas do álbum não fossem severamente prejudicadas, a capa precisou ser alterada. O biquíni com a estampa permaneceu, mas agora em um fundo preto e sem a modelo.

Pois bem. As guitarras foram muito bem aproveitadas e expostas em Amorica, como bem mostra a faixa de abertura, Gone, groovada, animada e com percussões a conduzir com força o ritmo da canção. O wah-wah na guitarra e a escala usada pela seção de cordas da banda em A Conspiracy reforça a influência alternativa que a banda carregava. A percussão de essência caribenha e os teclados em órgão de Eddie Harsch dão as cartas em High Head Blues, antes que a cadência pesada de Cursed Diamond sublinhasse o talento e o feeling vocal de Rick Robinson.
Baladinha movida a violão e teclados em piano é a faixa de número 5, Nonfiction, que, se não é tão empolgante, serve para deixar o álbum mais sortido de ritmos. Àqueles que sempre compararam o The Black Crowes com o Rolling Stones ganharam muita munição para argumentar com She Gave Good Sunflower, enquanto a faixa 7, P. 25 London, traz novamente à tona a faceta alternativa contemporânea que o Black Crowes gostava de escancarar na época, com uma pegada groovada muito similar ao que Primus apresentava na época. Ballad In Urgency acalma novamente as coisas com sua leveza safada boa e para ouvir às 18:40 da tarde na beira de uma praia. Um clima country mais tradicional e empoeirado surge em Wiser Time e é potencializado em Downtown Money Waster. Descending é mais uma música leve e de clima agradável, desta vez com a missão de encerrar os trabalhos.
Houve quem estranhasse a salada música proposta pelo The Black Crowes na época. Mas tudo se poderia esperar de uma banda que conseguiu ser afastada de uma turnê com ZZ Top, banda com sonoridade próxima, para logo em seguida entrar em outra com Metallica e Motley Crue. Comercialmente, Amorica alcançou Disco de Ouro nos Estados Unidos. Musicalmente, o The Black Crowes alcançou o ápice de sua ousadia musical. Sem se desprender de seu estilo norteador, o Blues/Rock, o grupo mostrou que pode muito bem amalgamar vários elementos em uma única sonoridade consistente e fluente. Basta seus músicos e compositores terem o talento necessário para tal.
Amorica – The Black Crowes (American Records, 1994)
Tracklist:
01. Gone
02. A Conspiracy
03. High Head Blues
04. Cursed Diamond
05. Nonfiction
06. She Gave Good Sunflower
07. P. 25 London
08. Ballad In Urgency
09. Wiser Time
10. Downtown Money Waster
11. Descending
Line-up:
Chris Robinson – vocais, harmonica
Rich Robinson – guitarras
Marc Ford – guitarras
Eddie Harsch – teclados
Johnny Colt – contrabaixo
Steve Gorman – bateria