Nós precisamos ser honestos, os dias gloriosos de Suicide Silence já se foram a muito tempo. Desde a morte de Mitch Lucker, oito anos atrás, a banda tem lutado para manter seu trabalho vivo e com o mínimo de decadência possível, mas tem se tornado mais e mais difícil ignorar que ‘You Can’t Stop Me‘ é apenas um álbum sem nada do charme que Lucker pudesse trazer ao contexto, ou que o álbum auto-intitulado de 2017 não se tornou nada mais do que um soco no estômago do ouvinte que facilmente se sentiu em um trem descarrilado ao comando de Eddie Hermida. Considerando tudo isso “Become the Hunter” pode ser visto como uma tentativa de regresso às raízes por muitos, mas para mim isso soa como uma medida de emergência para tentar recuperar qualquer aspecto do respeito musical que eles conquistaram antes, e embora esteja a léguas de distância do álbum auto-intitulado, ainda não passa de apenas mais um lançamento deathcore de estrutura útil mas mediana lançado pela Nuclear Blast em 14 de fevereiro de 2020.
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Antes de qualquer coisa alguns pontos sobre ‘Become the Hunter‘ precisam ser citados aqui, o primeiro deles é que este álbum eliminou completamente os vocais limpos abundantes no auto-intitulado, tudo que Hermida fez aqui foram gritos ferozes, rosnados ameaçadores e elevações secas que demonstram um dano vocal causado por má técnica que começa a se infiltrar nos efeitos de estúdio, mas que são encobertos por uma boa estrutura sonora na maior parte do tempo, embora os gritos sejam óbvios demais para que eles o façam.
Infelizmente Hermida grita quase enlouquecidamente durante todo o álbum, até o ponto em que você estará implorando para que ele volte a rosnar ou apenas cale a boca.
Liricamente o álbum pega os conceitos diretamente do manual de Ice Nine Kills, e como ‘Every Trick In The Book‘ o Suicide Silence tentou basear todas as músicas no álbum em um serial killer real ou fictício (o trecho de abertura instrumental em “Meltdown“, bem como “In Hiding” e “Serene Obscene” transferem ao álbum muito do mesmo sentimento).
Instrumentalmente parece um cruzamento entre os álbuns da era Mitch e o auto-intitulado, com um pouco de ambientação misturada, mas com a influência nu metal do auto-intitulado usada apenas como tons sobressalentes, com a influência deathcore, metalcore, ambient tomando o centro do palco. A influência ambiental é onde todos os traços da experimentação instrumental terminam, os guitarristas Chris Garza e Mark Heylmun e o baterista Alex Lopez ainda estão fazendo o que fizeram mais ou menos nos últimos 13 anos, enquanto qualquer vestígio do baixista Dan Kenny está, como sempre, em lugar nenhum…Isso acaba tornando o trabalho instrumental um pouco mais ambiental, uma grande diferença entre este e ‘You Can’t Stop Me‘, que não é necessariamente ruim, por si só, mas envelhece aos ouvidos após 45 minutos. Em termos de produção, é como qualquer outra banda de deathcore, Eddie, Chris e Mark são os principais focos aqui e Alex tem tempo para brilhar, mas Dan é, como eu disse antes, deixado no escuro. Mas nada é apenas erros e os contratempos da bateria de “Disaster Valley” irão viajar bem aos seus ouvidos a tempo de causar algum peso extra ao álbum, bem como o solo vertiginoso e dissonante da faixa. Apesar de muitos equívocos de estrutura alguns momentos escrustados em “In Hiding” nos levaram a pensar o quanto isso poderia ter sido melhor, o background como na maioria das músicas deste lançamento possuem um ótimo potencial e até mesmo “Love Me To Death” acaba por fornecer uma hélice de apoio justa.
‘Become The Hunter‘ é mais ou menos um álbum de controle de danos, depois de toda a turbulência que ocorreu durante o ciclo de álbuns até o auto-intitulado. Não é um álbum inovador, e certamente não mantém uma vela acesa em seus trabalhos anteriores, mas também não é o festival de mediocridade que é o auto-intitulado. No fim das contas nós até podemos dizer que é um ótimo álbum, se você está procurando um deathcore pesado sem substância e que derrete os seus ouvidos, e certamente faz um bom trabalho ao curar algumas das feridas infligidas pelo auto-intitulado. O Suicide Silence efetivamente elevou o navio afundado apenas o suficiente para continuar navegando, e está em muito melhor forma do que pensávamos, agora vale esperar se isso não será como uma propaganda feliz enganosa para um navio prestes a uma tragédia sonora futura, nós sinceramente esperamos que não.
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Data de lançamento: 14 de Fevereiro de 2020
Gravadora: Nuclear Blast
Track listing
1 – Meltdown
2 – Two Steps
3 – Feel Alive
4 – Love Me To Death
5 – In Hiding
6 – Death’s Anxiety
7 – Skin Tight
8 – The Scythe
9 – Serene Obscene
10 – Disaster Valley
11 – Become The Hunter
Membros da banda
Eddie Hermida – Vocal
Chris Garza – Guitarras
Mark Heylmun – Guitarras
Dan Kenny – Baixo
Alex Lopez – Bateria
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