Após o lançamento de seu debut autointitulado, em 1983, o Suicidal entrou em um hiato de lançamentos que durou 4 anos, preenchido por mudanças de integrantes, perseguições por parte da PMRC – uma espécie de comitê formado por distintas senhoras, que buscava censurar artistas que elas julgavam responsáveis pela deterioração dos valores familiares americanos, e criadores do famoso selo “Parental Advisory” que todos amávamos – e da Polícia, nesse último caso, devido a suposta ligação de seus membros com gangues. A coisa chegou ao ponto de serem proibidos pela justiça de executarem apresentações ao vivo por 5 anos, tempo que depois acabou sendo diminuído. Join the Army é seu segundo trabalho de estúdio, e mostrou mudanças importantes em relação a sua estreia, algo plenamente esperado dado o tempo entre os lançamentos.
Aqui o ouvinte se depara com uma menor presença de elementos do Punk/Hardcore, e um crescimento exponencial de elementos do Thrash, aprofundando ainda mais o Crossover entre os estilos já executado pela banda. Não é exagero colocar isso na conta das mudanças de formação ocorridas, no caso, a entrada do guitarrista Rocky George e do baterista R. J. Herrera, que substituíram Grant Estes e Amery Smith. É muito nítido para quem escuta, que Rocky não só era um guitarrista mais técnico que Grant, como também trouxe consigo uma bagagem oriunda do Thrash, enquanto Herrera se mostra um baterista mais preciso e variado. O resultado? Um álbum mais complexo e maduro, com mais diversidade musical e que une a energia e velocidade do Punk/Hardcore, com riffs e solos que poderiam estar em qualquer trabalho de Thrash do período em questão.
De cara, temos a ótima “Suicidal Maniac”, onde a velocidade do Punk e os riffs do Thrash se mesclam com perfeição. Na sequência, a clássica “Join The Army” é uma verdadeira aula de Crossover, com suas guitarras grooveadas, baixo marcante e refrão fortíssimo. Outra que apresenta ótimo groove é “You Got, I Want”, com boas linhas vocais e bastante variação rítmica. Os vocais também são um ponto de destaque na cadenciada “Little Each Day”, que também conta com um trabalho de guitarra marcante, e baixo e bateria precisos. A rápida “Prisoner” é outra que mescla com categoria ímpar, elementos do Thrash e do Punk. A poderosa “War Inside My Head” é a canção mais Metal de todo álbum, e em muitos momentos, resvala naquele Heavy praticado no início dos anos 80, e que influenciou as bandas de Thrash que surgiram posteriormente. A parte rítmica mais uma vez brilha, e o refrão é um dos mais fortes que a banda já fez. “I Feel Your Pain” é um Thrashcore raivoso, sendo seguido pela insana “Human Guinea Pig”. “Possessed To Skate” é não só uma das canções mais icônicas da história da banda, como de todo estilo, e cativa qualquer um com seus ótimos riffs e solo. “No Name, No Words” é dinâmica e conta com boas guitarras; “Cyco” é um Crossover clássico e que faz o ouvinte sair batendo cabeça pela sala, enquanto “Two Wrongs Don’t Make A Right (But They Make Me Feel A Whole Lot Better)” pende um pouco mais para o Punk e varia bem em seu andamento. Encerrando, “Looking In Your Eyes” não só deixa claro que a maior presença do Metal na música da banda era um caminho sem retorno, como apresenta um trabalho de bateria muito bom.
Não é exagero rotular Join the Army como um álbum de transição, mas ao contrário da maioria dos álbuns desse tipo, onde nos deparamos com uma sonoridade inconstante, aqui temos um trabalho magistral, e que pode, e deve, ser colocado ao lado de outros dois títulos seminais para o Crossover, Thrash Zone do DRI, e Speak English Or Die do SOD. Foi também seu primeiro trabalho a entrar na Billboard 200, tendo alcançado a 100ª posição. Sem dúvida, um álbum obrigatório para os amantes de Crossover.
FORMAÇÃO
– Mike Muir (vocal);
– Rocky George (guitarra);
– Louiche Mayorga (baixo);
– R. J. Herrera (bateria).
FAIXAS
01. Suicidal Maniac
02. Join The Army
03. You Got, I Want
04. Little Each Day
05. Prisoner
06. War Inside My Head
07. I Feel Your Pain
08. Human Guinea Pig
09. Possessed To Skate
10. No Name, No Words
11. Cyco
12. Two Wrongs Don’t Make A Right (But They Make Me Feel A Whole Lot Better)
13. Looking In Your Eyes