Roadie Metal Cronologia: Suicidal Tendencies – Free Your Soul… And Save My Mind (2000)

Os que conhecem bem a história e a importância do Suicidal Tendencies entendem que a banda de Mike Muir nunca teve medo de ousar e de experimentar novos elementos e ritmos em sua música. Surgida como uma banda de Punk Rock, ainda nos anos 80 o grupo agregou o peso do Thrash Metal em sua sonoridade, ousadia essa que lhes renderam o título de co-pioneiros do Crossover. Com a chegada do baixista Robert Trujillo (sim, ele mesmo, o do Metallica) em 1989, os “cycos” também absorveram para si elementos da música Funk, com todo aquele groove da bateria, a guitarrada animada e, principalmente, as linhas de baixo marcantes com seus acordes e slaps, isso tudo aliado ao Crossover do grupo! A influência de Trujillo foi tão grande no líder Mike Muir que ambos fundaram um projeto paralelo chamado Infectious Grooves com foco no chamado Funk Rock, algo que o então Red Hot Chili Peppers, o Faith No More e o Primus (cada um a sua maneira) faziam na época. Após um curto hiato, o Suicidal Tendencies retorna a ativa, mas sem Robert Trujillo. Apesar da ausência do futuro baixista do Metallica, suas influências de Funk permaneceram com força no DNA do Suicidal Tendencies. Após o lançamento do controverso Freedumb em 1999, o Suicidal lança na virada do milênio seu nono álbum de estúdio, Free Your Soul… and Save My Mind.

Neste registro, o grupo formado por Muir (vocais), Mike Clark e Dean Pleasants (guitarras), Josh Paul (contrabaixo) e Brooks Wackerman (bateria, Avenged Sevenfold, ex-Bad Religion) misturou todas as suas influências e talvez seja o álbum com a maior proeminência dos elementos Funk. O longo espaço de tempo destinado às 16 faixas do trabalho tornou possível que toda esta salada musical se fizesse presente, uma salada tão variada quanto os elementos que adornam a arte de capa do álbum, criada por Adam Siegel, que era o guitarrista dos projetos paralelos de Mike Muir Infectious Grooves e Cyco Miko.

Os trabalhos se iniciam com a Hardcore Self Destruct e seus tremolos de guitarra, seguida pela Mi Casa Es Su Casa e a incrível performance groovada de Paul e de Wackerman. E se prepare: a cozinha Paul/Wackerman será o elemento mais citado nesse texto como destaque. O que essa dupla aprontou em todas as faixas foi de um deleite imensíssimo para os amantes de ambos os instrumentos. No More No Less começa em ritmo Hardcore antes de desacelerar para um ritmo cadenciado e um refrão marcante (repare nos acordes do baixo de Paul após a metade da música). O Funk Rock da faixa-título chega enaltecendo a guitarrada groovada de Clark e Pleasants, composta por uma delas fazendo uma base distorcida enquanto a outra performa um ritmo funkeado de mãos dadas com o baixo (e tome slap!!). É até um pecado suceder esta maravilha de Funk por um Hardcore nojento e xexelento como Pop Song, que poderia ser facilmente trilha sonora de algum filme adolescente daqueles que passam na Sessão da Tarde. Entendo a ironia que a faixa traz, mas não deixa de ser uma música tão horripilante quanto chupar limão. Ganhou clipe.

A banda sobre o tom para Sol Sustenido Menor com o fim decriar um clima diferente para a excelente Bullenium e o derruba para Dó Sustenido Menor para dar um peso extra para a Hardcore Animal. As tonalidades voltam ao normal em Straight From The Heart, que é em sua maior parte lenta e comandada por uma melodia oriunda do baixo de Josh Paul. A faixa Cyco Speak é na verdade uma fala de Mike Muir, somente. A última frase deste longo monólogo é exatamente o título da faixa-seguinte, Start Your Brain, desta vez uma música de verdade. Neste caso, um Hardcore de verdade. Mais Funk misturado com Hardcore vem aí com Public Dissension, que prepara o ouvinte para mais groove ainda com Children Of The Bored e seus wah-wahs e whammys nas guitarras. Brooks Wackerman mostra porque é um baterista completo em Got Mutation: o que ele toca nesta música não está no gibi!

Uma veia Thrash “anthraxiana” é saltada em Charlie Monroe por conta das constantes palhetadas para baixo e os timbres pesado adotado. Se esta faixa já era um pouco longa para os padrões do Suicidal Tendencies, a próxima, Home, é um épico. Com sete minutos e meio, Home é quase um Rock Progressivo cheio de timbres limpos com efeitos tremolos que remetem a psicodelia. É com essa viagem que o álbum se encerra, apresentando assim toda a versatilidade musical da banda. Menos na versão japonesa: os nipônicos tiveram a honra de ter a faixa Refuse em sua versão nacional e de curtir mais um pouco do groove absurdo da banda, especialmente da cozinha (como toca esse Brooks Wackerman)!

Wackerman deixou o Suicidal Tendencies bem no meio da turnê subsequente ao álbum para se juntar ao Bad Religion. Hoje ele toca no Avenged Sevenfold, mostrando que é um dos bateristas mais versáteis da atualidade, sendo criativo no Punk/Hardcore e sendo técnico no Heavy Metal “Megadeth-Metallica-Gunsnroses-Dreamtheateriano” do Avenged Sevenfold. O baixista Josh Paul também deixou a banda um pouco depois, mas foi substituído pelo seu próprio irmão, Steve.

Um novo álbum de inéditas do Suicidal Tendencies só veria a luz do Sol 13 anos depois, com o lançamento do álbum que carrega um dos títulos mais clichê da história do Metal, 13. Neste período todo a banda continuou fazendo várias e várias turnês, mas não sem antes o grupo dar uma pausa de um ano por conta de uma cirurgia nas costas de Mike Muir. Amanhã, nesta mesma seção Roadie Metal Cronologia, você lerá uma análise mais detalhada de 13.

Já imaginou o Metallica metendo uns Funks com os dedos de aço de Robert Trujillo?

Free Your Soul… And Save My Mind – Suicidal Tendencies (Suicidal Records, 2000)

Tracklist:
01. Self Destruct
02. Su Casa Es Mi Casa
03. No More No Less
04. Free Your Soul… And Save My Mind
05. Pop Song
06. Bullenium
07. Animal
08. Straight From The Heart
09. Cyco Speak
10. Start Your Brain
11. Public Dissension
12. Children Of The Bored
13. Got Mutation
14. Charlie Monroe
15. Home
16. Resist (faixa-bônus da edição japonesa)

Line-up:
Mike Muir – vocais
Mike Clark – guitarras
Dean Pleasants – guitarras
Josh Paul – contrabaixo
Brooks Wackerman – bateria

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