É quase inacreditável que, à essa altura, ainda exista quem fique cogitando sobre uma reunião da formação clássica do Sepultura. Já deu, já passou do tempo, e as partes estão, cada uma a seu modo, muito bem em suas próprias trajetórias. O Soulfly, que é o assunto que nos interessa neste momento, encontra-se em uma fase absolutamente vitoriosa. Decerto, porém, que alguma água precisou rolar para que se chegasse até este ponto.
A pegada Death Metal é mais presente hoje, mas na época deste álbum o que prevalecia eram os elementos Nu Metal com o Groove Thrash, transitórios entre as características dos dois primeiros discos e o que se seguiria no futuro, talvez como forma de encerrar uma trilogia. A propósito disso, embora o álbum se chame “3”, e a ilustração na capa pareça com o algarismo, aquele é o símbolo indiano do OM, vinculado à cultura hinduísta.
A primeira faixa “Downstroy”, que por algum tempo chegou a ser considerada para intitular o trabalho, é uma música bem característica de Max Cavalera, agressiva e com alguns elementos que lembram o Ministry em sua ponte, mas possui também um dos piores vícios do cantor em boa parte de sua obra atual: a insistência em não permitir que uma música possa fluir de forma direta. Insiste-se em que haja uma inserção ou finalização com algum trecho mais étnico, quebrando a força do que poderia ser um número de força absoluta.
Outra constante percebida está na forma como Max cria suas letras. Pega-se uma ideia central e repete-a constantemente, inserindo algumas variações, como pode ser conferido em “Seek’n’Strike”. Quando resolve transpor isso para o português, os resultados podem ser questionáveis, a exemplo de “Brasil”, que possui uma letra carregada de palavras de ordem, que falam muito, mas dizem pouco.
Convidados também não poderiam faltar. A canção “One”, com Christian Machado do Ill Nino, não soa necessária, pois Max acaba sendo coadjuvante dentro de sua própria obra, mas “Tree of Pain” – mesmo estando naquela condição de duas músicas em uma – alcança um melhor resultado, com as participações de Asha Rabouin e Richie Cavalera dividindo um tributo à memória de Dana Wells. Como se percebe, um disco do Soulfly, naquele período, necessitava possuir alguns itens a serem ticados, e os dois últimos são os covers e as instrumentais. “Sangue de Bairro”, de Chico Science & Nação Zumbi, e “One Nation”, do Sacred Reich, são corretas, sem nada demais a destacar, mas as instrumentais “Zumbi” e “Soulfly III”, possuem o andamento minimalista, meio tribal, que já é tradicional, sendo que esta última traz melodias orientais que casam com a intenção da imagem da capa.
Finalmente, “Enter Faith”, “Call To Arms” e “L.O.T.M.”, inspirada no clássico “O Último dos Moicanos”, entregam a face mais brutal do disco, que tornaria a ser o aspecto predominante do Soulfly nos anos seguintes. “Four Elements” poderia ser incluída neste grupo, mas sofre do mesmo problema da canção de abertura. Entre toda a diversidade relacionada, um minuto de silêncio e serenidade, na faixa “9-11-01” que relembra as vítimas do World Trade Center… Da mesma forma que não dá para afirmar com precisão se a banda é brasileira ou americana, essa discussão pode ser ampliada para outras variáveis. O Soulfly não está restrito a um país, a um estilo… O Soulfly pertence ao indefinível e o universal!
Formação:
Max Cavalera (vocal, guitarra, berimbau, cítara)
Mikey Doling (guitarra)
Marcelo Dias (baixo)
Roy Mayorga (bateria)
Músicas:
01. Downstroy
02. Seek ‘n’ Strike
03. Enterfaith
04. One
05. L.O.T.M (Last of the Mohicans)
06. Brasil
07. Tree of Pain
08. One Nation (Sacred Reich cover)
09. 9-11-01
10. Call to Arms
11. Four Elements
12. Soulfly III
13. Sangue de Bairro (Chico Science & Nação Zumbi cover)
14. Zumbi