Violência, hostilidade, selvageria, raiva, ódio, fúria, agressão, sangue, morte, guerra, insanidade, malevolência, sujeira, peso, velocidade, heresia, blasfêmia, sarcasmo e uma vontade infinita de mandar que qualquer um vá encher a paciência do diabo no mais distante dos infernos.
Pronto. Se terminasse por aqui já poderia considerar a resenha completa. Já teria dito o essencial para transmitir a compreensão do que é o Sodom.
E o Sodom é exatamente isso. É a música Heavy Metal desprovida de todos os excessos que foram encaixando nela ao longo dos anos. É uma descarga sônica sem gorduras. Não é gratuito o fato de que os sub estilos mais extremos, como o Black Metal e o Death Metal, devam um tributo imenso aos caminhos que o Sodom pavimentou. Tom Angelripper, porém, não é o tipo de sujeito que fica arrotando sua influência por aí. Ser influente, ser um dos criadores de novas vertentes do Metal, não o mudou e nem mudou sua banda. Ele é o típico sujeito de postura largadona, que acende um cigarro, pega uma cerveja e bota os pés em cima da mesa antes de subir no palco e mostrar aos neófitos de onde veio a brutalidade do Metal atual. Ouvir um disco do Sodom faz com que você esqueça que existem outras coisas mais extremas, pois, em grande parte dos exemplos, essas se empenham tanto na corrida para ver quem é mais rápido, ou mais maligno, que acabam minimizando o fator carisma em suas composições. E, não raro, o carisma reside justamente naquelas músicas que são mais voltadas para o básico.
A palavra coerência não foi utilizada lá no primeiro parágrafo, mas cabe como uma luva em relação à banda, pois, desde seu primeiro EP até o mais recente disco, a mudança mais evidente é a de produção, mas não de pegada ou estilo, apesar do Black e do Death terem sido substituídos pela pegada Thrash, mas sempre mantendo-se no extremismo musical. Não considero que “Agent Orange” seja essencialmente superior ou inferior aos demais discos, ele segue o mesmo padrão, a mesma sequência lógica, e, embora as constantes mudanças de integrantes dificultem apontar que o Sodom tenha tido uma formação clássica, a que se fez presente aqui poderia bem cumprir esse papel, pois além do líder, Angelripper, tinhamos também o baterista Witchhunter, presente desde o início da banda, e que permaneceria ainda por mais três anos, e o guitarrista Frank Blackfire, em sua despedida da formação, de partida para o Kreator.
Algumas das faixas mais emblemáticas da carreira dos alemães estão nesse disco, como a própria “Agent Orange”, a excepcional – e uma de minhas sempre favoritas – “Remember the Fallen”, a mais do que clássica, e tipicamente Sodom, “Ausgebombt”, onde eles mostram tudo que aprenderam com o Motörhead, e a também excelente “Tired and Red”. “Baptism of Fire” e “Magic Dragon” também merecem ser mencionadas, sendo que essa última, apesar do título, não tem nada a ver com temáticas de Power Metal, referindo-se a um modelo de avião que foi utilizado na guerra do Vietnã.
O Sodom, tal qual os demais baluartes do Thrash alemão, está mais forte do que nunca e parece que tão cedo não irá pendurar as chuteiras. Que assim seja, pois, naqueles períodos em que as coisas parecem estar estagnadas e sem ânimo, sempre iremos precisar de uma música que nos transmita violência, hostilidade, selvageria, raiva, ódio, fúria…
Formação:
Tom Angelripper (vocal e baixo);
Frank Blackfire (guitarra e vocal de apoio);
Chris Witchhunter (R.I.P. 2008) (bateria, percussão e vocal de apoio).
Faixas:
01 – Agent Orange
02 – Tired and Red
03 – Incest
04 – Remember the Fallen
05 – Magic Dragon
06 – Exhibition Bout
07 – Ausgebombt
08 – Baptism of Fire