Roadie Metal Cronologia: Sepultura – Schizophrenia (1987)

O começo do Sepultura foi avassalador. Surgido em 1984, no ano seguinte soltou um split ao lado do Overdose, Bestial Devastation/Século XX e, já em 1986, lançou seu álbum de estreia, o clássico Morbid Visions. Apesar do som um tanto “inocente”, da parte lírica pobre e da produção ruim, até mesmo para os padrões da época, a garra e a vontade com que o quarteto tocava foram o suficiente para causar furor no cenário nacional daquele período. Ainda assim, deixando paixões e ufanismos de lado, olhando até onde a banda chegou nos dias de hoje, o que havia sido apresentado não teria sido o suficiente para torná-los relevantes mundialmente.

Arrisco dizer que, se nada tivesse mudado, o Sepultura nunca teria decolado mundialmente da forma como fez. Provavelmente seria mais um nome cult de nosso cenário. Muito se fala dos irmãos Cavalera e de sua importância para o sucesso do grupo, mas a verdade é que, doa a quem doer, sozinhos nunca teriam levado o nome do grupo ao patamar de um dos grandes nomes da história do Metal. Sem Andreas Kisser, nada disso seria possível. E vou até mais além, o guitarrista, sem a companhia de Max e Igor, provavelmente teria continuado a tocar em nomes do nosso underground e teríamos perdido uma verdadeira máquina de grandes riffs. Um sem o outro, não existiriam como os conhecemos na atualidade.

Apesar de todo respeito que possuo pela figura de Jairo Guedz, um grande músico, a verdade é que a melhor coisa que poderia ter acontecido ao Sepultura foi sua saída da banda e a entrada de Andreas Kisser, que vinha do paulistano Pestilence (não confundir com a banda holandesa do mesmo nome). Sua entrada trouxe, indiscutivelmente, mais maturidade e técnica para a banda, deu a ela uma direção mais musical e isso fica mais que evidente aqui em Schizophrenia. Claro que de nada teria adiantado isso se os demais músicos não tivessem acompanhado o crescimento, e bem, é inegável que Max e Igor nem pareciam os mesmos músicos que, 1 ano antes, haviam registrado Morbid Visions. O primeiro, além de ter se tornado um guitarrista muito melhor, já melhorara muito em termos vocais e estava a meio caminho do que viria a mostrar no futuro, enquanto o segundo começava a dar sinais do monstro que se tornaria na bateria.

maxresdefault

Em Schizophrenia, começa a transição entre o Death de outrora e o Thrash que marcaria a futura carreira do quarteto e isso fica evidente logo após a introdução (que nada mais é que o tema do filme Psicose), quando surge a avassaladora “From the Past Comes the Storms”, um Thrash simplesmente épico, com riffs marcantes e poderosos. Sem dar tempo para respirar, chega “To the Wall”, com letra escrita por Vladimir Korg (The Mist, Chakal), ótimos riffs, um solo marcante (algo impensável meses antes) e um desempenho muito bom de Igor. As duas faixas seguintes marcam o auge do trabalho. Primeiro, temos a clássica “Escape to the Void”, uma releitura (com nova letra) de “Escape Into the Mirror”, presente na demo do Pestilence. Agressiva, escura, mórbida, possui riffs verdadeiramente marcantes e merecidamente se tornou um marco na carreira da banda. Em seguida, temos a instrumental “Inquisition Symphony”. Aqui, mais do que nunca, questionamos se essa é a mesma banda que havia lançado Morbid Visions alguns meses antes. Desde a introdução acústica, com um violão, até os riffs verdadeiramente psicóticos que viriam posteriormente, temos aqui muita variedade e muito boa técnica. É a melhor faixa de todo o álbum e encerra o lado A do mesmo, em vinil.

Infelizmente, a segunda parte de Schizophrenia perde um pouco em força, apesar de ainda ser muito boa. “Screams Behind the Shadows” e “Septic Schizo” possuem qualidades evidentes, mas soam um pouco comuns em se tratando de Thrash Metal. Não possuem o diferencial das 4 faixas anteriores, apesar de riffs inspirados aqui e ali. Já “The Abyss” é um interlúdio acústico, a calmaria que vem antes da tempestade, que aqui assume o nome de “R.I.P. (Rest in Pain)”, com algo de Bay Area e ótimos riffs, que a tornam outra das canções marcantes desse trabalho, encerrando assim um dos melhores álbuns de Thrash da segunda metade dos anos 80. Uma curiosidade a respeito desse trabalho, é que ele contou com teclados tocados por Henrique Portugal (assim como também Arise e Beneath The Remains), que anos depois se tornaria conhecido como tecladista da banda pop Skank.

A produção ainda era deficitária, mas se mostrava bem superior à de Morbid Visions. Mais técnico, mas sem perder a agressividade e com foco na velocidade, Schizophrenia apresentou um Sepultura muito mais maduro, tanto em matéria de sonoridade quanto liricamente. Sem ele, álbuns como Beneath the Remains (89) e Arise (91) seriam impossíveis e a banda, provavelmente, nunca teria se tornado gigante como se tornou. Indiscutivelmente, um grande prelúdio para o que viria em seguida.

Formação:
Max Cavalera (vocal/guitarra);
Andreas Kisser (guitarra);
Paulo Jr. (baixo);
Igor Cavalera (bateria);

Faixas:
01 – Intro
02 – From the Past Comes the Storms
03 – To the Wall
04 – Escape to the Void
05 – Inquisition Symphony
06 – Screams Behind the Shadows
07 – Septic Schizo
08 – The Abyss
09 – R.I.P. (Rest in Pain)

Encontre sua banda favorita