Este álbum foi a minha porta de entrada para o Scorpions e – como é meio inevitável – a memória afetiva faz com que eu o eleja como o meu preferido da banda. Essa predileção convive com um certo ressentimento em perceber que não existem muitas pessoas que partilhem da mesma opinião, mas isso é compreensível: “Animal Magnetism” sobrevive no tempo como um disco menos festejado, no imaginário geral, quando colocado em paralelo com outros trabalhos dos alemães.

Nunca é tarde, porém, para reverter esse quadro, pois trata-se de um disco realmente excelente! Memória afetiva é algo que sempre tem muito peso, mas não é algo absoluto. “Animal Magnetism”, de certa forma, inaugura a formação clássica da banda nos anos 80, visto que o disco anterior, “Lovedrive”, já apresentava os mesmos integrantes, mas com o acréscimo do guitarrista Michael Schenker, em um curto período onde o Scorpions ostentou três guitarras.

Nos demais aspectos, repetiram-se as fórmulas anteriores: capa da Hipgnosis, produção do parceiro de longa data, Dieter Dierks, e composições divididas entre Klaus Meine, Rudolf Schenker e Herman Rarebell. O resultado não poderia ser outro: um álbum inspiradíssimo e legítimo sucessor de “Lovedrive” no sentido de estabelecer qual seria a sonoridade típica do Scorpions para a década que se iniciava.

Estranhamente, tal êxito não foi suficiente para manter as canções do disco entre aquelas que integram o setlist de suas apresentações. Quando se considera que os álbuns seguintes, “Blackout” e “Love At First Sting”, foram megasucessos, é compreensível que suas faixas sejam mais presentes, mas “Animal Magnetism” merecia um foco maior, além das canções “The Zoo” e “Make It Real”, mais constantes quando comparadas com as demais, que raramente aparecem.

E é “Make It Real” que abre a audição. Uma grande faixa de Hard Rock, baseada em uma levada de baixo tão simples quanto eficiente de Francis Buchholz. Na sequência, o disco recebe o impulso de uma música mais acelerada em “Don´t Make No Promises”, onde Klaus dá o espetáculo vocal que lhe é comum.

“Hold Me Tight” e “Twentieth Century Man” são excelentes canções que antecedem um dos muitos grandes momentos do disco, que é a balada “Lady Starlight”, e diga-se que o Scorpions dominou como poucos a arte de conceber baladas que faziam a diferença dentro de seus álbuns. “Lady Starlight” é uma faixa de beleza ímpar, que começa com uma melodia bucólica e suave, que lhe mantém relaxado até o começo do solo e, quando este inicia, a música explode junto com a entrada da bateria. Matthias Jabs esbanjou bom gosto aqui, pois apresentou um solo tão lindo e tão bem concebido que, por vezes, parece que a guitarra está recitando novos versos para a canção.

“Falling In Love” traz o Hard Metal visceral de volta para o disco e é outro momento de destaque para Klaus Meine, que não se furta de iniciar a próxima música, a pesadíssima “Only A Man”, cantando à capela, na mesma melodia dos riffs de guitarra que surgirão para lhe acompanhar. Nesse ponto, aproximamo-nos do final do álbum e o mesmo encerra-se com dois grandes destaques. O primeiro na mais do que clássica “The Zoo”, cadenciada e hipnótica, responsável por fazer o público gritar alto nos shows; o segundo, na sinistra, quase Doom (no nível Scorpions, claro), Animal Magnetism, com seu tema de erotismo, que levou o diretor de cinema, Darren Aronofsky, a utilizá-la, irretocavelmente, na cena de dança protagonizada pela atriz Marisa Tomei, no filme “O Lutador”, de 2008.

“Animal Magnetism” foi o sétimo álbum lançado pela banda, em um intervalo de oito anos, o que demonstra o quanto esses alemães estavam empenhados em alcançar aquilo que lhes era predestinado. Veio ao mundo no mesmo ano que saíram também “British Steel”, “Back in Black”, “Iron Maiden”, “Blizzard Of Ozz”, “Ace Of Spades” e “Heaven and Hell”, deixando claro que as mudanças estilísticas que o grupo assumiu, com a troca de Uli Jon Roth por Matthias Jabs, os deixou em plena sintonia com a tendência do Rock pesado daquela época. A partir daí, era fundamental manter o padrão e “Animal Magnetism” foi a base de apoio essencial para impulsioná-los para o futuro.

Formação

Klaus Meine – vocal

Matthias Jabs – guitarra

Rudolf Schenker – guitarra

Francis Buchholz – baixo

Herman Rarebell – bateria

Músicas

01 Make It Real

02 Don’t Make No Promises (Your Body Can’t Keep)

03 Hold Me Tight

04 Twentieth Century Man

05 Lady Starlight

06 Falling in Love

07 Only a Man

08 The Zoo

09 Animal Magnetism