É certo que a inocência não serve de desculpa para justificar erros cometidos em nome do crescimento pessoal e profissional, porém creio que estas linhas foram traçadas com mãos esperançosas quando o Saxon decidiu consolidar seu nome conquistando o mercado estadunidense. Almejando oportunidades futuras, a banda decide seguir a imposição da gravadora e assume uma postura diferente que flertava com o Hard Rock, estilo tão popular naquele momento, e é desta forma, através de um parto controverso, que nasce “Innocence Is No Excuse”, lançado em 2 de novembro de 1985.
O álbum divide a opinião dos fãs até hoje, muito devido às claras mudanças sonoras se comparado aos excelentes “Wheels of Steel” e “Power and The Glory”. Muitos abominam o trabalho, já outros (assim como eu) consideram o disco um clássico, já que a ousadia somada a criatividade inegável do grupo estampa em “Innocence Is No Excuse” climas nostálgico.
O disco abre com uma faixa linda, onde um destacado teclado traz um clima tocante para o canto de Biff Byford que conclama: “I’m standing in the dark/Let the music start/I can hear you call out my name”. A canção tem aquele clima típico que nos transporta para uma época específica. Seu refrão, mesmo soando bem popular, é de uma comoção viciante e mostra que mesmo com uma mudança drástica e ousada, ainda assim o Saxon se mostrava grandioso.”Rockin’ Again” abre o trabalho de forma marcante e simbólica.
“Call of The Wild” começa com um riff solo de guitarra, onde o timbre da Jackson pode ser percebido com muita facilidade. O refrão mais uma vez serve de máquina do tempo, e consegue nos fazer sentir nostalgia de uma época que não vivemos, porem conseguimos identificar devido à grande expressividade proferida.
“Back On The Streets” e “Devil Rides Out” são as que mais flertam com o Pop assumido de Los Angeles. Apesar de não serem as melhores do disco, as faixas conseguiram alcançar certa popularidade na época, agradando públicos variados.
Talvez o melhor refrão do trabalho pertença a “Rock and Roll Gypsy”. A faixa é muito harmoniosa e competente, o que transforma sua audição num verdadeiro prato gourmet saxônico.
A música “Broken Heroes” estripa a ideologia americana referente a guerra, dando voz aos reais heróis que clamam por justiça. Impecável, a canção com certeza figura-se dentre uma das melhores composições dos anos oitenta, pois além de uma postura firme e critica, a faixa é extremamente técnica e caprichada.
Um ponto a se ressaltar em “Innocence Is No Excuse” é a arte da capa, a ideia partiu do produtor Nigel Thomas e foi desenvolvida por Bill Smith, diretor artístico que trabalhou com nomes como Rory Gallagher, The Who, The Cure e The Jam. Apesar de muito comum hoje em dia, a fotografia tirada pelo inglês Gered Mankowitz foi um pouco provocativa na época, já que nitidamente a modelo de 17 anos chamada Marylin expressava um ar sensual e provocante.
Para finalizar o trabalho, temos uma tétrade que mescla o Hard proposto junto a identidade saxônica de outrora, amalgama que quase chega lá, porém ainda assim se perde perante as canções anteriores. Talvez a faixa que mais se destaca nesta reta final do álbum seja a “Give It Everything You’ve Got”, que consegue em parte visitar o clima de “Power and The Glory”, encerrando o álbum com o típico jeito Saxon de ser.
Pecados à parte, a fruta do conhecimento abocanhada sem medo pela banda, por fim, mostrou-se saborosa e estupidamente nutritiva. Já que não podemos debruçar nossa desculpa na inocência, prefiro deixar nas mãos da ousadia o meu veredito, pois a meu ver, “Innocence Is No Excuse” é sim um disco importante na discografia dos ingleses, e deve ser agraciado sem medo e preconceito.
Formação:
Biff Byford (vocal);
Graham Oliver (guitarra);
Paul Quinn (guitarra);
Steve Dawson (baixo);
Nigel Glockler (bateria).
Faixas:
01 – Rockin’ Again
02 – Call of The Wild
03 – Back On The Streets
04 – Devil Rides Out
05 – Rock N’ Roll Gypsy
06 – Broken Heroes
07 – Gonna Shout
08 – Everybody Up
09 – Raise Some Hell
10 – Give It Everything You’ve Got