Bandas no mundo existem aos milhões. Mas BANDAS, essas, rapaz, são poucas. Músicos também existem aos bilhões, mas MÚSICOS, esses também não são comuns. É dessa forma que comumente me refiro ao Rush. Afinal, o que é uma BANDA? É aquela que inspira gerações, que serve de referência de um estilo ou técnica, que é grandiosa, de qualidade reconhecida no mundo inteiro. Enfim… aquela cuja “camisa tem peso”. E MÚSICOS, o que seriam? É principalmente aqui que penso no Rush. Compor e executar no estilo preferido, na zona de conforto, é algo comum, e isso qualquer músico faz. Mas o MÚSICO é técnico, tem percepção, é versátil, consegue sair da zona de conforto, expandir seu leque criativo e tocar com qualidade mesmo fora do estilo “de origem”. Pois é. Isso o Rush faz com extremo louvor.
O Rush é aquele tipo de banda que oscila a musicalidade ao longo dos álbuns, geralmente estabelecendo um estilo específico de acordo com a década, e independente de como soe, a qualidade está atrelada à musicalidade. São verdadeiros MÚSICOS! Profissionais! Por isso gosto tanto também dos álbuns lançados por eles nos anos 80.
Após alcançar o apogeu tocando um misto de Progressive Rock, Heavy Metal e Hard Rock, entre outros elementos (há de sempre ser lembrado que o Rush é uma banda plural, cheia de recursos, antilinear) culminando no ápice “Moving Pictures”, em 1981, o famoso trio canadense decidiu cair de cabeça na atmosfera sintética que invadia as rádios durante os anos 80. Tomando para si influências da época, sobretudo de conjuntos de Synthpop – que exploravam magistralmente os efeitos dos sintetizadores em suas musicalidades, definitivamente marcando época -, o Rush lançou em 1982 o belo álbum “Signals”, e na sequência, dois anos mais tarde, foi a vez de “Grace Under Pressure”, através da Mercury Records.
Seguindo a tendência iniciada no disco anterior, o conjunto apresenta um trabalho lindo, realmente “easy” de ser escutado. Seu estilo radiofônico é tranquilo e extremamente sintético, imersivo. De sonoridade intensamente guiada por teclados, o conjunto entrega um álbum de grande sentimento que não deixa de lado suas bases Progressive Rock, mas as combina ao Symphonic com bastante eficiência. Certamente “Grace Under Pressure” é um trabalho homogêneo, mas essa homogeneidade é nivelada por cima. Não há música mais destacável ou mais fraca, então seus 39 minutos totais de duração funcionam como algo a ser apreciado como um todo. Muitos diriam que é um trabalho morno – e é verdade, mas é um morno envolvente. O problema todo está na falta de compreensão e em expectativas distintas à realidade.
Desligue as luzes, feche os olhos e se deixe levar pela suavidade musical.
Confesso: sou suspeito para falar dessa época do Rush, não por ser extremamente fã (respeito demais, mas o trio não está entre minhas bandas preferidas), mas por ser apaixonado pelo Synthpop/New Wave oitentista. Por isso considero que, para a correta degustação desse trabalho, para entender e apreciar o que está sendo feito, faz-se bastante necessário estar antenado aos hits radiofônicos da época, através de grupos e artistas como A-Ha, Tears For Fears, Alphaville, e dezenas de outros.
O Rush não decepciona. Grande trabalho!
Formação:
Geddy Lee (vocal, baixo e teclados);
Alex Lifeson (guitarra e teclados);
Neil Peart (bateria).
Faixas:
01 – Distant Early Warning
02 – Afterimage
03 – Red Sector A
04 – The Enemy Within
05 – The Body Electric
06 – Kid Gloves
07 – Red Lenses
08 – Between The Wheels
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9/10