Estamos no ano de 2016 e em 12 de fevereiro deste, o ROTTING CHRIST lançara o seu décimo-segundo full-lenght, após um hiato de três anos em relação ao seu antecessor. E a banda capitaneada pelos irmãos Tolis, adentrou ao “Devasounds Studios“, em Atenas para a gravação enquanto que a mixagem e masterização ocorreu na cidade de Örebro, na Suécia, mais especificamente, no estúdio chamado “Fascination Street Studios“.
O disco foi lançado pelo selo “Season of Mist” e teve como produtor, Sakis Tolis. Sim, o cara é o verdadeiro faz tudo na banda: canta, toca guitarra, baixo, teclado, escreve as letras… Ou seja, ele cobra o escanteio e ainda corre para cabecear a bola lá dentro da área.
Confesso que conheço pouco, mas muito pouco da banda, escutei pela primeira vez lá nos idos de 1999, através de uma revista que eu sempre cito como uma das que me fizeram, de fato, virar um headbanger: a revista em questão era a Planet Metal, que vinha com um CD coletânea encartado e em uma destas edições, tinha uma música do ROTTING CHRIST, que acabara de lançar “The Sleep of Angels“, que para muitos, é o melhor álbum da banda. Na época, baixei o álbum, curti… e por alguma razão não mais escutei, assim, deixando de acompanhar o trabalho destes gregos.
Eis que muitos anos depois, pela ROADIE METAL, A VOZ DO ROCK, me foi dada a tarefa de escrever sobre este disco. Confesso que não sou fã de Black Metal, mas aqui o que temos é uma mistura de elementos que fazem com que a banda não soe apenas como mais uma daquelas bandas toscas oriundas da Noruega. Arrisco a dizer que aqui, o título Black Metal só se encaixa por causa das letras e seus respectivos títulos, como iremos ver mais abaixo.
E colocando a bolacha para rolar, temos a faixa de abertura, “In Nomini Dei Nostri” que possui riffs marcantes, um clima atmosférico, um belo início de disco. Esse som pode ser usado como trilha sonora do fim do mundo, para os que crêem nisso. Nesta faixa temos as participações do vocalista George Zacharopoulos (NECROMANTIA, PRINCIPALLITY OF HELL, THOU ART LORD) no vocal adicional e também do compositor sérvio Nikola Nikita Jeremic, na parte orquestral.
“Ze Nigmar” é uma faixa mais arrastada, puxada para Doom Metal. Em entrevista para esta ROADIE METAL, em 2017, o vocalista Sakis Tolis nos disse que essa música tem a ver com as últimas palavras que Cristo proferiu em aramaico.
“Elthe Kyrie” é a mais estranha do disco, onde o vocalista alterna vocais limpos e guturais, embora hajam ali boas partes de guitarra com clima atmosférico dando sequência e um belíssimo solo de guitarra, executado pelo guitarrista do LUCIFER’S CHILD, George Emmanuel, que participa ativamente das demais faixas de “Rituals” como backing vocal. Temos ainda as participações de Konstantis Mpistolis e Giorgos Mikas, tocando gaita de fole.
“Les Litanes de Satan (Fleurs du Mal)” tem riffs muito bons, embora não seja uma música rápida, ela se destaca por ser pesada e com um grande clima atmosférico. Nesta faixa, temos a participação do frontman do SAMAEL, Vorph, em que recita o poema do francês Charles Baudelaire, enriquecendo ainda mais o som.
“Apage Satana” tem umas batidas tribais e tem um clima meio gótico, meio gregoriano, ficando muito primitiva, sendo não tão interessante. Há quem vá gostar dela, mas particularmente, não me agradou. E curiosamente, essa fora a única faixa para qual a banda lançou um videoclipe oficial, como o caro leitor pode conferir abaixo.
“Thou Tanatou” é um cover do já falecido cantor grego NIKOS XYLOURIS e se mostra uma canção mais rápida, com direito até a uns blast-beat’s executados por Themis Tolis e bastante peso e um som atmosférico. Não conheço a versão original, mas esta do ROTTING CHRIST ficou muito boa. Aqui temos mais uma vez as participações da dupla Konstantis Mpistolis e Giorgos Mikas na gaita de fole.
“For a Voice Like Thunder” tem aquela intro clichê e pra lá de chata que as bandas de Black Metal costumam inserir, com Nick Holmes (PARADISE LOST) recitando frases do poeta inglês William Blake. E depois de algum tempo as guitarras entram em ação e deixam a música bem mais interessante. E tome mais clima atmosférico, que não soa pedante em nenhum momento.
“Komx on Pax” já traz um clima mais Stoner, com nítidas influências de BLACK SABBATH. É como se a banda de Toni Iommi resolvesse incluir teclados e resolvesse fazer Black Metal. A música é bem interessante. Temos nesta faixa uma nova participação do sérvio Nikola Nikita Jeremic na parte orquestral.
“Devadevam” é uma das poucas músicas chatinhas registradas em “Rituals“, e aqui me lembra o clima do BURZUM só que com mais gritos de Sakis Tolis. Temos nesta faixa, mais uma participação especial, o vocalista oriundo de Singapura, Kathir (RUDRA, THE WANDERING ASCETIC).
“The Four Horseman” que não é o clássico do METALLICA, e sim um cover da banda grega de rock progressivo APHRODITE’S CHILD, é bem diferente da homônima famosa, sendo uma música arrastada, bem Doom, chata, pedante, desprezível.
E fechando a obra, temos “Lok’tar Ogar”, uma faixa bônus e que finda de maneira melancólica um disco que foi bem na maior parte do tempo.
“Rituals“, como afirmou Sakis Tolis, é o final de uma tretralogia, que se iniciou no álbum “Thegonia” (2007). Em pouco mais de 53 minutos dá para perceber que trata-se de um bom disco, em que a produção é bem caprichada. O timbre das guitarras me impressionou bastante, isso é uma das primeiras coisas que eu vejo de cara quando escuto uma banda e pode me chamar atenção ou fazer com que eu despreze. Há bons e maus momentos, mas no geral é um disco que dá para passar de ano. Com sobras.
Lineup:
Sakis Tolis – Vocal/Guitarra/Baixo/Teclado
Themis Tolis – Bateria
Tracklisting:
01 – In Nomini Dei Nostri
02 – Ze Nigmar
03 – Elthe Kyrie
04 – Les Litanes de Satan (Fleurs du Mal)
05 – Apage Satana
06 – Thou Tanatou
07 – For a Voice Like Thunder
08 – Komx on Pax
09 – Devadevam
10 – The Four Horseman
11 – Lok’tar Ogar