É possível afirmar, com absoluta precisão, que este álbum é o primeiro grande clássico dos Rolling Stones. Há vários elementos que apontam para isso. Sendo o quarto álbum na discografia inglesa – e o sexto na americana – “Aftermath” foi o primeiro, em qualquer uma de suas versões, a conter apenas canções de autoria da dupla Mick Jagger e Keith Richards.

Tal fato demonstra a confiança que a gravadora estava colocando nos dois compositores. Os singles de sucesso vinham brotando e a aposta mostrar-se-ia acertada, pavimentando inclusive as condições para que o disco fosse também o primeiro a ser integralmente gravado nos Estados Unidos.

Um mar de rosas, então? Não necessariamente. A ascensão da dupla minimizou a influência e o poder de Brian Jones dentro do grupo. O guitarrista não tinha a habilidade de composição e os reflexos dessa mudança de dinâmica, dentro da banda, começaram a abrir caminho para o seu trágico destino.

A presença de Brian, porém, ainda se impunha com força nos arranjos. Cada vez mais desinteressado da guitarra, o músico tinha facilidade extrema para obter sons dos mais diversos instrumentos e usava esse talento para acrescentar texturas e soluções nas músicas de uma maneira que os demais não possuíam a mesma afinidade. Essa tendência experimental do músico iria ampliar-se mais e mais no futuro, mas em “Aftermath” ela já alavancava as composições para níveis inesperados.

Tanto a abertura com “Mother´s Little Helper”, quanto o encerramento com “What To Do”, trazem elementos de Country em abordagens bem diferenciadas entre si, passando também por “High and Dry” na parte intermediária do disco. “Stupid Girl” é um Rock mais direto e antecede a beleza bucólica de “Lady Jane”, onde Brian Jones acrescenta o som de um dulcimer.

A clássica “Under My Thumb” seria uma pálida versão de si mesma, caso não fosse o xilofone que conduz a totalidade de sua melodia. “Doncha Botter Me” segue a tradicional estrutura de Blues, mas a música seguinte fugiu de qualquer tradicionalidade, embora isso não tenha sido proposital. Costumeiramente, quando gravam uma música que irá terminar em fade out, os músicos prosseguem tocando até que o produtor mande parar. Essa era a intenção original em “Goin´Home”, que deveria concluir sua levada por volta dos três minutos de execução… mas a ordem de parar não veio, e a banda prosseguiu tocando e improvisando até os onze minutos e meio de duração.

“Flight 505” destaca-se pelo efeito de fuzz no baixo, acrescentado por Keith Richards, e que torna a ser utilizado ainda com mais presença em “It´s Not Easy”. A vibração do xilofone retorna para adornar a belíssima “Out of Time”, que sempre ficará marcada, para este redator, como a música dos créditos finais do filme “Amargo Regresso”, de 1978, com Jon Voight e Jane Fonda.

“I Am Waiting” inicia quase como uma canção de ninar, mas eleva seu tom a cada vez que Bill Wyman acrescenta uma linha de baixo de melodia floreada em acompanhamento ao comando das batidas de Charlie Watts. “Take It Or Leave It” e “Think” conduzem o disco para seus momentos finais com o senso de dever cumprido. O dever de confirmar que aquele grupo inglês estava predestinado a atravessar décadas ocupando um campo misto entre a história do Rock e a cultura popular.

Aftermath – Rolling Stones
Data de Lançamento: 15/04/1966
Gravadora: Decca

Tracklist:
01 Mother’s Little Helper
02 Stupid Girl
03 Lady Jane
04 Under My Thumb
05 Doncha Bother Me
06 Goin’ Home
07 Flight 505
08 High and Dry
09 Out of Time
10 It’s Not Easy
11 I Am Waiting
12 Take It or Leave It
13 Think
14 What to Do

Formação:
Mick Jagger – vocal e gaita
Brian Jones – guitarra, xilofone, dulcimer, gaita e teclados
Keith Richards – guitarra e vocal
Charlie Watts – bateria
Bill Wyman – baixo

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