Estamos aqui para falar de música, antes de qualquer outra coisa, mas não podemos ignorar o restante dos elementos que perfazem o pacote. A discografia do Riot sugere que eles direcionam uma parte bem curta de seu orçamento para as capas. São bem ruins, mas a de “Born in America” consegue ser a pior. Seria bem razoável para um disco pirata, mas não para uma banda que já está em seu quinto álbum de estúdio. Dito isso, passemos para o conteúdo sonoro.
Era 1983, ano de “Piece of Mind”, “Holy Diver”, “Pyromania” e “Another Perfect Day”. Também era o ano de “Kill’Em’All”, “Show No Mercy” e “Melissa”, mas as bandas responsáveis por estes três últimos álbuns ainda eram fenômenos underground em ascensão. O Heavy Metal, de forma geral, era ditado por Judas Priest, Scorpions ou Black Sabbath. O cenário norte-americano vinha sendo ocupado por grupos como Twisted Sister, Savatage e Manowar, mas o Riot já tinha ares de veterano, tendo lançado seu primeiro trabalho em 1977.
Quando o vocalista da primeira formação, Guy Speranza, deixou a banda, o líder Mark Reale convocou o cantor Rhett Forrester, mas a primeira experiência com este, no disco “Restless Breed” não foi muito bem recebida pelos fãs, apesar do talento de Rhett. As críticas ocorreram por conta da tendência mais radiofônica do material e, portanto, para o álbum seguinte, seria necessário algum ajuste de percurso.
“Born in America” é um disco que oscila entre bons momentos, momentos razoáveis e alguns que deveriam ter sido deixados de lado. Infelizmente, essa última categoria é a que abre a audição. A faixa título é completamente descartável, clichê e sem qualquer vibração. Nem o solo empolga e os backing vocals conseguem piorar a situação.
O Hard Rock ocupa, nos primeiros momentos do disco, mais espaço do que o Heavy Metal e “You Burn In Me” é um agradável Hard melódico. Rhett tem talento e demonstra versatilidade na transição para a metálica e agressiva “Wings of Fire”. Essa faixa tem alguns elementos que preconizam o que o W.A.S.P. iria fazer mais à frente.
Nesse momento, parece que o álbum engrena e “Running From The Law” prossegue com a proposta de peso, embora dentro de um andamento mais cadenciado. O cover de Cliff Richard, “Devil Woman”, não acrescenta pontos no desempenho do disco e ficou, de certa forma, deslocado entre a faixa anterior e a excelente “Vigilante Killer”, única canção composta exclusivamente por Rhett dentro do material, mas que fez valer a pena sua inclusão.
O punch de “Vigilante Killer” prossegue em “Heavy Metal Machine”. “Where Soldiers Rule”, assinada pelo guitarrista Rick Ventura, destaca-se por um andamento levemente épico, mas será em “Gunfighter” que poderemos identificar os detalhes que caracterizam o Metal americano, do qual o Riot foi um dos arquitetos.
Ventura cuida do encerramento do álbum, com “Promised Land”, que infelizmente não soa tão boa quanto sua contribuição anterior, embora possua alguns toques setentistas em seu riff, mas que não fazem a faixa decolar.
Mesmo não sendo um trabalho de excelência plena, “Born In America” consegue apresentar seus bons momentos. As faixas menos empolgantes não possuem força suficiente para macular o material como um todo, mas não há argumentos para defender o fato da pior música ser a responsável por batizar o disco. Quando for escutar, pule esta e o resto dá para fluir bem.
Born In America – Riot
Data de lançamento: 14 de outubro de 1983
Gravadora: Quality America
Tracklist:
01 Born in America
02 You Burn in Me
03 Wings of Fire
04 Running from the Law
05 Devil Woman
06 Vigilante Killer
07 Heavy Metal Machine
08 Where Soldiers Rule
09 Gunfighter
10 Promised Land
Formação:
Rhett Forrester – vocal
Mark Reale – guitarra
Rick Ventura – guitarra
Kip Leming – baixo
Sandy Slavin – bateria