A ascensão do Rammstein dentro do cenário da música contemporânea foi realmente meteórica. Tão meteórica quanto desafiadora, diga-se, pois romperam com o paradigma de que a língua inglesa seria o vernáculo obrigatório para o sucesso global.

Não é, e os alemães impuseram o seu idioma. Decisão acertada, pois os fonemas germânicos são perfeitos para a música superlativa do Rammstein. Nunca se tratou meramente de um exotismo. Os riffs intensos e as batidas pontuais são a cama para o barítono da voz de Till Lindemann, embora o vocalista passeie por outros espectros, entre sussurros e tons mais rasgados. O conceito do grupo, no entanto, extrapola as composições e alcança as performances de palco, de uma forma literalmente explosiva, chegando a rivalizar – ou até mesmo ultrapassar – mestres nessa área, como os veteranos do Kiss, para quem eles abriram shows no Brasil.

“Reise, Reise” é o quarto álbum dentro de um período de nove anos. A capa traz a imagem parcial de uma caixa preta de avião e o contexto de algumas canções inclina-se nessa direção, tendo como fato inspirador um acidente áereo ocorrido em 1985, quando uma aeronave da Japan Airlines caiu entre a cadeia de montanhas do Monte Fuji e matou 520 dos seus 524 passageiros e tripulantes.

A faixa título abre o processo de audição com um andamento contido, apesar do refrão grandioso, permitindo espaço para o Metal Industrial ipsis litteris apenas em “Mein Teil”, com riffs fortes e variações de humor que vão da neurose claustrofóbica até a explosão de fúria gerada por uma história real de canibalismo. “Dalai Lama” tem uma presença maior dos teclados, que sobrevoam a dureza do ritmo, crescendo em tensão até o refrão suave.

O Rammstein é daqueles grupos que conseguem inserir uma grande variedade de abordagens e andamentos em seus discos, mas sem se distanciar de seu muito próprio padrão de expressão. É dessa forma que chegamos até “Keine Lust”, com o lado Metal falando mais alto e mantendo a coerência do álbum. A grande surpresa surge com “Los”, conduzida por violão, mas com uma levada que, inusitadamente, lembra demais algo que poderia ter sido inspirado por AC/DC, por mais estranho que possa soar a ideia de um cruzamento entre as duas bandas.

A normalidade retorna com a dobradinha “Amerika” e “Moskau”, com esta última se destacando pela participação da cantora estoniana Viktoria Fersh. “Morgenstern” seria a inversão de “Keine Lust”, dessa vez com o approach Industrial em primeiro plano. Entrando na reta final, “Stein Um Stein” traz um  sufocante tema de confinamento onde os gritos de Lindemann não são gratuitos, estando no pleno contexto de sua letra.

“Ohne Dich” é uma autêntica balada de solidão, com uma melodia épica que realmente emociona. “Amour”, com esse título, meio que chega já entregando também a sua vocação para balada, mas a perspectiva é bem outra, com a faixa apresentando melodias que poderiam ter sido inspiradas na obra do compositor francês Serge Gainsbourg.

“Reise, Reise” efetivou-se como um dos principais álbuns da banda e singles como “Mein Teil” e “Ohne Dich” permanecem presentes nos setlists de suas apresentações. A proporção, a época, o modus operandi, são bem diversos, mas o certo é que o Rammstein não poderia ter saído de outra região senão aquela que um dia nos deu o Kraftwerk!

Rammstein – Reise, Reise
Data de lançamento: 27 de setembro de 2004
Gravadora: Universal/Republic

Tracklist
01 Reise, Reise
02 Mein Teil
03 Dalai Lama
04 Keine Lust
05 Los
06 Amerika
07 Moskau
08 Morgenstern
09 Stein um Stein
10 Ohne dich
11 Amour

Formação
Till Lindemann – vocal
Richard Z. Kruspe – guitarra
Paul Landers – guitarra
Oliver Riedel – baixo
Christoph Schneider – bateria
Christian Lorenz – teclado

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