“Alive and Whell” (1999) foi a oportunidade em que o Quiet Riot encontrou para se reconectar com seu glorioso passado. Afinal de contas a formação clássica, Kevin DuBrown (vocais), Carlos Cavazo (guitarra), Rudy Sarzo (baixo) e Frankie Banali (bateria) havia sido finalmente reativada em 1997, depois de um período de muitos percalços. A verdade é que o Quiet Riot foi do céu ao inferno. As dificuldades após o surgimento no início da segunda metade dos anos 70, onde Randy Rhoads (ele mesmo, o mago do início solo de Ozzy Osbourne) fazia parte do processo, e os dois primeiros discos do grupo lançados apenas no Japão, praticamente naufragaram. Randy trilhou seu talento com Ozzy, e a banda por muito pouco não acabou.
Até que finalmente em 1982 conseguiram um contrato de gravação nos EUA e o resultado foi assombrosamente além das expectativas: “Metal Heath” foi o disco que “arrombou” as portas do Heavy-Metal para o mundo, tirando o então inabalável “Thriller” de Michael Jackson (o disco mais vendido da história da música fonográfica) do primeiro lugar da Bilboard. Um feito realmente de grandes proporções e nesse momento eram a banda do momento! O clipe da faixa-título ficou por uma semana em primeiro lugar na MTV, além do impacto que causou pela qualidade aliada ao som, muito se deu pela visibilidade em ter feito parte da trilha do sucesso do cinema “Footloose”. O segundo single, o cover matador do Slade, “Cum On Feel the Noise”, conseguiu outro feito: colocou a canção no TOP 5 da parada americana. Nenhuma outra banda do gênero tinha alçado tal feito.
Mas depois infelizmente as coisas desandaram. Declarações infelizes de DuBrown que pegaram mal com os fãs e a opinião pública, desentendimentos que fizeram a formação se desmantelar, discos irregulares que passaram longe da qualidade de “Metal Heath”, processos judiciais, fora o arquétipo da tríade clichê na época de “sexo, drogas e rock’n’roll”, que quantas vezes já não vimos implodir bandas? Lembrando também que na década de 90, qualquer outro subgênero do rock foi DIZIMADO pelo movimento grunge. O que não fosse mais simplista sonoramente, melancólico e nada festivo, era muitoooo bem vindo e SÓ!
Completamente em baixa, “Alive and Whell” (nono registro de estúdio) traz o retorno da formação clássica, em uma cartada em busca de dias melhores para o Quiet Riot. Por mais que o nome do álbum sugira, não traz nada ao vivo, mas sim gravações inéditas e regravações de alguns de seus maiores sucessos. O retorno realmente trouxe empolgação aos fãs mais antigos, mas quanto ao resultado, vamos lá…
O momento obviamente não era de ousar, mas sim reconsolidar o vigoroso Hard’n’Heavy de outrora. Claro que músicos de extrema competência vão apresentar material a altura no gênero que os consolidou, mas infelizmente isso ocorre sem os maiores “brilhos” do passado. A abertura com “Don`t know what I want”, apesar do peso alternado com o irresistível refrão grudento, traz letra amarga e nitidamente soa como um desabafo dos percalços em sua trajetória. Bom início! “Angry” é outra boa canção, onde o teletransporte para os anos 80 é imediato. O riff e a dinâmica melódica são cativantes! A faixa título é outra que fala sobre redenção, ter fé, sair do inferno, coisas do tipo… Destaque para o belo solo com slide de Cavazo. Canção mais correta do que contagiante.
Mas aí o jogo vira em “The Ritual”, ótima música de levada mais cadenciada e riff poderoso. O refrão tem ares épicos, contrastando com a letra que mais uma vez fala em fugir da escuridão. Me paira a dúvida: desabafos ou mera influência de vibe das letras dos anos 90? Uma coisa vale a pena ressaltar: com o advento dos CDs, mais músicas tinham a “obrigação” em serem disponibilizadas do que a média (10 aproximadamente) do formato em vinil. Então se tornou ainda mais difícil a premissa de produzir um disco clássico (apesar de não ser impossível, tivemos alguns!) com tanto material autoral. Por isso é entendível essa proposta em preencher “Alive and Whell” na segunda metade com regravações.
“Overworked And Underpaid” novamente no piloto automático, mas em “Slam Dunk (Way To Go!)” temos o momento festivo tradicional que associamos a banda e estávamos aguardando desde o início. Poderia muito bem figurar entre os grandes clássicos da banda! “Too Much Information”, apesar de manter a levada contagiante, traz novamente um conflito psicológico em sua narrativa. “Against the wall” já soa novamente burocrática sonoramente, em mais uma letra tratando de “estados desesperantes”. Banali (para variar!) faz um excelente trabalho, assim como o ótimo solo de Carlos.
Então temos o cover de “Highway to hell” do AC/DC, bastante similar a original, nada de novo no front. Única coisa a comentar é Kevin com seu estilo vocal que sempre foi comparado a Steve Marriot (Humble Pie), querer soar como Brian Jonhson e Bon Scott simultaneamente. Deixou um pouco a desejar, apesar do esforço aparente… E então, finalmente partimos para a regravação dos petardos que deram notoriedade a banda. “Sign of the times” (“Condition Critical”), “The wild and the young” (“Q R III”) e as duas versões do Slade que foram sucessos absolutos, “Mamma Weer all Crazee now” e “Cum on feel the noize”, com obviamente “Metal Health (Bang Your Head)”, apresentadas sem muitas novidades, versões precisas.
Mas em compensação a pegada mais acústica em “Dont wanna let you go” (“Metal Heath”) é o grande momento do disco! A música é provavelmente o melhor registro da história da banda, mas os arranjos belíssimos de violão e o jeito mais descompromissado em cantar de DuBrown (característica percebida nas regravações), realmente suscita que os vocais foram gravados ao vivo, de uma tacada só. Foi o único clássico que foi reinventado para MELHOR, dependendo do “gosto do freguês”, é claro…
“Alive and Whell” vale pela tentativa em se reconectar com seu público, porque definitivamente o momento não era nada propício para esse tipo de sonoridade. O bônus em ter a formação “dourada” retornando, que acabou valendo mais que o resultado apresentado. Nota 7,5.
Alive and Whell (1999) – Quiet Riot
Lançamento: 23 de março de 1999
Gravadora: DeadLine Music
Faixas:
01. Don’t Know What I Want
02. Angry
03. Alive And Well
04. The Ritual
05. Overworked And Underpaid
06. Slam Dunk (Way To Go!)
07. Too Much Information
08. Against The Wall
09. Highway To Hell
10. Sign Of The Times 1999
11. Don’t Wanna Let You Go 1999
12. The Wild And The Young 1999
13. Mama Weer All Crazee Now 1999
14. Cum On Feel The Noize 1999
15. Metal Health (Bang Your Head) 1999
Formação:
Kevin DuBrown (vocais)
Carlos Cavazo (guitarra)
Rudy Sarzo (baixo)
Frankie Banali (bateria)