Sim, era um disco de estreia, e a banda ainda iria passar pelas naturais mudanças que advém de suas evoluções como músicos e compositores, mas, ainda assim, analisando hoje, percebemos que já havia uma identidade em formação naquele trabalho. “Queen”, de 1973, ostentava influências de Led Zeppelin, de Sweet e de Rock Progressivo, mas apresentava também os primeiros indícios do que se tornaria o “modo Queen” de fazer música. A capa, simples e monocromática à primeira vista, trazia subliminarmente uma ideia de grandiosidade incontida e, desde logo, o brilho da estrela de Freddie Mercury, que absorvia e alimentava a energia emanada dos holofotes.
Houve insatisfações com a produção, naturalmente, e o principal incomodado foi Roger Taylor em relação ao som de sua bateria, mas não havia mais tempo para aprimorar todos os detalhes, pois os cronogramas de lançamento/turnê/gravação eram bem mais apertados no período. O disco precisava sair e, apesar de um detalhe ou outro que seus criadores gostassem de mudar, conseguiu posições satisfatórias e um status de clássico que permanece indelével até hoje.
A música de abertura, “Keep Yourself Alive”, é uma canção vibrante e empolgante, com um refrão irresistível, e que escancara desde cedo o perfeccionismo de Brian May, que sobrepôs sete linhas de guitarra em sua gravação. “Doing All Right”, reminiscente do acervo de músicas do Smile, banda anterior de Brian May, oscila entre balada e Rock pesado, mas esse último estilo surge mais bem representado em “Great King Rat”, onde May pontua alguns momentos do solo com um pedal de wah-wah.
No final do disco, a última faixa chama-se “Seven Seas of Rhye” e é uma espécie de vinheta instrumental da canção de mesmo nome que estaria no álbum seguinte. O termo “Rhye”, de seu título, refere-se a um mundo fictício criado por Mercury e que é o tema principal de “My Fairy King”, repleta de imagens surreais em sua letra e que faz também citações ao poema “The Pied Piper of Hamelin”.
O lado B, da versão em vinil, abria com as batidas e palmas de “Liar”, composição de Mercury com peso, variações e um solo melódico interrompido aos 4:15m para uma guinada rítmica, onde os vocais irão interagir com a percussão e a guitarra retornará com mais volume. Depois de seu impacto, foi correta a opção de inserir a balada agridoce “The Night Comes Down” na sequência. Seu andamento combina com as reminiscências de infância do autor, Brian May, e foi a única música do disco a ser composta com a participação do baixista John Deacon na banda, pois todo o restante do material era do período antecedente à sua entrada.
Subitamente, a acelerada “Modern Times Rock’n’Roll” explode nos alto-falantes, sendo a única composição do baterista Roger Taylor no disco, que fez questão de cantá-la. A próxima, “Son & Daughter”, diminui a levada, mas investe em uma cadência que remete ao proto-Heavy Metal do começo da década, conduzindo-nos para o encerramento com “Jesus”, de teor obviamente religioso.
A crítica, as plateias, o mercado, todos ainda precisavam ser conquistados, mas hoje nós olhamos para esse período como historiadores e sabemos aquilo que em pouco tempo tornar-se-ia notório. Em 1973, um gigante surgiu na Inglaterra e fez com que o mundo se inclinasse perante a majestade de seu nome.
Queen
Data de Lançamento: 13.07.1973
Gravadora: EMI
Tracklist:
01 Keep Yourself Alive
02 Doing All Right
03 Great King Rat
04 My Fairy King
05 Liar
06 The Night Comes Down
07 Modern Times Rock ‘n’ Roll
08 Son and Daughter
09 Jesus
10 Seven Seas of Rhye…
Formação:
Freddie Mercury – vocal, piano
Brian May – guitarra, piano
Roger Taylor – bateria, vocal em “Moder Times Rock’n’Roll”
John Deacon – baixo