“É um BOM disco do Pearl Jam, mas que não soa como um disco do Pearl Jam”. Exatamente essa foi a recepção mediante o lançamento de “No Code” no ano do seu lançamento. Vamos discorrer sobre o que ocorreu para que a banda de Seatlle cometesse esse arroubo de ousadia e o porque desta execução. O Pearl Jam teve uma das ascensões mais meteóricas da história. O impacto de “Ten” em 1991, talvez uma das maiores estreias da história da música, foi arrebatador. Entraram de “sopetão” nos grandes panteons do rock’n’roll mundial, com toda justiça!

“Vs.” (1993) manteve o padrão nas alturas, outro grande sucesso, mais HITS e uma turnê avassaladora. Logo em seguida, o ótimo “Vitalogy” (final de 1994), com a banda direto na estrada e sendo alçada a uma das maiores instituições musicais do planeta. E detalhe, em pleno auge da MTV, deixou de produzir vídeo-clipes (por iniciativa ideológica)! Realmente se consistia em um fenômeno…

Uma pausa até o lançamento de “No Code” em 1996, com bela capa de grafismo inovador, formada por 144 polaroides, tiradas pela banda, divididas em quatro secções. O resultado final acabou causando estranheza na maior parte do seu público. Ok, o caráter experimental também chamou a atenção de uma nova legião de admiradores. Mudança era a palavra de ordem, ainda mais com o relato de Eddie Vedder sobre o disco: “Fazer o álbum ‘No Code’, foi tudo sobre ganhar novas perspectivas”, dando a entender que havia sido um processo planejado. O produtor do álbum, Brendan O’Brien (o mesmo dos dois álbuns anteriores), afirmou que “sempre fui o cara que tentava empurrá-los para serem mais universais”. Na verdade não foi bem assim…

Os últimos anos promovendo os álbuns anteriores, com excursões extenuantes pelo mundo inteiro, começaram além de obviamente desgastar fisicamente, causar uma “implosão” dentro do grupo. Isso promoveu uma espécie de “apropriação” do processo por parte de Vedder. Por exemplo, o baixista Jeff Ament não estava ciente de que a banda estava gravando, até três dias depois das sessões terem iniciado, afirmando: “Eu não estava super envolvido com esse álbum em nenhum nível”. O guitarrista Mike McCready reforçou: “Tenho certeza que Jeff estava chateado, devido a separação que a banda estava passando… Todos estávamos meio chateados uns com os outros”.

O produto final multifacetado não foi a toa. Aliás, podemos dividir “No Code” em três vertentes sonoras que se revezam: um lado mais intimista e melancólico, onde fica latente que o vocalista expurga seus fantasmas nas letras perante o momento atual. Podemos destacar nesse intento, as faixas “Sometimes”, “Off He Goes”, “I’m Open”, “Around the Bend” e “Present Tense”. A segunda é um lado que sempre apareceu forte no feeling da banda, aquele folk-country-rock a la Neil Young, Bob Dylan e The Byrds, como “Who You Are”, “Red Mosquito” e “Smile”. E por último, uma pegada de rock “garagero” mais sujo que o habitual (“Habit” e “Lukin”), que caiu como uma luva em um disco gravado ao vivo (ainda teve isso!). Há também ecos do “velho” Pearl Jam, mas sempre com uma dose de experimentalidade, como “In my Tree” e “Hail, Hail”, com batidas tribais se fazendo presente. “Lukin” e “Mankind” tem vocais de Grossard, e acabam sendo uma espécie de misto de todo o procedimento no álbum.

O jornalista David Browne, da revista Entertainment Weekly, afirmou na época que “o disco ‘No Code’ mostra uma gama maior de estados de espírito e instrumentação, do que qualquer outro álbum do Pearl Jam”. Já David Fricke, lendário jornalista da revista Rolling Stone, deu ao disco 04 de um total de 05 estrelas, e elogiou veementemente: “‘No Code’ basicamente significa um livro sem regras, sem limites e acima de tudo, sem medo”. Posteriormente Stone Gossard relatou: “É um disco parcialmente amador, estávamos apenas improvisando e tentando coisas que talvez não funcionassem muito bem”. Eddie Vedder expressa sua visão distinta: “Diminuir aquele nível de sucesso um pouco, foi provavelmente bastante útil em termos criativos”.

E com todo o estranhamento, o prestígio do grupo fez o disco ter uma bela carreira: 1º lugar no ranking da Billboard e também alcançou o topo máximo na Austrália, Canadá, Dinamarca, Nova Zelândia, Portugal e Suécia, além de um 3º lugar na Áustria, Irlanda, Noruega e Reino Unido. Foi top 04 e 05 em países como Bélgica, Holanda, Finlândia e Itália.

https://www.youtube.com/watch?v=iwAK9FD0ye4&t=24s

No Code – Pearl Jam
Data de lançamento: 27 de Agosto de 1996
Gravadora: Epic 

Track-list:

1. Sometimes
2. Hail Hail
3. Who You Are
4. In My Tree
5. Smile
6. Off He Goes
7. Habit
8. Red Mosquito
9. Lukin
10. Present Tense
11. Mankind
12. I’m Open
13. Around The Bend