Após o firmamento de sua força e de sacramentar sua sonoridade em Draconian Times, o Paradise Lost resolveu reforçar um lado explorado neste disco no próximo, One Second : o comercial.

Desde o primeiro álbum, o Paradise Lost nunca gravou um álbum igual ao outro e veio evoluindo sua musicalidade, tornando-a única e pioneira (Gothic Metal), mas ao mesmo tempo cada vez mais acessível. Com o lançamento de One Second, em 1997, os fãs da banda viram-na se movendo para um Gothic Rock, com menos peso, mas com o mesmo foco na melancolia, sua marca registrada.

Todavia, nem tudo aqui foram flores.

As influências comerciais se tornaram bastante latentes aqui e afetaram até no próprio visual da banda: o figurino mais largado deu lugar a roupas mais simples e os cabelos compridos de todo mundo foram sumariamente decapitados. As guitarras da dupla Mackintosh/Aedy ainda se fazem presentes, mas com menos peso, e as novas composições tem agora um acentuado quê de Pop, lembrando muito os gigantes do Depeche Mode. As duas primeiras faixas, One Second e Say Just Words se tornaram hits instantâneos. O cantor Nick Holmes agora limpou de vez seus vocais, pouco se utilizando agora de drives, e nem de longe lembrando os guturais agressivos da era Death/Doom.

Sobre este álbum, Gregor Mackintosh explica o que estava acontecendo na época em entrevista a edição #161 da revista Roadie Crew:

“Após os álbuns ‘Icon’ e ‘Draconian Times’ e mais de dois anos em turnê sem parar, estávamos cansados e demos uma parada. Reunimo-nos após um ano e percebemos que estávamos buscando uma mudança, não queríamos gravar um ‘Draconian Times’ parte 2. Queríamos algo que nos animasse e nos desafiasse, e as músicas de ‘One Second’ foram o reflexo do que buscávamos naquele momento.”

Depois da dupla que abre o disco, a pesada e sinistra Lydia segue os trabalhos de One Second, pavimentando o caminho para a depressiva e eletrônica Mercy e para o pós-punk “Joy Division” de Soul Corageous. Another Day é outro hit acessível que antecede outra mais pesada e eletrônica, The Sufferer. Até aqui, as guitarras de Mackintosh não fazem tanto seu papel de sempre, que é o de solar lindamente a todo tempo, emoldurando as linhas vocais de Nick. As bases de Aedy não são mais tão pesadas quando elas se fazem necessárias. Por outro lado, a cozinha formada por Stephen Edmondson no contrabaixo e por Lee Morris na bateria imprime um groove empolgante e forte, que, se não fosse o caso, tornaria One Second um disco deveras maçante.

A alternância entre músicas acessíveis e tentativas de sons mais pesados continuam com This Cold Life e Blood Of Another, esta com as bases de guitarra de volta ao peso, que a mixagem infelizmente não deixou aflorar como deveria, culpa de Ulf “Sank” Sandqvist, produtor e mixer do disco, e que também colaborou com as linhas de teclado. Disappear é cansativa e é uma frustante tentativa de soar como Enchantment, clássica abertura de Draconian Times. Sane tem um ótimo trabalho de guitarras de Gregor Mackintosh (como é de se esperar) e de Edmondson em seu contrabaixo cujo timbre parece que foi mergulhado. O final com Take Me Down faz jus ao seu nome: uma batida como ecos distantes é onde se baseia a voz quase sussurrada de Holmes, em cima de uma cama cavernosa de teclados. Só isso durante quase seis minutos.

De fato, como bem disse Mackintosh parágrafos acima, One Second não é um “Draconian Times parte II”. Longe disso! Apesar de começar a seguir caminhos comerciais, Draconian Times se tornou clássico pela originalidade e pela inspiração divina em compor esta obra. Infelizmente, esta fonte de inspiração secou-se em One Second: se não fosse pelos cativantes hits que abrem o disco e pelo trabalho hercúleo da cozinha Edmondson/Morris, este seria talvez o trabalho mais cansativo do Paradise Lost. A banda teve que rever sua cartilha de “como soar como Depeche Mode” para se preparar para o mais controverso trabalho de sua discografia, o eletrônico Host, de 1999. Mas isto é assunto para amanhã.

 

One Second – Paradise Lost (Music For Nations, 1997)

Tracklist:
01. One Second
02. Say Just Words
03. Lydia
04. Mercy
05. Soul Corageous
06. Another Day
07. The Sufferer
08. This Cold Life
09. Blood Of Another
10. Disappear
11. Sane
12. Take Me Down

Line-up:
Nick Holmes – vocais
Gregor Mckintosh – guitarras, teclados
Aaron Aedy – guitarras
Stephen Edmondson – contrabaixo
Lee Morris – bateria

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