“A próxima música é do controverso álbum ‘Host’!”
Foi assim que Nick Holmes anunciou a música So Much Is Lost, no show que ficou registrado no CD/DVD ao vivo The Anatomy Of Melancholy, de 2008. O álbum Host, lançado em 1999, é, como bem disse Nick Holmes, o mais controverso da discografia do Paradise Lost. A banda considerada pioneira em desbravar os estilos Death/Doom e Gothic Metal, passava a praticar um som completamente diferente, um Electronic/Gothic Rock.
Parecia uma praga que atingiu as bandas de Death/Doom ou Gothic Metal na época do Bug do Milênio. Várias delas deixaram de lado suas sonoridades tradicionais, moldadas no Doom Metal, e migraram para sonoridades mais comerciais e eletrônicas. A primeira foi o The 3rd And The Mortal ainda em 1996, lançando um álbum esquisito intitulado Painting On Glass, com alguma influência do Kraftwerk. Theatre Of Tragedy redefiniu o Gótico com Aegis em 1998 para depois lançar o álbum de Electronic/Gothic Rock Musique, no ano 2000. Até mesmo o My Dying Bride, o “Slayer” do Doom Metal, ensaiou uma derrapada no impronunciável 34.788%… Complete, de 1998. Eu ouvi alguém falar Anathema…?
Pois bem, voltemos ao Paradise Lost. Lançado pela poderosa gravadora EMI, que na época estava injetando rios de dinheiro na banda, Host não representa uma surpresa, nem é uma bolha de ar isolada dentro do oceano de variedade musical que é a discografia do Paradise Lost. Este álbum representa não só a sequência, mas também o ápice de uma evolução musical que a banda vinha desenvolvendo nos últimos discos, não no sentido de melhoria (nem de piora). Partindo de um Death/Doom mórbido e podre de seu debut Lost Paradise (1990), o grupo foi agregando novos elementos à sua musicalidade, tornando, paulatinamente, seu som mais acessível. Draconian Times já trazia diversos elementos comerciais em sua música, elementos estes que estiveram mais presentes em One Second, de 1997. Aconteceu até mesmo de Grogor Mackintosh, um mago da guitarra melódica, tê-la abandonado ao vivo para se dedicar às linhas de teclado.
https://www.youtube.com/watch?v=znSsl1uQago
Musicalmente falando, pode-se dizer que Host é um álbum de Electronic/Gothic Rock (se você tiver um nome melhor que esse, pode ser também). Neste álbum, Depeche Mode, New Order e The Sisters Of Mercy são facilmente lembrados. Aqui as guitarras existem, mas aparecem de modo intrínseco aos teclados e sintetizadores que recheiam todos os arranjos do disco, sendo quase impossível um ouvido menos atento dissociá-los. E o fator humano do excelente baterista Lee Morris desaparece quase que por completo devido as mixagens nos timbres da bateria, deixando muito com cara de bateria programada. Gregor Mackintosh comenta sobre Host, em entrevista ao site Cryptic Rock:
“Estávamos envoltos em nossa pequena bolha e nós sabíamos que isto poderia ser uma espécie de suicídio comercial para nós no gênero Heavy Metal. Nós obviamente não nos importávamos. Nós apenas estávamos tentando ser felizes por um momento. […]Eu penso que isso é uma parte importante da nossa história e para nos colocar onde estamos hoje”.
A já citada So Much Is Lost inicia os trabalhos assustando o ouvinte com seus efeitos eletrônicos psico-cósmicos e guitarras sintetizadas, guiadas por uma bateria completamente remixada, onde mesmo assim Lee Morris tira leite de pedra graças ao seu groove característico. Esta música se tornou a mais conhecida e querida do disco com o passar do tempo, sendo tocada ao vivo até não muito tempo atrás. Em seguida, vem a densa e grudenta Nothing Sacred, uma das melhores do álbum.
Apesar de o Paradise Lost ter migrado de estilo musical, a sua essência permaneceu intacta: temos em Host músicas de clima melancólico, densas e com a veia gótica que sempre os acompanhou. Neste quesito, a banda se manteve a mesma. Prova disso são as músicas Harbour e It’s Too Late. Mas a visão comercial foi fortemente explorada em músicas como Permanent Solution, que apresenta um refrão com bases pesadas de guitarras, em um raro momento no disco. A música Wreck se encaixaria confortavelmente no álbum Ultra, do Depeche Mode. Entra em ação a cozinha formada por Stephen Edmondson e Lee Morris, dando muito peso para Made The Same e uma ótima groovada em Year Of Summer, em um dos poucos registros da banda onde Aaron Aedy performa um solo de guitarra, departamento exclusivo de Gregor Mackintosh. Um belo trabalho orquestrado de cordas encerra melancolicamente o disco com a faixa-título.
No disco anterior, One Second, Nick Holmes já havia abandonado completamente qualquer resquício de vocais agressivos e até mesmo seus drives, apostando em vocais limpos e linhas melódicas à la Dave Gahan (Depeche Mode). Durante este período, o Paradise Lost apareceu de cabelos decepados e visual recatado. Mas a mudança não foi somente física, pois até mesmo músicas clássicas da primeira metade dos anos 90 ganharam nova roupagem, como a obrigatória As I Die, de Shades Of God.
Host é um álbum para ser ouvido e apreciado de mente aberta, sem que nos lembremos do passado ou do presente do Paradise Lost. Foi um momento onde a banda ousou impor seus sentimentos na música, sem se importar com os antigos fãs. Atitude esta perigosa, pois se uma banda já tem uma base de fãs consolidada graças a uma sonoridade específica, partir para novos territórios musicais pode ser um suicídio. Felizmente, o Paradise Lost voltou a fazer o que sabe de melhor e Host hoje é um álbum querido e compreendido, absolvido no tribunal dos fãs, com a prerrogativa de ter mantido a essência da banda e de sua música.
Mas a coisa ainda poderia piorar, mesmo com a volta do peso nas guitarras em Believe In Nothing, de 2001. Mas isso é assunto para amanhã.

Host – Paradise Lost (EMI, 1999)
Tracklist:
01. So Much Is Lost
02. Nothing Sacred
03. In All Honesty
04. Harbour
05. Ordinary Days
06. It’s Too Late
07. Permanent Solution
08. Behind The Grey
09. Wreck
10. Made The Same
11. Deep
12. Year Of Summer
13. Host
Line-up:
Nick Holmes – vocais
Gregor Mackintosh – guitarras, teclados
Aaron Aedy – guitarras
Stephen Edmondson – contrabaixo
Lee Morris – bateria