Caiu sobre mim a responsabilidade de encerrar essa primeira aparição do Roadie Metal Cronologia, assim como muitos de vocês, espero que seja um até breve. O mais curioso disso, é que também recaiu sobre mim a incumbência de falar de um dos melhores álbuns de 2020, e esse foi lançado pela banda que roubou meu coração, o Pain of Salvation. Prometo não enviesar a resenha, nem açucarar demais as palavras, tentarei ser sucinto e direto, por mais que o disco em questão, o “Panther”, nos obrigue a comentá-lo por horas e horas. Pra quem conhece a história do grupo, ou acompanhou essa cronologia desde o início, percebeu que não estamos falando de uma banda que se acomoda com o senso comum, e sim de músicos inquietos, que sentem prazer em pegar seus ouvintes e levá-los à mais desconfortável e fantástica viajem das suas vidas.
“Panther” é o décimo primeiro álbum de estúdio da carreira do Pain of Salvation, depois de pouco mais de três anos do lançamento do ótimo “In The Passing Light Of Day”, Daniel Gildenlow e sua turma se encontravam com um problema, sua “Full Throttle Tribe” estava defasada, Ragnar Zolberg decidiu deixar a banda, porém, por sorte, a busca por um novo integrante durou pouco, Johan Halgreen, velho conhecido dos fãs se prontificou e reassumiu o posto que foi seu por anos e anos.
Com a tribo reformada “Panther” nascia, e como não poderia ser diferente, causando mais estranheza do que qualquer coisa que o PoS já criou nessa vida. Só para contextualizar e deixar vocês mais imersos nessa obra, o álbum é uma peça conceitual que trata dos conflitos e contradições entre as chamadas “pessoas normais” (os cães, dentro do contexto do álbum), e aquelas que se sentem deslocadas em relação aos padrões sociais comuns, aquelas pessoas que se conectam de maneira totalmente diferente (as panteras).
Esse contexto se divide em três atos, “I – Restless boy in a world too slow”, o qual retrata o garoto inquieto por fazer parte de um mundo dominado pelos cães, o segundo ato, “II – For me to become i”, evidencia o processo de aceitação de sua capacidade de pensar e agir de maneira incomum, e por fim, o terceiro ato, “III – How to mourn the living”, a sua transformação em uma pantera e posicionamento de líder dentro da sua nova tribo.
Ao apertarmos o play podemos identificar de cara que se trata do álbum mais incomum da carreira da banda, os andamentos das músicas são totalmente estranhos, parecem até estarem descompassadas se não soubéssemos da genialidade e capacidade técnica do PoS. “Restless Boy” e “Accelerator” ,os dois singles do álbum, são exemplos perfeitos, o baterista Leo Magarrit dá um show de performance, o ritmo da bateria não acompanha os outros instrumentos, e um nó é feito em seu cérebro, podemos até inferir que essa ideia tenha relação com o conceito do álbum, relacionando a diferença entre panteras e cães, se tratando de Daniel Gildenlow, tudo é possível.
Ainda no ato I, não podemos deixar de citar “Unfuture”, um dos melhores trabalhos do álbum, ótimo refrão, o tema de teclado criado por Daniel Karlsson ressoa em sua mente durante horas, essa faixa nos faz lembrar momentos do Scarsick, pois é bastante técnica e sombria. Ela ganha ainda mais importância pois inicia com a seguinte frase, “Welcome to the new world”, representando a conscientização do garoto em ser uma pantera.
No segundo ato, é preciso destacar a faixa “Wait” e sua beleza sem igual, que música meus amigos!! Ela nos arrebata, nos paralisa e nos mantém presos à performance vocal de Daniel, que presente Deus deu a esse cara, que voz, que momento!!
O terceiro e último ato é iniciado pela faixa título, ela representa precisamente a ideia que o capítulo quer passar, a aceitação do personagem em ser um indivíduo “diferente”, é justamente o que diz o seu refrão, em tradução livre, “Qual é a sensação de ser você, ela uma vez me perguntou, eu disse que me sinto como uma pantera, presa no mundo de um cachorro”. A sua musicalidade flerta com vários estilos distintos, e podemos rever Gildenlow revisitando os raps.
“Icon” encerra a nossa história de forma magistral, talvez seja a faixa mais progressiva do disco, ao longo dos seus 13 minutos e meio a banda desfila seu melhor estilo de finalizar álbuns com músicas longas, há várias variações rítmicas e passagens experimentais, mas há um ponto principal aqui, o solo, momento de pura inspiração dos dois guitarristas, é uma sessão solística sensacional, para fechar com chave de ouro.
“Panther” é uma obra que não se encaixa no ordinário do cotidiano, assim como o seus conceito, ela olha para o normal com olhos de quem vive presa num mundo que gira em rotações mais lentas, é significante ver uma banda que nunca se aquietou ou se sentiu confortável, pelo contrário, a inquietude é a zona de conforto do Pain of Salvation.
Pain of Salvation – Panther
Data de Lançamento: 28 de Agosto de 2020
Gravadora: Inside Out
Tracklist:
01. Accelerator
02. Unfuture
03. Restless Boy
04. Wait
05. Keen To A Fault
06. Fur
07. Panther
08. Species
09. Icon
Membros:
Daniel Gildenlöw – vocais, guitarra e outros
Johan Hallgren – guitarra e vocal
Léo Margarit – bateria e vocal
Daniel Karlsson – teclado, guitarra e vocal
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