Surgido em Chicago, Estados Unidos, no ano de 1989, mas com o nome de Laceration e praticando Death Metal, o Novembers Doom adotou a atual alcunha no ano de 1992, passando a mesclar sua antiga sonoridade com o Doom Metal, em uma proposta sonora que remetia a outros nomes que começavam a se destacar no mesmo período, como os ingleses Paradise Lost, Anathema e My Dying Bride – a Santíssima Trinidade do Death/Doom Britânico –, além dos suecos Katatonia e Tiamat. A partir do lançamento do debut, Amid Its Hallowed Mirth (95), estabeleceram uma carreira sólida, com uma boa base de fãs conquistada através de álbuns marcantes, que acabaram por transformar a banda comandada por Paul Kuhr em uma referência para o estilo.

Hamartia foi 10º álbum de estúdio, e teve a dura missão de suceder o ótimo Bled White, algo um tanto espinhoso. Antes de tudo, vale citar um fato curioso. Pela primeira vez em toda a carreira, conseguiram manter uma formação entre um trabalho e outro, o que acaba refletindo no resultado obtido. Dando continuidade ao seu processo evolutivo, nos deparamos com uma obra que apesar de ainda manter aquele clima sinistro e sombrio que sempre marcou as composições do Novembers Doom, tem doses muito menores de Death Metal, focando mais no Doom e no Gótico, com boas melodias e alguns toques progressivos aqui e ali. Felizmente, essa maior introspecção não faz de Hamartia um trabalho inferior aos seus antecessores.

Os vocais rosnados de Paul Kuhr sempre foram um dos pontos fortes do Novembers Doom, pois conseguem passar uma sensação de agustia e desespero que casa perfeitamente com a melancolia de suas canções. Já seus vocais limpos, obstante o timbre para lá de agradável, pode ser foco de contestação para alguns, já que sua opção por adotar uma linha semi-falada e que pouco varia, pode incomodar alguns, mesmo que do meu ponto de vista, não comprometa em nada o resultado e funcione bem dentro da proposta musical adotada. As guitarras de Larry Roberts e Vito Marchese, mesmo soando menos pesadas que no passado, mostram um trabalho belíssimo, com ótimas harmonias e melodias, além de passagens acústicas e atmosféricas bem agradáveis. Já a parte rítmica, com o estrondoso baixo de Mike Feldman e a precisa bateria de Garry Naples, se mostra essencial para o ótimo resultado de Hamartia. Os teclados, muito bem encaixados, foram cortesia do ex-tecladista da banda, Ben Johnson. Outras participações especiais ficaram a cargo da filha de Paul, Rhiannon Kuhr, em 3 canções, do guitarrista do My Dying Bride, Andrew Craighan, do vocalista Bernt Fjellestad (Guardians of Time) e de ninguém menos que Dan Swanö, que também foi responsável por mixar e masterizar o álbum.

A abertura, com “Devils Light”, tem muito daquele Death/Doom de outrora, e soa pesada e fria. “Plague Bird” tem seu foco no Doom, e além de ser uma das mais belas canções já escritas pela banda, se mostra bem escura e melancólica, características também presentes em “Ghost”. A sombria “Ever After” se mostra bem emocional e agressiva, com algumas passagens mais atmosféricas. Esses momentos mais atmosféricos também se fazem presentes em “Hamartia”, faixa que se destaca pelas altas doses de melancolia. “Apostasy” tem ótimas guitarras, com riffs que remetem ao Death Metal, além de esbanjar peso. Destaque para os rosnados furiosos de Paul. Na sequência, temos a cinzenta e dura “Miasma”, com um trabalho vocal muito bom, e a emocional e cativante “Zephyr”. Para encerrar a lúgubre “Waves in the Red Cloth”, e “Borderline”, uma espéie de libertação, de purgação emocional. Um ato e liberdade, que encerrou um dos melhores álbuns lançados em 2017.

Dá para dizer que Hamartia é o melhor álbum da carreira do Novembers Doom? Particularmente, não o acho, mas isso é algo muito pessoal. O certo é que, obstante sua pegada mais melódica e voltada para o Doom, ainda sim é um trabalho carregado de virtudes e méritos, consistente, e que consegue manter aquele clima frio, sombrio e melancólico que sempre marcou a carreira do grupo. Se você desconhece a banda, mas gosta de álbuns como The Fall of Hearts, do Katatonia, ou Atoma, do Dark Tranquillity, eis aqui um trabalho indicado para travar seu primeiro contato e mergulhar no mundo de Paul Kuhr e cia.

https://www.youtube.com/watch?v=xqfOJK2Zzs0

FORMAÇÃO:
– Paul Kuhr (vocal);
– Larry Roberts (guitarra);
– Vito Marchese (guitarra);
– Mike Feldman (baixo);
– Garry Naples (bateria).

FAIXAS:
01. Devils Light
02. Plague Bird
03. Ghost
04. Ever After
05. Hamartia
06. Apostasy
07. Miasma
08. Zephyr
09. Waves in the Red Cloth
10. Borderline