Mais uma vez o Cronologia me coloca em uma posição um tanto quanto desconfortável de fazer resenha de uma banda ou gênero que eu não gosto. Mas ao contrário dos outros, neste caso o buraco é mais embaixo. Eu como fã de hardcore gosto de músicas rápidas, então estilos como o Doom Metal são um desafio para mim, pois vão totalmente na contramão de meu gosto pessoal. Porém, como sempre, ouvirei o álbum e analisarei o mesmo tentando ao máximo não colocar meu gosto pessoal no meio da análise.

Aphotic é o oitavo álbum de estúdio da banda americana Novembers Doom, formada em 1989, que, como o nome sugere, é conhecida como uma banda de Doom Metal. O álbum foi lançado em 2011 pela The End Records. Segundo a página da Wikipedia do álbum, é o primeiro álbum a apresentar mais influências de Metal Progressivo em suas composições, ao invés do seu clássico som de Death-Doom. Interessante. Vamos ver qual é a deste álbum.

Capa do álbum “Aphotic” da banda Novembers Doom

Admito que a primeira música, “The Dark Host”, me surpreendeu absurdamente. A música se inicia com uma sessão de cordas, mas logo que a guitarra entra, já sentimos um peso absurdo. Quando realmente começa o riff de guitarra, a surpresa fica maior ainda, o primeiro riff tem uma pegada totalmente death-thrash, sendo bem rápido e agressivo. Isso, unido ao vocal muito bem executado por Paul Kuhr, dá uma ótima boa impressão sobre a banda. Cada momento dos 8 minutos desta música me impressiona, na verdade. No meio, por volta dos 4:30, temos uma pausa para um arpeggio de violão acompanhado de vocais limpos que é bem bonito e, novamente, aos 6 minutos, a volta da pegada death, inclusive com blast beats, totalmente inesperado para o gênero. Ouvindo essa música isoladamente, eu nunca diria que é de uma banda de Doom Metal. Apesar de ser uma música muito longa, ela não se torna tediosa em sua duração, flui bem até demais.

Em seguida, temos “Harvest Scythe”. Novamente, nenhum sinal de Doom Metal, uma introdução “soco na cara” totalmente death, e um refrão com vocais limpos, mas que mantém a velocidade estabelecida na introdução. Essa música apresenta bastantes elementos progressivos também, sobretudo na levada da bateria nestes momentos em que o vocal é limpo. A melodia do refrão é, na verdade, bem pegajosa, muito bem composta.

“Buried”, é a primeira a ter uma introdução mais puxada para o Doom Metal, com uma guitarra limpa fazendo um riff simples e depois as guitarras distorcidas entrando em um riff extremamente “groovado” e bem mais lento do que nas músicas anteriores. A música tem um sentimento bem triste, pois a mesma intro limpa acompanha os vocais do verso, dando um sentimento de sofrimento e desabafo à música. Novamente, o refrão com vocais limpos (muito bem executados inclusive). Essa música realmente é classificável no Doom Metal, mas não é aquele Doom extremamente lento e maçante, e sim um Doom mais puxado para o Black e Death. “Buried” realmente dá uma boa dinâmica ao álbum, pois dá uma “segurada” na velocidade, sem perder o peso.

“What Could Have Been” é uma música linda, resumidamente. Nesta faixa, a banda simplesmente abandona o peso por um violão que leva a música toda em um dedilhado maravilhoso, acompanhado do belo vocal de Kuhr e com participação de Anneke van Giersbergen (ex-The Gatering) que tem uma voz angelical. É uma ótima balada para acompanhar a obra. Em seguida temos uma música em duas partes: “Of Age and Origin Pt. 1: A Violent Day” é aquela música que chamamos de “banger”, para os fãs de um bom headbang, essa música é um prato cheio. Novamente, riffs que lembram muito mais o death metal clássico do que o que eu entendo por Doom Metal, com belos elementos sinfônicos ao fundo. Esta música é a primeira a inverter o que até então era regra no álbum: ela tem os versos em vocal limpo e o refrão com vocal berrado. Admito que esta inversão combina muito mais com a estrutura desta música, e mais uma vez, a música flui muito bem; A segunda parte (e mais curta) “Of Age and Origin Pt. 2: A Day Of Joy” é muito mais melódica, começando com uma guitarra fazendo um riff bem agudo, uma levada bem mais lenta e o vocal limpo bem mais solto. Parece aquelas músicas de álbum conceitual que contam a parte da história onde é um climax. A música dá uma sensação de alegria, conquista, alívio (sentimentos indicados pelo título). Ambas as faixas contam com a participação bem sutil de Dan Swanö (Nightingale, Whiterscape) nos vocais, que é também o responsável pela mixagem e masterização do álbum.

A penúltima faixa, “Six Sides”, é mais uma com riff bem “groovado” que inverte a ordem original, tendo um refrão melódico com vocal berrado, enquanto os riffs pesados do verso são contrastados pelo vocal limpo e grave. Essa música, apesar de ser boa, fica um pouco cansativa por ser um tanto quanto linear e ter esse vocal mais “parado”.

“Shadow Play” começa de uma maneira bem mais melódica, com um riff que lembra muito “Aerials” da banda System of a Down. Pelo pouco que conheço, essa faixa me lembra bem algumas faixas da fase mais atual do Opeth. A música toma uma direção totalmente diferente aos 4 minutos, voltando para a levada mais pesada e o vocal mais agressivo. Esta é uma das músicas em que sente-se uma força maior de Paul Kuhr no vocal, talvez seja porque os instrumentos não tomam tanto espaço durante o verso e o vocal tem mais espaço para ressonar, parecendo que ele está fazendo um vocal mais forte. A faixa se encerra com um belo solo curto de guitarra, seguido de rudimentos da bateria que dão uma sensação de marcha de exército. É um bom encerramento para o álbum, não fica um gosto de “quero mais”, mas também não parece que a música se estendeu mais do que deveria.

Não posso evitar de assumir que me enganei muito com o Novembers Doom, e acho que foi justamente por isso que a experiência com o álbum foi tão boa. Fui ouvi-lo com expectativa de ser uma música lenta, arrastada, chata, repetitiva e me deparei com um álbum cheio de peso, de groove e até de velocidade em alguns casos. Enquanto ouvia o álbum, conversei com outros redatores da Roadie Metal que conheciam a banda, e acabei aprendendo mais sobre Doom Metal do que eu imaginava, incluindo que esse tipo de som apresentado em Aphotic é um tipo de som levado por algumas bandas do estilo. Definitivamente vou procurar conhecer melhor o gênero e até a banda.

Eu não diria que este álbum é perfeito. É um álbum muito bom, mas alguns elementos de prog não me agradam 100%. A faixa Six Sides também tem alguns defeitos por ser muito linear. É um álbum que se destaca para uma banda conhecida por fazer Doom Metal, mas numa visão mais ampla não tem nada de tão inovador, é somente muito bem composto e executado. Mas em geral, eu definitivamente indicaria o álbum para qualquer um interessado em conhecer a banda.

Faixas:
1 – The Dark Host
2 – Harvest Scythe
3 – Buried
4 – What Could Have Been
5 – Of Age and Origin pt. 1: A Violent Day
6 – Of Age and Origin pt. 2: A Day of Joy
7 – Six Sides
8 – Shadow Play

Banda:
Paul Kuhr – Vocais e fotografia
Mike Feldman – Baixo
Vito Marchese – Guitarra
Larry Roberts – Guitarra e vocais
Sasha Horn – Bateria

Equipe adicional:
Ben Johnson – Teclado
Rachel Barton Pine – Violino (faixas 1 e 4)
Dan Swanö (Nithingale, Winterscape) – Vocais (faixas 5 e 6), mixagem e masterização.
Anneke van Giersbergen – Vocais (faixa 4)
Raymond Boykin – Fotografia
Jason Hicks – arte interna
Tommy Genest – arte da capa
Chris Wisco – engenharia e edição

Faixa “The Dark Host”, primeira de “Aphotic”