A década de 90 foi fundamental para a disseminação da música pesada, obscura e extrema. Digamos em termos gerais, a semente da obscuridade nasce fecunda da grande capital do metal extremo: Los Angeles, California/EUA. Do Thrash ao Death, do Gothic ao Doom, as tendências seguiam se determinadas a germinar quantas mais obscuridades e brutalidades musicais fossem possíveis. Entretanto, é em Illinois, Chicago que surge uma banda que representa a fusão do Death com o Doom: Novembers Doom (inicialmente chamada de Laceration).  O que impressiona é ainda terem se mantido em atividade com o tempo e mudanças habituais que as bandas vivem. O vocalista e letrista Paul Kuhr é o único da formação original, enquanto os guitarristas Lawrence Roberts e Vito Marchese estão na banda desde 1999 e 2003 respectivamente. Com impressionantes nove discos de estúdio, vamos analisar Amid Its Hallowed Mirth (1995), o seu primeiro trabalho.

A primeira música “Auroras Garden” mostra a escuridão que introduz um estilo e me faz lembrar, por vezes, coisas como Type o Negative, mas na segunda música “Amour of the Harp” com sons femininos de bruxa ou de almas da “harpa” ao fundo, começam a mostrar a força de uma boa guitarra que remete ao bom metal gothic/melodic fundido à necessidade de levar a sonoridade ao sujo vocal do Death Metal.

Acho que este estilo de Dark Metal tornou-se menos denso com o passar dos anos, e os acordes mudaram significativamente. A voz é menos endurecida, os solos vocais ficaram mais líricos e infelizmente as guitarras não tem solos mais tão harmoniosos. Basicamente, bandas como Nightwish, Tristania e outras com vocais femininos, tiraram o dilema fúnebre deste estilo para tornar romântica a escuridão dos sentimentos e dos castelos de terror. Mas o Novembers Doom navegou indestrutível no mar acinzentado do som pesado e mortal do Death Doom ou Dark Death Metal, se é que em 2019 eu posso dizer isso. Obviamente a comparação mais justa para bandas como estas são Paradise Lost, Anathema, Katatonia, Tiamat e My Dying Bride.

Tears of the Beauty é um típico titulo da apreciação do gótico na sua melhor expressão, como os próprios góticos descrevem: “ A tristeza é bela”, mas não podemos esquecer que a linearidade e peso do vocalista Paul Kuhr com as guitarras profundas, não nos fazem esquecer que trata-se de Doom ou Metal “Gotico”, com elementos Death. Da mesma forma My Agony My Extasy é uma ode ao sofrimento e nos leva mais uma vez àquele estado de vida tão obscuro, que só se sai de lá para o caixão. A diferença aqui é a elevação do baterista que nos remete à um ritmo mais cadenciado e as vozes femininas já estão menos fantasmagóricas para se tornarem líricas.

Acredito que muitos vão concordar que “Amid Its Hallowed Mirth” é o álbum inigualável que o Novembers Doom criou em sua carreira com músicos extremos de metal. Este álbum é uma obra-prima no gênero, ou seja, representa tudo o que é admirado no domínio da música death / doom. Ouvi-lo dá logo a ideia de como o Novembers Doom é fortemente influenciado por bandas como Anathema, Paradise Lost, My Dying Bride e Candlemass. Agora, para uma banda que começou como uma intensão de ser Death Metal puro, eles estavam tocando isso somente quando ainda eram chamados de Laceration entre 1989-1992. Contudo, é incrível o que ele fizeram impecavelmente ao Novembers Doom pois se tornaram referência no estilo. Bestow My Desire é o mais fiel ao que diríamos hoje ser a música moderna deste estilo.

Outro aspecto interessante deste disco, são as letras poéticas das músicas em contraste com um bom metal pesado. As letras sintetizam um sentimento sólido de angústia e agonia e claro é um ingrediente na produção de um disco, pois é a principal conecção com os fãs do estilo.

Chorus of Jasmine é bem mais Doom e carrega o peso necessário para não torná-los uma única definição, mas uma fusão primordial e que lançou uma tendência que se imortalizaria no movimento. As guitarras estão mais limpas e desenvolvem solos consideráveis e o baterista tem importância num acompanhamento efetivo e representativo. Digamos que esta faixa avança para algo mais instrumental e executado com mais preocupação no quesito: Desenvolvimento de composição musical. É um bom disco, não há dúvida. E o fato de ter a palavra “Doom” no nome, os tornam precursores em alguma coisa deste gêreno. “Chorus…” é para mim a melhor faixa do disco.

Dance of the Leaves (instrumental) é um abraço ao lirismo romântico e melódico que depois migraria este estilo por algo mais apreciado por vocais femininos, ainda que o vocal feminino é sempre backing vocals ao conduzir as canções. Ouve-se o sons do vento e ficamos mesmo curiosos com essa faixa pois ela é diferente demais. Não há vocal masculino, é absolutamente entorpecida e curta, por não conter mais que 2:47min de uma inusitada delicadeza.

Como numa história de terror, Sadness Rains surge como a tempestade depois da bonança e a voz brutal de Paul volta arrastando uma peregrinação densa e conduzida pela excelente guitarra, e bateria cadenciados. A Dirge of Sorrow no inicio tem guitarras e vozes mais profundas e menos variações rítmicas. Entretanto, não se engane! Um lindo solo de violão eletrico torna aquele “sofrimento” todo em coisas bem mais suaves para alma e o peso volta mais instrumental.

O álbum é encerrado com a forte “Nothing Earthly save the Thrill” que abraça o Death Metal . Parece que o resumo de tudo que ele fez no disco inteiro é apresentado de forma efetiva, fechando com chave de ouro este trabalho.

Minha sincera opinião é que os estilos nascidos na década de 80/90, imortalizados por bandas de géneros variados do Metal, e que ainda se encontram em profusão mundial, são as melhores representações de seu gênero. Parece óbvio o meu comentário mas o fato é que não vi grande evolução no gênero das músicas de “terror” (death,doom,black) porque o gutural e o sujo continuam sendo o que são, e talvez apenas ouve se mais os instrumentais. A pedra bruta do Doom que foi gerada da fusão da música gótica com o peso instrumental do metal nos permitiu levar a escuridão dos cemitérios para as variações rítmicas, mas nada irá superar as letras e as composições de décadas atrás, onde realmente não tínhamos motivos para “curtir”, mas entender, a beleza da dor e sofrimento, como parte fundamental da alma humana em sons que doíam a alma.

Banda:
Paul Kuhr (vocal)
Cathy Jo Hejna (vocal)
Steve Nicholson (guitarra, baixo)
Joe Hernandez (bateria)

Faixas:
01. Aurora´s Garden
02. Amour of the Harp
03. Tears of the beautiful
04. My Agony, my Ecstasy
05. Bestow My Desire
06. Chorus of Jasmine
07. Dance of the Leaves
08. Sadness Rains
09. A Dirge of Sorrow

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