Muito além do super hit “Love Hurts”, falar em Nazareth é falar em um dos grandes nomes musicais da década de 70, e só por essas poucas palavras já dá para o leitor perceber o drama. Mas, uma mudança de década pode ser fatal em quase qualquer carreira, tendo sido a maior parte dos anos 80 um carrasco para a lendária banda escocesa. No entanto, os dias de tormento estavam chegando ao fim.
‘Snakes’n’Ladders’ chegou ao mercado europeu em janeiro de 1989, através da Vertigo Records. Das onze composições presentes no disco, três são covers de nomes como Tim Hardin (“Hang on to a Dream”), Erma Franklin (“Piece of My Heart”) e Crosby, Stills, Nash and Young (“Helpless”).
Enfim… Vamos ao que interessa? Com “Animals” engana-se quem estava esperando pela energia típica do Hard Rock… Mas não, a cadência e o ritmo arrastado pontuam a dita composição que inicia o trabalho. Aliás, também não crie expectativas com a seguinte, “Lady Luck”, e sua levada Blues – muito embora a presença da guitarra seja bem mais satisfatória. Deixando o Blues de lado e se atolando até o pescoço em uma sonoridade totalmente climática, “Hang on to a Dream” é uma versão totalmente Pop oitentista para a melancólica versão original, de 1966. Seguindo para o segundo cover/versão, “Piece of My Heart” (de 1967), o Rock é usado como base principal, mostrando que essa era realmente a área que o Nazareth não deveria ter deixado tanto de lado – ao invés de ficar se aventurando aqui e ali, sem tanto sucesso…
“Trouble” é o retorno ao conteúdo autoral e tem pinta de trilha sonora de algum filme obscuro de ação – tipo aqueles do Steven Seagal… -, com uma batida percussiva quase sensual (!?) e que no fim das contas acaba sendo interessante, especialmente se você se esquecer de quem a está executando. Permanecendo nessa linha comercial, “The Key” é outra uma faixa bastante agradável e (guardadas as proporções) até empolgante, se você estiver com boa vontade.
Em meio as ondas (FM, diga-se) do Pop, eis que o Rock retorna timidamente em “Back to School”, mantendo o selo “ok” de qualidade. Entretanto, se na composição anterior o Rock apareceu de maneira tímida, em “Girls” ele perde totalmente o pudor e bota tudo pra quebrar em uma levada um pouco mais direta e natural… E, desta vez o ouvinte não precisa se assustar, pois felizmente isso é mantido no Hard “Donna – Get Off That Crack”, com direto a um Dan McCafferty soltando da jaula o seu característico vozeirão com drive!
Na reta final do trabalho, “See You, See Me” resgata outra vez o seu apelo mais popular, porém de paladar agradável. Já a balada “Helpless”, composta pelo canadense Neil Young em 1970, ficou perfeita como o ponto final aqui.
Ouvindo ‘Snakes’n’Ladders’ senti que o pecado que a banda cometeu foi simplesmente o fato de não ter tido um foco musical mais definido, pois ora soou totalmente Pop, ora algo que não a deixava se perder de seu passado mais pesado – o que não deve ser confundido com “excesso de diversidade”, ok? Analisando individualmente as composições, é impossível bater o martelo e escrever que este é um álbum ruim ou mesmo fraco, pois existem sim muitos bons e interessantes momentos, nos quais para se ter uma experiência ainda melhor, em determinadas faixas recomendo que se esqueça do nome Nazareth, se lembrando novamente quando for o momento certo. Creio que deixei isso bem claro no decorrer do texto.
Sem mais “blá blá blá”, faça como eu: ouça sem criar expectativas ou se levar por comentários negativos. Tenho certeza de que você também saberá apreciar os bons momentos que este disco pode proporcionar, independente do direcionamento adotado em cada música.
Formação:
Dan McCafferty (vocal)
Manny Charlton (guitarra, teclados e programação)
Pete Agnew (baixo)
Darrell Sweet (bateria)
Faixas:
01. Animals
02. Lady Luck
03. Hang On to a Dream (Tim Hardin cover)
04. Piece of My Heart (Erma Franklin cover)
05. Trouble
06. The Key
07. Back to School
08. Girls
09. Donna – Get Off That Crack
10. See You, See Me
11. Helpless (Crosby, Stills, Nash & Young cover).