Não sou especialista em Doom Metal, mas sou dos velhos tempos em que basicamente ouviamos Dark, Goth e Metal separados e bem distintos, e não sabíamos bem que o Doom Metal, na verdade, era o que chamávamos de Gothic Metal. Mas creio que de tudo que foi feito nas decadas de 80 e 90, devemos destacar importantes bandas que se perpetuaram no Doom, com o bom uso da escuridão Dark-Gothic e a potência do Metal. Na época eu tentei entender um pouco isso ouvindo, Peter Steele (Type O Negative), mas vejamos…Há mais castelos sombrios e majestosos, por ai.

Agora estou convencida de que vale a pena conhecer My Dying Bride, e especialmente uma de suas melhores gravações para exemplificar um estilo, este é sem dúvidas, Turn Loose The Swans.

Turn Loose the Swans é um bom representante do que o doom metal é como um todo. E, apesar do quão geralmente inacessível é o gênero, consideraria My Dying Bride uma das bandas mais aceitáveis de doom metal. (Eles também lançaram vários outros ótimos discos que valem a pena ser ouvidos.). Isso não é música para todos. Algumas pessoas não gostam disso, não importa quantas vezes a reproduzam. Não é o tipo de coisa que escuto diariamente, mas me sinto encantado com as paisagens sonoras assombrosas e desoladas. É mesmo a trilha sonora da morte. É lento, pesado, esmagador e completamente miserável.

Suas canções e o sofrimento de suas letras

Sear Me MCMXCIII” começa com alguns dos vocais mais limpos de Stainthrope no álbum, embora ainda sejam muito baixos e rasgados. Um violino cheio de requinte triste entra em cena, apoiado por sinos percussivos e uma faixa de piano detonando. Tudo segue harmonicamente. Tudo isso combina perfeitamente com o tema da música sobre um romance fantasmagórico. Doom tem mais do que sua parte de momentos líricos vívidos, e My Dying Bride cunhou alguns dos melhores. Olha este trecho traduzido: “Nos prados do céu / corremos pelas estrelas” sempre me dá um pouco de arrepio“. A beleza na tristeza.

Your River” passa algum tempo ajustando o clima com um violão lento e limpo, antes de explodir com os riffs esmagadores e arrasadores característicos. Não é ultra lento como outros subgêneros funerários, e não é difícil encontrar a influência do death metal. Musicalmente, “Your River” estabelece o caráter de Turn Loose the Swans, que poderia ser considerado um metal morto mais lento, trabalhando com um foco lírico completamente diferente. A música passa por mais algumas mudanças antes de se estabelecer em um ritmo ainda mais lento, quando Stainthrope começa a cantar. As palavras de abertura parecem sugerir uma narrativa: “Seu corpo ensanguentado é o que eu me agarro“, embora o resto da música se desenvolva de maneira mais enigmática.

The Songless Bird” fica um pouco mais sombrio; o personagem foi tratado injustamente em um nível cósmico, resolvendo fazer guerra contra quaisquer deuses responsáveis. “Se eu viver, você vai se arrepender / tenho mil formas”, parece ser a declaração dele contra esses seres. Novamente, com os riffs esmagadores, mas desta vez eles são muito mais lentos, com uma única nota de guitarra estridente a lamentos por intervalos antes que a bateria ganhe velocidade e ponha em movimento a faixa.

The snow in my hand” investiga mais profundamente a descendência deste personagem, com sua recusa aberta ao conforto da religião: “Preciso de ajuda, mas não de você ou de seu pai.” Isso tudo porque ele está a perder a alma de sua amada…: “Eu os vi /tão sombrios, negros e, no entanto, bons. / A flor que eles carregam / já foi minha. ”A faixa serpenteia através de rajadas de barulho e guitarra, chegando ao clímax que encerra: “ Não! Não suporto toda essa dor. Lindissimo.

Em ” The Crown of Sympathy “, nosso narrador reflete sobre seu amor perdido mais uma vez, implorando por uma última chance de passar um momento com sua amada falecida, apelando à sua simpatia. A dor e o sofrimento gótico nunca foram tao bem representados neste lirismo. É como conversar com poetas do gênero.

A banda:
A Peaceville Records detinha o monopólio de quase todos os discos engenhosos desse gênero no início e meados dos anos 90, como o PARADISE LOST ou ANATHEMA. Na época, é claro, não poderíamos saber que o MY DYING BRIDE entregaria sua obra-prima com o segundo álbum. Mas o gênio musical de “Turn Loose The Swans” era um prova da competência dos artistas, especialmente do vocalista Aaron Stainthorpe.

Continuação…
A música-título é uma verdadeira obra-prima! Esse riff hipnótico no começo, o violino que chora lentamente e a crescente morte perdida, é realmente algo para os grandes palcos. Então o intervalo, a chuva e as tempestades se instalam e, novamente, o violino assume a transição para a parte altamente melódica. Isso é dominado novamente por vocais claros extremamente frágeis. Depois, o intervalo renovado, e como Aaron cresce a linha “Turn Loose The Swans”, isso é incrível. Eu nunca ouvi uma transição mais perfeita entre dois estilos.

O Outro “Black God”, que decide esse dom dos deuses, é novamente fecha perfeitamente o sofrimento do luto. Aqui você ouve apenas piano, violino, vocais femininos e a voz sussurrante de Aaron, o final perfeito. E, de repente, você não tem mais certeza se tudo é realmente tão desesperador ou você deve preferir ouvir outra vez …

Com “Turn Loose The Swans“, MY DYING BRIDE havia reduzido a parte da morte(lentidao, morbidez) para acrescentar a destruição nos sons (energia). No entanto, o disco está firmemente ancorado nos dois gêneros e oferece uma mistura perfeitamente bem-sucedida entre os dois. Cada nota é cuidadosamente considerada, cada nota é perfeitamente colocada. E o violino brilhantemente usado não apenas deu à coisa toda um toque muito especial naquela época. Para mim, esse disco ainda é um, se não a referência, na qual os outros mordem os dentes.

Portanto, se você busca um disco para começar entender o que realmente penso ser o Doom Metal, com os melhores elementos líricos, musicais e interpretativas, não se abstenha em começar por este álbum. Fica mais claro entender o que todos tentaram fazer depois, e a própria banda. Mas certas obras são totalmente originais.

My Dying Bride – Turn Loose the Swans
Ano de Lançamento: 1993
Gravadora: Peaceville Records

Tracklist:
01. Sear Me MCMXCIII
02. Your River
03. The Songless Bird
04. The Snow in My Hand
05. The Crown of Sympathy
06. Turn Loose the Swans
07. Black God

Formação:
Aaron Stainthorpe – vocal
Andrew Craighan – guitarra
Calvin Robertshaw – guitarra
Adrian Jackson – baixo
Martin Powell – violino
Rick Miah – bateria

Participação Especial:
Zena – vocal em Black God