Afirmar que o My Dying Bride é um dos pilares do Death/Doom e do Gothic Metal, tendo uma importância seminal para ambos os estilos, é chover no molhado. Também é inegável que, das bandas que formavam a Santíssima Trinidade do Doom Metal inglês, no início dos anos 90 – Paradise Lost, Anathema e My Dying Bride –, ela foi a que se manteve mais arraigada ao underground. Curiosamente, das três, é a que menos experimentou e ousou quanto a sonoridade, se mantendo quase sempre dentro de uma proposta que trafega entre o Doom e o Gothic. Se por um lado isso não os levaram a patamares mais altos, por outro, permitiu que criassem uma base fiel de fãs.
Independente de fase, seja o início Death/Doom, ou posteriormente a Gothic/Doom, a música do My Dying Bride mantêm certas características que marcam toda a sua história. Coloque para tocar seu debut, As the Flower Withers (92), obras mais experimentais como 34.788%… Complete (98) ou Evinta (11), algum álbum intermediário, como Songs of Darkness, Words of Light (04), ou mesmo o mais recente, Feel the Misery (15), e sempre encontrará aquela aura sombria, triste e melancólica que permeia suas obras. Esse é o elemento em comum que liga toda a sua carreira, desde o surgimento em 1990, em Halifax, Inglaterra, até os dias atuais. Em For Lies I Sire, seu 10º trabalho de estúdio, isso não haveria de ser diferente.
“My Body, A Funeral” abre o álbum com os vocais limpos de Aaron Stainthorpe, quase falados, e que passam a sensação de fragilidade. Essa é uma opção adotada por todo álbum, com seus ótimos guturais sendo deixados de lado, só surgindo em uma única canção, mais ao final. Para as vocalizações limpas de Aaron, não existe muito meio-termo, ou você ama, ou odeia. Por volta de 1 minuto de canção, uma grande surpresa, pois os violinos surgem, algo que não ocorria desde 1996, em Like Gods of the Sun. A entrada da violinista e tecladista Katie Stone fez muito bem a banda, que não contava com alguém nessa função desde a saída de Martin Powell em 1998. Chama a atenção a forma equilibrada como ele é inserido nas canções, causando impacto, e em muitos momentos soando como uma extensão dos vocais.
O trabalho segue sequência com a ótima e pesada “Fall With Me”, com seus riffs marcantes – as guitarras de Andrew Craighan e Hamish Glencross estão primorosas em todo álbum, entregando ótimas melodias, peso, e duelando de uma forma muito harmônica –, e a sombria e melancólica “The Lies I Sire”. A surpreendente “Bring Me Victory”, com suas melodias cativantes, me remeteu muito mais a fase Endorama do Kreator, do que ao próprio My Dying Bride, mas nem por isso deixa de ser um dos destaques do álbum. “Echoes From A Hollow Soul” chama a atenção não só pelos violinos, como pelos teclados, sendo esses responsáveis por criar atmosferas que vão do sutil ao sinistro, não só nessa canção como nas demais. “ShadowHaunt” chama a atenção pelos vocais melancólicos e o ar sombrio; “Santuario Di Sangue”, toda construída tendo a voz de Aaron como sustentáculo, tem seu melhor desempenho vocal, e “A Chapter In Loathing” vai fazer a alegria dos amantes da fase Death/Doom e dos guturais que marcaram a carreira dos ingleses. Encerrando, a épica e soturna “Death Triumphant”, onde as guitarras gêmeas duelam e se sobressaem.
Musicalmente, For Lies I Sire não acrescenta absolutamente nada de novo a sonoridade do My Dying Bride, mas nem por causa disso se torna um trabalho menor em sua discografia. Vale destacar o brilhante trabalho de bateria executado por Dan Mullins, que brilha em todas as canções presentes, já que foge totalmente daquele estilo minimalista adotado por muitas bandas de Doom. O peso e a variedade que ele imprime são essenciais para o bom resultado obtido. Do ponto de vista lírico, também não temos novidades, já que as letras continuam soando como verdadeiras poesias sombrias, que abordam o lado mais inexplorado da natureza humana. Ouso dizer que para aqueles que desconhecem a banda, mas querem mergulhar no mundo do Gothic/Doom, For Lies I Sire seria uma boa porta de entrada.

My Dying Bride – For Lies I Sire
Ano de Lançamento: 2009
Gravadora: Peaceville Records
Tracklist:
01. My Body, A Funeral
02. Fall With Me
03. The Lies I Sire
04. Bring Me Victory
05. Echoes From A Hollow Soul
06. ShadowHaunt
07. Santuario Di Sangue
08. A Chapter In Loathing
09. Death Triumphant
Formação:
– Aaron Stainthorpe (vocal);
– Andrew Craighan (guitarra);
– Hamish Glencross (guitarra);
– Katie Stone (violino/teclado);
– Lena Abé (baixo);
– Dan Mullins (bateria).
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8.2/10