As pessoas tendem a olhar para os anos 70/80 como a era de ouro da música pesada, e os anos 90 como um período negro para o estilo. O Grunge, sempre ele, é tachado como o grande vilão, já que segundo a lenda contada, ele foi o responsável pela queda de popularidade do Hard/Heavy. Foi um período em que até mesmo os grandes medalhões tiveram suas carreiras colocadas no fio da navalha. Na realidade o estilo havia perdido a conexão com as camadas mais jovens, que não enxergavam mais suas dúvidas, problemas e anseios nas letras e posturas de tais bandas, mas independente da verdade, muitos foram os nomes que procuraram novas saídas para tentar se manter firme dentro do cenário inconstante do período.
Pelos motivos acima, quando falamos de Motörhead, as pessoas tendem a se lembrar da trinca formada por Overkill (79), Bomber (79) e Ace os Spades (80), como sendo o auge criativo da banda capitaneada por Deus – sim, Lemmy é Deus. Realmente, se formos analisar apenas a questão da popularidade, o final dos anos 70/início dos 80, foi uma era de ouro para a banda, mas se deixarmos esse quesito de lado e focarmos na qualidade musical? Bem, nessa hora você se depara com outra trica simplesmente essencial de álbuns, que foi lançada pasmem, justamente na confusa década de 90: Bastards (93), Sacrifice (95) e Overnight Sensation (96). É sobre esse último que falaremos hoje.
Overnight Sensation é o álbum que marca a saída do guitarrista Würzel, fazendo com que o Motörhead retornasse a ser o bom e velho Power Trio que marcou sua fase mais clássica, algo que havia ocorrido pela última vez em Another Perfect Day. Marca também aquela que acabou sendo a formação definitiva da banda, e que perdurou até o fim, com Lemmy “Deus” Kilmister (vocal/baixo), Phil Campbell (guitarra) e Mikkey Dee (bateria). Produzido por Howard Benson, que na visão deste que vos escreve, foi o que melhor entendeu o que era o Motörhead, conseguindo os trazer para a década de 90 sem que precisassem abrir mão do que eram – ponto onde a maioria das bandas do período errou feio – é um trabalho em que escutamos a banda soando bem diversificada, perigosa e mais pesada do que nunca.
Musicalmente, os vocais de Lemmy são exatamente o que esperamos, rude e agressivos, enquanto seu baixo soa absurdamente pesado, a ponto de soar como uma segunda guitarra e nos esquecermos de que Würzel não fazia mais parte da banda. A guitarra de Phil soa simplesmente perfeita, com alguns dos melhores riffs e solos da carreira dos ingleses, enquanto Mikkey Dee dá um verdadeiro show em seu kit, com uma de suas grandes performances na banda. “Civil War”, simplesmente pesada e infernal, a cativante “Eat the Gun”, a rápida “Them Not Me” e a enérgica “Murder Show” são aqueças típicas faixas “motorheadianas”, te entregando exatamente o que você espera. “Crazy like a Fox” é daqueles Blues furiosos que a banda sempre fez tão bem, com direito a um belo solo de gaita, e uma linha de baixo absurdamente boa, algo que podemos observar também em “Broken”. E como não tudo é velocidade, temos espaço para momentos mais cadenciados e outros mid tempo. São os casos da sombria “I Don’t Believe a Word”, da clássica “Overnight Sensation” e seus ótimos riffs, da pesada “Love Can’t Buy You Money” e “Shake the World”. Encerrando o álbum, “Listen to Your Heart”, um típico Rock and Roll que mostra as raízes e essência do que é o Motörhead.
Se você é dessa turma que acredita realmente que os anos 90 foram um período perdido para a música pesada, com bandas clássicas lançando trabalhos erráticos, talvez seja hora de repensar seus conceitos e dar uma nova chance aos álbuns dessa época. Overnight Sensation é uma boa maneira de começar!
https://www.youtube.com/watch?v=oCZhjOhCjvM
Formação:
– Lemmy Kilmister (vocal/baixo);
– Phil Campbell (guitarra)
– Mikkey Dee (bateria)
Faixas:
01. Civil War
02. Crazy like a Fox
03. I Don’t Believe a Word
04. Eat the Gun
05. Overnight Sensation
06. Love Can’t Buy You Money
07. Broken
08. Them Not Me
09. Murder Show
10. Shake the World
11. Listen to Your Heart