Os anos 90 começaram de forma perfeita para o Metallica, através do multiplatinado “Black Album” (são mais de 30 milhões de cópias vendidas até hoje), que os alçou ao posto de maior banda de Metal de sua geração. Mas ao mesmo tempo que tal trabalho lhes rendeu um reconhecimento até então inimaginável, também rendeu críticas de seus fãs mais radicais, devido ao apelo comercial do mesmo. E obstante qualquer coisa, é um belíssimo álbum. Mas mesmo os que haviam gostado do mesmo, não estavam preparados para o que estava por vir.
Não tem muito o que se falar sobre a dobradinha “Load”/”Reload”. A mistura de Hard Rock com Rock Alternativo não caiu bem para uma parcela considerável dos fãs. Some-se a isso a mudança radical de visual, e tivemos um prato cheio para pesadas críticas. Apesar das boas vendagens (“Load” vendeu até algo em torno das cinco milhões de cópias, e “Reload”, quatro milhões), as mesmas sequer chegaram perto do trabalho anterior. Pode não ter sido um fracasso comercial, mas não podemos condenar quem questiona o lado musical.
O Metallica precisava “limpar a barra” com os fãs e, para isso, optaram por um trabalho de covers onde homenageariam suas influências. Levando em conta a tradição que sempre tiveram de fazer ótimos covers, muitas vezes superando até mesmo as versões originais, é claro que os fãs se encheram de esperança, ainda mais quando anunciaram que o lendário EP “The $5.98 EP – Garage Days Re-Revisited” (1987) estaria incluso no mesmo. Pois bem, eis que no dia 24 de novembro de 1998, “Garage Inc.” via a luz do dia.
E, bem, mas uma vez o Metallica não se livrou das críticas que os perseguiam. Optando por um trabalho duplo, no primeiro CD entraram os covers especialmente gravados para o mesmo, enquanto o segundo CD recebeu as versões que a banda já havia feito desde os anos 80, a maioria delas tendo saído apenas em singles, além é claro do “Garage” original. E porque as críticas voltaram a se abater sobre a banda? Simples, por causa do repertório escolhido pelo quarteto.
Ok, nomes como Diamond Head, Black Sabbath, Mercyful Fate, Misfits, Discharge e até mesmo Thin Lizzy não surpreenderam, afinal, todos têm sua parcela de influência na sonoridade toda própria moldada pelo Metallica. Mas o que dizer de Bob Seger, Nick Cave ou Lynyrd Skynyrd? Além disso, em muitos momentos, a energia e o vigor passam longe das execuções, com o Metallica soando um tanto apático. Nem mesmo em canções que você espera um desempenho matador da banda, como em “Free Speech For The Dumb” e “The More I See” (que depois de seu final conta com um breve trecho de “Bridge of Sighs”, de Robin Trower), dos britânicos do Discharge, a coisa funciona. “Turn The Page” e “Loverman”, como já era esperado, são totalmente desnecessárias. Não entendam mal: não que as versões sejam ruins, mas simplesmente não têm nada a ver com o Metallica e por isso soam completamente deslocadas.
Já “It’s Electric” soa exatamente como esperamos, simplesmente matadora. É incrível como as músicas do Diamond Head parecem ter sido feitas sob medida para o Metallica. “Sabbra Cadabra”, que recebeu enxertos de “A National Acrobat”, ficou digna do Black Sabbath, mesmo não conseguindo se igualar à original em qualidade. Mas convenhamos, ai já seria pedir demais. Já “Die, Die My Darling” fez jus à categoria do Metallica e se não ficou tão boa quanto “Last Caress/Green Hell”, certamente deixou Jerry Only orgulhoso. O medley do Mercyful Fate, composto por “Satan’s Fall”, “Curse of The Pharaohs”, “A Corpse Without Soul”, “Into The Coven” e “Evil” pode levantar discussões (eu particularmente julgo desnecessário), mas possui peso e ótimas melodias.
Mas as três grandes surpresas por aqui ficam por conta dos covers de Blue Öyster Cult, Thin Lizzy e Lynyrd Skynyrd. “Astronomy” chega perto, mas muito perto mesmo de se igualar à versão original e se mostrou um dos grandes acertos do trabalho. Você pode até argumentar que existiam outras canções do Thin Lizzy que cairiam melhor no repertório do Metallica do que “Whiskey In The Jar”, uma célebre canção tradicional irlandesa, mas quando você percebe que ela é a única música desse trabalho que realmente se popularizou, sendo tocada até os dias de hoje, você se questiona se está realmente certo. Já “Tuesday’s Gone”, uma das baladas mais belas da história do Rock, ganhou uma surpreendente e bela versão acústica, gravada durante um programa na rádio KSJO e que contou com as participações especiais de Pepper Keenan (Corrosion of Conformity) nos vocais, Jerry Cantrell (Alice In Chains), Jim Martin (ex-Faith No More) e Gary Rossington (do próprio Lynyrd Skynyrd) nas guitarras, Les Claypool (Primus) no banjo, John Popper (Blues Traveler) na harmônica e Sean Kinney (Alice In Chains) na percussão.
Já o segundo CD dispensa comentários, beirando a perfeição, carregado de energia e vigor. De cara, temos as cinco músicas presentes em “The $5.98 EP – Garage Days Re-Revisited”. Em seguida, “Am I Evil?” a melhor música do Metallica não composta pelo Metallica em todos os tempos e “Blitzkrieg”, ambas presentes no single de “Creeping Death”. “Bredfan”, superior até mesmo à original e “The Prince” são faixas presentes no single de “Harvester of Sorrow”. O surpreendente cover para “Stone Cold Crazy” do Queen, carregado de personalidade, entrou em uma coletânea de comemoração dos 40 anos da gravadora Elektra, enquanto a dupla “So What” e “Killing Time” esteve presente no single de “The Unforgiven”. Fechando brilhantemente os trabalhos, temos 4 canções do Motörhead, “Overkill”, “Damage Case”, “Stone Dead Forever” e “Too Late Too Late”. E se você se lembrar que o Metallica já tocou com seus integrantes fantasiados de Lemmy no aniversário de 50 anos deste em 1995, fica ainda mais divertido.
Ao final, dentre mortos e feridos, temos lá um bom álbum de covers, obstante as críticas e algumas escolhas discutíveis no repertório e que se salva principalmente pelo conteúdo do segundo CD. Quanto ao primeiro, pode até não ser brilhante, mas vai render alguns bons momentos de diversão.
Formação:
James Hetfield (vocal e guitarra);
Kirk Hammett (guitarra);
Jason Newsted (baixo);
Lars Ulrich (bateria).
Faixas:
CD 1:
01 – Free Speech For The Dumb (Discharge Cover)
02 – It’s Electric (Diamond Head Cover)
03 – Sabbra Cadabra (Black Sabbath Cover)
04 – Turn the Page (Bob Seger Cover)
05 – Die, Die My Darling (Misfits Cover)
06 – Loverman (Nick Cave and The Bad Seeds Cover)
07 – Mercyful Fate Medley (Mercyful Fate Cover)
08 – Astronomy (Blue Öyster Cult Cover)
09– Whiskey In The Jar (Thin Lizzy Cover)
10 – Tuesday’s Gone (Lynyrd Skynyrd Cover)
11 – The More I See (Discharge Cover)
CD 2:
01 – Helpless (Diamond Head Cover)
02 – The Small Hours (Holocaust Cover)
03 – The Wait (Killing Joke Cover)
04 – Crash Course In Brain Surgery (Budgie Cover)
05 – Last Caress/Green Hell (Misfits Cover)
06 – Am I Evil? (Diamond Head Cover)
07 – Blitzkrieg (Blitzkrieg Cover)
08– Breadfan (Budgie Cover)
09 – The Prince (Diamond Head Cover)
10 – Stone Cold Crazy (Queen Cover)
11 – So What (Anti-Nowhere League Cover)
12 – Killing Time (Sweet Savage Cover)
13 – Overkill (Motörhead Cover)
14– Damage Case (Motörhead Cover)
15 – Stone Dead Forever (Motörhead Cover)
16 – Too Late Too Late (Motörhead Cover)