Muita coisa aconteceu com o Metallica após o lançamento de “Master of Puppets” (1986). A principal e mais trágica delas, como todos nós sabemos, foi a morte do baixista Cliff Burton. A banda chegou a cogitar o encerramento das atividades. Mas, graças aos deuses do Metal, resolveu recrutar Jason Newsted (que estava com o Flotsam & Jetsam) e gravou um dos álbuns mais importantes de sua carreira. Sendo um divisor de águas, “…And Justice For All” é nitidamente um disco de transição. Podemos perceber que o grupo mergulhou de cabeça em composições mais trabalhadas e técnicas, sem esquecer obviamente do peso que sempre esteve presente nos trabalhos anteriores.
Um dos pontos que sempre gera controvérsias é a produção do álbum. É praticamente impossível ouvirmos o baixo tocado por Jason Newsted. Muitos dizem que isso foi proposital, pois James Hetfield e Lars Ulrich não tinham muita confiança no que o baixista poderia apresentar. Uma injustiça, se isso for verdade. Apesar de não ser um grande fã de seu trabalho, Jason sempre incorporou o espírito do Metallica, desde sua entrada até o momento de sua saída. E convenhamos, como baixista, ele nunca deixou a desejar. Produzido por Fleming Rasmussen, o disco é uma obra-prima no tange ás composições. Os solos de Kirk Hammet estão perfeitos, assim como podemos descrever o trabalho de bateria de Lars como um dos melhores, senão o melhor, executado por ele na discografia da banda. Hetfield além de cantar muito (e aqui precisa ser dito: apesar de nunca ser citado, o vocalista é um dos melhores do estilo, bem como do Heavy Metal em geral), manda ver em riffs pesados e mortais.
As letras, apesar de não se tratar de um trabalho conceitual, acabavam girando em torno de temas como injustiça, política, censura, guerra… Temas que ainda hoje são recorrentes. E “…And Justice For All” também trouxe o primeiro videoclipe feito pela banda, fazendo com que caísse por terra a famosa frase perpetrada pelo grupo nos anos anteriores: “nunca vamos gravar um clipe!”. É… As coisas mudam, não é mesmo? Com uma capa que mostra a estátua que representa a justiça, caída, quebrada e amarrada por cordas, tendo sua balança recheada de dinheiro (algo que pra nós brasileiros se mostra sempre atual), o trabalho traz nove excelentes faixas que elevaram a banda a um outro patamar tanto no quesito composições, quanto em suas apresentações. Como dito anteriormente, a complexidade e duração das faixas exigiu muito dos músicos, o que fez com que os shows, além de contar com uma estrutura bem maior, fossem mais longos.
Falando das faixas… O que dizer de músicas como “Blackened”, uma porrada cheia de quebradas, com riffs intensos, letra forte e sombria? Excelente faixa de abertura. Impossível existir algum headbanger que não a conheça. Um refrão fácil que se contrapõe a insanidade das guitarras e da bateria. Um dedilhado serve de introdução para a faixa título. Pesada e bem trabalhada, “…And Justice For All” expõe o “novo” direcionamento que a banda apresentava. Com quase 10 minutos de duração, a faixa aponta um caminho até mesmo mais progressivo em alguns momentos, com viradas impressionantes. Na seqüência, “Eye of The Beholder” traz guitarras intensas, cortesia do produtor Fleming Rasmussen que via na dupla James/Kirk uma das mais importantes e inspiradas do Metal naquele momento. Com um andamento mais cadenciado, a música traz arranjos bem interessantes em sua execução com um refrão marcante. E então.. “One”. Simplesmente uma das melhores (se não a melhor) músicas de toda a carreira do grupo. Inspirada no livro Johnny Got His Gun, a faixa é um primor de técnica, inspiração e Heavy Metal! A banda decidiu lançar um vídeo dessa música (o primeiro da carreira) e depois disso, podemos dizer que a banda “deslanchou”. Uma faixa cheia de guitarras fortes, bateria com muitas variações e velocidade e muito peso!
“The Shortest Straw”, rápida e direta, tem uma veia mais “old school” da banda, com um refrão também de fácil assimilação. Composta pela dupla Hetfield/Ulrich a faixa tem um potencial que ao vivo levava os bangers á loucura. Em contraponto, “Harvester of Sorrow” é bem mais lenta e cadenciada e também muito pesada. Temos aqui um exemplo de como nem só velocidade é sinônimo de agressividade. Escute com atenção que você entenderá o que quero dizer. “The Frayed Ends of Sanity” é outra faixa que escancara o potencial criativo da banda. Viradas muito bem colocadas por Lars, riffs e mais riffs proporcionados por James e solos técnicos e cheios de feeling por parte de Kirk. E Jason… Bom, no que se consegue ouvir, percebe-se também o bom trabalho do baixista. “To Live Is To Die” é a faixa de maior duração. Composta por James, Lars e pelo saudoso Cliff, a música é instrumental e possui momentos intensos e por vezes introspectivos, e apesar disso, faz com que não tenhamos noção de quanto tempo passou até o seu final, pois empolga do início ao fim. No encerramento, “Dyers Eve”, a faixa mais curta do trabalho. Direta como um soco na boca do estômago, a faixa mostra que, naquela época, o Metallica já estava assumindo o trono de maior banda do mundo!
“…And Justice For All” é um álbum que não envelhece. O que, pra gente, fã de Heavy Metal, é algo que não é preciso dizer, não é mesmo?
Formação:
James Hetfield (vocal/guitarra);
Kirk Hammet (guitarra);
Jason Newsted (baixo);
Lars Ulrich (bateria).
Faixas:
01 – Blackened
02 – …And Justice For All
03 – Eye of The Beholder
04 – One
05 – The Shortest Straw
06 – Harvester of Sorrow
07 – The Frayed Ends of Sanity
08 – To Live Is To Die
09 – Dyers Eve