Roadie Metal Cronologia: Mercyful Fate – Return Of The Vampire (1993)

A safra do metal oitentista e europeu trazia no início da sua década uma banda que abriria as portas pra um grande músico e escritor que faria mentes delirarem dentro do metal. Mercyful Fate foi uma banda que começou o clássico Heavy Metal\Hard Rock que pode evoluir sua musicalidade pra um clássico Black Metal com fortíssima influência de Heavy. Aliás, a presença de King Diamond na banda, com sua postura profana pra época permitiu a banda alavancar com muito potencial na época. Mercyful Fate, abrindo as portas para um projeto solo de King Diamond, que traria toda uma vertente e aparência teatral, veio a se tornar uma grande em pouco tempo. Afinal, estamos falando de uma banda que influenciou fortemente o Metallica.

A banda já teria lançado, até o ano de 1993 alguns registros Demos e EP’s, além dos dois Full’s “Melissa” e “Don’t break the Oath”. “Return Of The Vampire” é a segunda compilação das antigas demos da banda. Para o Mercyful fate, naquela época seria uma inteligente jogada de marketing para uma banda em significante elevação mostrar o que já tinham feito e saciar o seu público com a essência da verdadeira e original face do Mercyful Fate.

A sonoridade do Mercyful Fate podemos considerar que começou a se consolidar no seu segundo Full. Há uma grande veia do Judas Priest presente nas linhas de composição.  A forma de impostação da voz era um tanto única no mercado. Os agudos que expressavam uma melancolia diabólica e angelical misturadas. E obviamente uma abordagem de temáticas fantasmagóricas, paranormais, lendas antigas, assuntos que nem todas apostavam na época.

O que tem de tão importante em Mercyful Fate, produção?

  • O simples fato que eles começaram a misturar essas passagens um tanto tenebrosas na música, que remetiam a trilhas sonoras de filmes de terror.
  • É uma banda que todo metaleiro deve conhecer e ter em seu repertório, principalmente por ter influenciado grandes bandas que temos hoje no mercado.
  • King Diamong trazia suas letras de uma forma diferente e pode explorar isso com mais afinco em seu outro projeto solo.
  • Os solos são fritantes que deitam numa base de heavy metal, com influências progressivas e de jazz. Era uma química que estava começando a ser muito presente nas bandas da época.
  • A banda, assim como Judas Priest mudou sua perspectiva sobre a música e trocou as trajes e rótulos com o passar dos álbuns.

Return Of The Vampire é nada mais nada menos que uma compilação, portanto, de clássicas músicas que fizeram os 10 primeiros anos do conjunto. Vale a pena conferir e, ainda pra quem for fã da banda, adquirir como uma forma de chegar mais perto da banda em sua verdadeira vertente

1. Burning The Cross

A música mostra aonde o Metallica se deleitou quando fizeram suas primeira composições presentes no Kill’em All. Usam e abusam da variação dos tempos com passagens clássicas do Heavy Metal, guitarras dobradas em dueto e o vocal oitavado de King Diamond. A letra é pouco sugestiva né? Fala obviamente do anticristianismo pregado pelas bruxas e sua demonologia. As levadas em cavalgadas misturadas com os riffs bem heavy metal são mais do que necessários pra criar uma música excelente. Porém a receita enjoa com facilidade, não te encaminhando  pra algo surpreendente, apesar dos licks de Shermann e Petersen serem impressionantes, principalmente pra época. Um destaque interessante para o sussurro gélido de King Diamond que soa como um espectro no fone de ouvido mais para o final da música. Mas, como dito, talvez a música poderia ser um tanto menor.

2. Curse Of The Pharaohs

A música sugere em seu início algo bem pra uma puxada Hard Rock. Mas as levadas que remetem aos clássicos do Maiden, o ritmo mais cadenciado, o maior aproveitamento de um único riff para ser mais explorado até que venha um seguinte é muito mais eficiente nessa música. A música prefere investir na sua levada cavalgada, sem dar muitos holofotes para os riffs que se introduzem ao meio da música que seguem o shredding. A música é simples. Investem na receita básica de intro, verso e refrão e tornam um hino com facilidade. A letra não deixa sobras de dúvida: fala sobre a maldição e o medo paranormal do egito. Sobre o medo da população que tinha por um faraó, vendo-o não como uma figura humana mas sim como uma prole de algum deus. A fúria que ele podia pregar nas pessoas e seus servos, como as pragas e as infestações, a fome e a miséria… enfim, não ouse desafiar o faraó se não for mata-lo.

3. Return Of The Vampire

A música é lenta, ousada, dando holofotes para os vocais de King Diamond. Apostam num riff único brincando vez ou outra com seu andamento. Apesar de ela ser monótona em seus riffs iniciais, o refrão praticamente toca a alma com o vocal em dueto do King, onde seus berros preenchem o fundo da melodia. Da pra entender que na verdade a música se liga diretamente com a letra. Ela começa a ficar um tanto mais interessante após o refrão que o tempo aumenta. É possível conciliar que na dramatização da música, ele justamente fala em como acabar com o vampiro no momento de auge da música.  Há, num certo instante, uma passagem progressiva sem pé nem cabeça que precede uma nota básica da canção e acompanha ela até o final não tão distante. A letra, obviamente, fala do terror vampiresco criado por Bram Stoker. Não o Drácula em si, mas as suas crias e como elas se comportam no meio da noite.

4. On a Night Of Full Moon

Essa música já leva a vertente do progressivo nas suas costas, naquele heavy metal que trabalha com a variação de peças da percussão pro seu andamento diferenciado. Ela tem seus altos e baixos, mas o mais incrível é a atmosfera sombria que criam no início dando esse toque de horror literário e musical. A troca de riffs nessa música, contrário a primeira faixa, já é melhor e mais pensada e a música acaba com um verdadeiro heavy metal clássico. Ela fala de necromancia, apesar de sua aparência pouco sugestiva. Copulação com corpo de mulheres mortas, o levantar dos mortos e os desenhos no cemitério após a meia noite. King Diamond literalmente falava torto por linhas certas.

5. A Corpse Without Soul

Quase como uma continuação da música anterior. As famosas levadas do thrash britânico oitentista que veio como fruto da NWOBHM. Mais da mesma receita de trocar de andamento mas enfatizar nas repetições dos mesmos riffs para prega-los em sua memória. O fato é que essa música, por se tornar não muito relevante, e com os riffs um tanto batidos, acaba abafando seus poucos momentos de glória que tem. E se torna engraçado em alguns momentos que o delay feito pelo próprio vocalista para imitar um eco da própria voz só que sem tonalidade equivalente acaba dando um breve desconforto para o ouvinte. Não é uma música que agrega tanto, incluindo ainda na letra que se tora um tanto repetitiva também.

6. Death Kiss

O andamento e o trabalho mais coeso da banda torna a música um tanto mais interessante. Ela tem mais dinamismo apesar de um segmento simples. Tem identidade e a música se encaixa com mais facilidade aos ouvidos. Porém novamente, Mercyful Fate investe nas letras pouco chamativas e totalmente clichés, que naquela época eram muito aclamadas. Não deve-se tirar o crédito, a banda foi precursora nesse ramo. Pelo fato do conjunto não procurar nos riffs extensões impertinentes para gerar mais minutos de música, acaba sendo mais fácil de degustar a agonia fantasmagórica de King Diamond.

7. Leave my Soul Alone

Outra canção do conjunto que segue um andamento único, uma receita que funciona, com uma base simples que serve pra verso refrão e solo. Pequenas variações uma mesma tonalidade. Uma música que mostra o Mercyful Fate em sua essência verdadeira, com a pegada de Judas Priest mais do que presente. A música é um dark romance na letra, falando de uma morte por amor. De alguém que mata seu amigo para ficar com sua mulher. Algo sem muito aprofundamento, mas que era mais do que necessário pra época.

8. M D A (Mission: Destroy Alien)

 É uma música que também é fruto do Mercyful Fate original, com aquela pegada hard Rock europeu, misturando as influências de punk. Infelizmente, a música é só mais uma apesar de alguns detalhes em dueto nela que são bem bacanas. A levada também é bem única e a viola mística no início poderia sugerir algo bem mais grandioso vindo do Mercyful Fate. No quesito das letras, infelizmente, parece que realmente não tem muito a ver com a presença de alienígenas. Parece mais uma alucinação do vocalista depois de uma noite de bebedeiras. A música portanto deixa a desejar um pouco.

9. You Asked for It

Olha, se eles não se influenciaram em Diamond Head nessa música, eu diria que é praticamente um plágio de Am I Evil. Os riffs, as passagens, os campos harmônicos, claro, só não o refrão. É icônico como as mesmas vertentes puderem influenciar um mesmo monstro que foi o metallica. É perceptível ver como o Mercyful Fate bebia das fontes dos grandes clássicos dos oitentas. A força do metal britânico que influenciou e ainda influencia diversas bandas.

E chegamos ao fim desta compilação. Sabendo que foram materiais pouco vistos rodando no mercado musical da época, e que eram os primeiros 10 anos de banda, podemos ter algumas perspectivas. Em uma década, a banda melhorou muito e amadureceu a sua marca, o seu registro sonoro. Ela conseguiu se encaixar numa fórmula praticamente única e investiu nisso até chegar em seu ultimo álbum bem consagrado 9. Claro, hoje, uma banda lançando um som assim é praticamente descartada num vácuo absoluto ou aclamada por um outro, graças a sonoridade pouco inovadora e tão abusada por um titã da música pesada. Mas na época isso era revolucionário, até mesmo para os jovens estadunidenses, precursores do thrash americano que foi o Metallica. O Mercyful Fate é quase presente em várias de suas músicas assim como o Diamond Head também é, e o mesmo se diz para Judas, Sex Pistols e bandas do heavy metal europeu e o punk. É possível perceber que o diferencial único nessa panela toda é a voz e o comportamento abusivo de King Diamond como um proclamador de histórias escuras, o infeliz que vio o demônio em pessoa, teve sua alma roubada e agora precisa gritar desesperadamente isso num microfone. Essa ideia pouco vista na época seria muito bem reaproveitada trazendo o Mercyful Fate para mais bons álbuns e, na minha humilde opinião, que bom que lançaram esse material para clarear a visão da banda de um passado onde se encontravam perdidos no meio da inspiração.

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