A definição de Metal Progressivo que, hoje, faz mais sentido para mim, é aquela onde os elementos de Progressivo (em sua interpretação mais ortodoxa) estão minimizados em favor da extrapolação dos conceitos de Metal. E, Metal, na forma como é expressado por bandas como o Mastodon, é uma mescla amorfa de Sludge, Doom e Hardcore.
Impressiona saber que este é “apenas” o segundo álbum da banda, sendo considerado por muitos como o seu melhor trabalho. Tendo sido inspirado no clássico livro “Moby Dick”, de Herman Melville, o disco segue um planejamento da banda para que cada álbum tenha um dos quatro elementos como base. A estreia “Remission”, seria sobre o fogo, enquanto que “Leviathan” seria sobre a água. Nada melhor, portanto, que adaptar a história desse ser mastodôntico, que tantas vezes já foi referenciado no mundo da música pesada: Uma criatura gigantesca, que avança implacável em meio à densidade das sombrias profundezas marítimas…
O começo da faixa de abertura, “Blood and Thunder”, tem um riff que nos leva a crer que seja a entrada de uma música de Metal Tradicional, mas dez segundos depois ela se metamorfoseia na consistência típica dos arranjos da banda, assumindo aspectos intrincados e peso ilimitado na medida dos vocais do baixista Troy Sanders e do convidado Neil Fallon, do Clutch. “I Am Ahab” vai mais além e o baterista Brann Dailor mostra as razões porque é um dos principais nomes do instrumento na atualidade.
“Seabeast” tem andamento mais na linha do Post-Hardcore, enquanto que “Island” soa como o Thrash moderno, mostrando a interação entre as atuações dos guitarristas Brent Hinds e Bill Kelliher. “Iron Tusk” exibe alguma influência do Black Sabbath nos riffs. No geral, percebe-se que as músicas são relativamente curtas, como se inversamente proporcionais ao que a habilidade dos músicos pode oferecer, mas isso também seria uma demonstração de quebra dos conceitos do Progressivo.
“Megalodon” torna a visitar o Thrash, com passagens rápidas que fazem com que a música soe, em alguns momentos, como se fosse um Metallica do novo milênio. “Naked Burn” traz variações através da presença dos vocais mais melódicos de Brent Hinds e harmonias kingcrimsonianas. “Aqua Dementia” tem a participação dos vocais de Scott Kelly, da banda irmã Neurosis, além de tempos quebrados dentro de mudanças bruscas de andamento.
Chegando próximo ao final, “Hearts Alive” é a única canção mais longa, com treze minutos de espaço para concluir a audição de forma tão épica quanto o livro que guiou sua concepção, avançando através de diversas mudanças instrumentais até que as ondas oceânicas nos joguem na areia de alguma praia, onde a instrumental “Joseph Merrick” faz tanto sentido quanto nos sentarmos para encarar os movimentos do mar no fim de uma tarde.
No ano de seu lançamento, “Leviathan” foi destaque absoluto nas principais publicações especializadas. Embora seja nítido que, nos anos seguintes, as músicas da banda tornaram-se menos herméticas – sem prejuízo da complexidade instrumental, diga-se – há um pouco de exagero na visão a respeito de obras pós-“Remission”. O apuro dos arranjos está ao serviço das canções e algumas poucas audições são necessárias para que se verifique a assertividade disso.
Formação
Troy Sanders – baixo, vocal
Brent Hinds – guitarra, vocal
Bill Kelliher – guitarra
Brann Dailor – bateria
Músicas
01 Blood and Thunder
02 I Am Ahab
03 Seabeast
04 Island
05 Iron Tusk
06 Megalodon
07 Naked Burn
08 Aqua Dementia
09 Hearts Alive
10 Joseph Merrick