Em 1996, com a entrada do guitarrista Karl Logan, o Manowar inaugurava uma nova fase em sua carreira e, para marcar, lançou o ótimo “Louder Than Hell”. A sequência surgiu em 2002, com “Warriors of the World”, que também é um bom trabalho, mas que começava a acender alguns sinais de alerta. Os anos que separavam os lançamentos começavam a ficar mais espaçados e, no tracklist, duas covers e uma instrumental. Boas faixas, sim, mas que levavam a inferir que a banda já não estava tendo inspiração suficiente para preencher seu álbum apenas com composições próprias.
Essa impressão retornou à minha cabeça no decorrer da audição de “Gods of War”. Provavelmente, o lançamento mais ambicioso do Manowar, embora, contraditoriamente, tenha se revelado seu álbum mais fraco. Decerto, a banda foi inspirada por aqueles que inspiraram. O sucesso de grupos como o Rhapsody, que compunham o selo Magic Circle Music, criado por Joey DeMaio, levaram este a conceber seu próprio trabalho conceitual, baseado nas lendas do deus nórdico Odin. Até aí, ok, pois essa era a zona de conforto do Manowar, mas faltou um olhar voltado a transformar aquilo em um disco de Metal poderoso e não uma entediante e truncada narrativa, pontuada por músicas esparsas.
Partindo do começo, a abertura com “Overture to the Hymn of the Immortal Warriors” poderia ter funcionado melhor caso tivesse sido um pouco reduzida em sua duração. São seis minutos de uma orquestração semi-espartana, sem grandes variações, e com a participação de um coro em solfejos. Sim, não precisamos ser impacientes ainda, pois sabemos que – por tradição – ao final de uma intro teremos a banda emergindo com alguma canção rápida e pesada…. Ledo engano, pois “The Ascension” é uma declamação, feita com aquele tom intermediário entre o pausado e o solene. Pelo menos, a voz de Eric Adams começa aqui a aparecer e, finalmente, um pouco de Heavy Metal surge com “King of Kings”, música rápida, como esperado e com aquele tipo de andamento que a banda tornou padrão em suas produções mais recentes. Teria sido melhor não interrompê-la em sua parte central, como foi feito para a inserção de mais alguns declames, mas, afinal, há uma história a ser contada….
Eric Adams continua sendo o destaque, pois é, de fato, uma das grandes vozes do Metal, mas Scott Columbus, por outro lado, não teve um desempenho satisfatório, com levadas de bateria muito retilíneas e de pouca criatividade. “Army of the Dead, Pt. 1” é um canto de coral à capela que você pode avançar caso não esteja acompanhando a história. Sim, a história sobre a qual você pode saber um pouco mais olhando lá no encarte… inteiramente escrito em runas!!! Mas não se preocupe: na penúltima página tem as chaves de tradução e você poderá desfrutar bastante de seu tempo livre fazendo a tradução.
Mais um inevitável minuto de narração no começo de “Sleipnir”, que felizmente compensa ao apresentar um refrão cativante. O melhor momento do álbum até agora e que, surpresa, melhora ainda mais com “Loki, God of Fire”, finalmente fazendo com que o disco cresça em empolgação. A sequência vem com “Blood Brothers”, na linha das baladas épicas do Manowar. Após essa sequência, podemos absorver a instrumental “Overture to Odin”, com um pouco mais de tolerância – embora seja tediosa, quando deveria ser emocionante – mas a nossa boa vontade escoa pelo ralo com outra narração, em “The Blood of Odin”. “The Sons of Odin” vem para confirmar que os refrãos são um dos pontos de destaque no disco, pena que nessa canção a novidade seja o fato de terem colocado no fim o trecho narrativo, que prosseguirá ao longo de “Glory Majesty Unity”.
A faixa título soa como um chamado para a guerra. Não é a melhor música do disco, mas leva a pensar que se o Manowar tivesse realizado esse trabalho de um modo mais musical, substituindo esses inúmeros trechos de narração e de sonoplastia por canções autênticas, o resultado tenderia a ser bem mais superior e dinâmico. “Army of the Dead, Pt. II” é tão inútil quanto a primeira e a prova disso está em “Odin”, onde a mesma melodia de ambas é utilizada de maneira mais coerente, dentro da estrutura de uma música. Do mesmo modo, “Hymn of the Immortal Warriors” fecha aproveitando a ideia melódica da abertura de uma forma mais sábia, tanto que o rápido trecho narrativo nem chega a incomodar. “Die For Metal” encerra o álbum como bônus, pois não se relaciona tematicamente com as demais canções, e traz o Manowar sendo Manowar, com uma música cheia de seus clichês tradicionais e com um riff claramente inspirado em “Kashmir”, do Led Zeppelin.
Segundo a minha soma, temos aproximadamente 26 minutos que o ouvinte pode cortar, caso esteja apenas querendo aproveitar música para curtir, sem se vincular ao contexto do álbum. Claro que há quem aprecie o que a banda tencionou fazer e não há nenhuma crítica ao que o gosto de cada um pode preferir, mas entendo que eles falharam em criar algo que fosse realmente unificador de um conceito mitológico forte com suas características como banda. Consta que esse deveria ter sido o primeiro de uma sequência de trabalhos temáticos, mas a ideia parece ter sido abortada e, pelo jeito, dificilmente será trazida de volta.
Provavelmente, é melhor assim. Odin merece descansar em paz no Valhalla, onde pode guerrear pela eternidade, sem que ninguém interrompa o ritmo das batalhas para fazer proclames monótonos.

Gods of War – Manowar
Data de Lançamento: 23/02/2007
Gravadora: Magic Circle
Tracklist:
01 Overture to the Hymn of the Immortal Warriors
02 The Ascension
03 King of Kings
04 Army of the Dead, Part I
05 Sleipnir
06 Loki God of Fire
07 Blood Brothers
08 Overture to Odin
09 The Blood of Odin
10 The Sons of Odin
11 Glory Majesty Unity
12 Gods of War
13 Army of the Dead, Part II
14 Odin
15 Hymn of the Immortal Warriors
16 Die for Metal
Formação:
Eric Adams – vocal
Karl Logan – guitarra, teclado
Joey DeMaio – baixo, teclado
Scott Columbus – bateria