O Lynyrd Skynyrd é uma das maiores instituições musicais nos Estados Unidos. O nível celebratório em seu país de origem, é muito maior do que no restante do planeta, onde também são GRANDES em popularidade. Os motivos para tal feito são os mais variados. Primeiro, por juntamente com o Almann Brothers Band, ser a banda mais popular do gênero que ficou conhecido como southern-rock, e que acaba muito se confundindo a exemplo da música country, como a trilha-sonora do cidadão médio americano.

Segundo. pelo trágico acidente aéreo vivido no auge da carreira em 1977, que vitimou três integrantes da banda: Ronnie Van Zant, Steve Gaines e Cassie Gaines, e ainda deixou os outros músicos gravemente feridos. O triste acontecimento foi uma comoção, e como costuma ser bem frequente em circunstâncias como essa, o grupo se tornou ainda mais popular por toda a exposição midiática. Acabou contribuindo para o status mitológico, com as vendas e o culto ao Lynyrd Skynyrd se multiplicando ferozmente. Só retomariam atividades em 1991, com Johnnie Van Zant (irmão de Ronnie) nos vocais.

Terceiro, por razões não muito nobres… A exemplo dos nativos de grande parte do Sul dos EUA, opiniões um tanto conservadoras no viés político, que infelizmente se contabilizam em posicionamentos regidos por um mar de preconceitos, são frequentemente vindas dos atuais integrantes. Isso também contribuiu para a popularidade da banda, mas não necessariamente em um prisma positivo para todos.

Mas vamos ao ano de 2003, quando a banda lança seu melhor trabalho em MUITO tempo: “Vicious Cycle”, seu décimo segundo registro autoral. O disco é realmente surpreendente! Mas vamos as faixas: “That’s How I Like It” é o típico petardo arrasa-quarteirão de abertura! Uma bela introdução acústica dá vazão a levada irresistível southern rock do grupo, com fortíssimo acento blues, e uma “pitada” de hard setentista, com alguns floreios de viola country. O refrão irresistível, e o final surpreendente com batida tribal, fazem desta canção um dos grandes momentos da carreira do LS. Apesar de mais cadenciada, a expectativa não é quebrada em “Pick’Em Up”! Excelente rhythm and blues, com forte acento soul e um clima de jam session altamente festeiro, com os integrantes se revezando nos vocais e solos cheios de feeling. Contagia, e MUITO!

“Dead Man Walkin” se assemelha bastante a produção da banda nos anos 70, um blues/country/rock com tema espinhoso. O título é uma expressão utilizada para quem está no corredor da morte, a espera de sua sentença. Nesse caso, alguém que matou o agressor da esposa. O peso do instrumental enfatiza a dramaticidade da história, e o lirismo nos solos é outro show a parte. Uma pérola! O saudoso baixista Leon Wilkeson (que partiu 2 anos antes) chegou a gravar duas músicas para esse CD, e “The Way” foi uma delas. Vale ressaltar que a viúva de Ronnie teve que autorizar os músicos a seguirem em frente com a perda de mais um componente da formação original (e mais um dos irmãos Van Zant). O acordo era que a banda só poderia usar a marca desde que mantivesse pelo menos três membros originais (os outros são o guitarrista Gary Rossington e o tecladista Billy Powell). Mas deu tudo certo, e num tom mais “cancioneiro”, é uma ótima música!

A bela balada “Red White & Blue”, com sua narrativa “porta-voz da classe média” americana (“a la Bruce Springsteen”), foi o grande sucesso do disco nos EUA. O trio de guitarristas Rickey Medlock (ex-Blackfoot), Gary Rossington e Hughie Thomassen (ex-Outlaws) simplesmente “destroem” em seus solos que “sinergizam” de forma cristalina! “Sweet Mama” com seu forte sotaque soul em um “rockão” básico, lembra alguns dos grandes momentos dos The Rolling Stones. O nível se mantém altíssimo com a “hard-funkeada” , “All Funked Up”, a música com sonoridade (injetando ares de modernidade) mais distante do padrão LS no disco. A singela balada “Hell or Heaven” é correta, e dá uma quebrada no altíssimo padrão que vinha se acenando até então. A letra é bastante inspirada, e discorre sobre escolhas na vida que podem te levar aos dois extremos, no caso a metáfora entre céu e inferno.

“Mad Hatter” é uma homenagem ao baixista Wilkeson, um colecionador inveterado de chapéus. Seu apelido era “chapeleiro louco” por seus amigos, em virtude dessa característica. Era muito querido, e podemos designar essa passagem por causas naturais, mais uma tragédia na banda. Sempre brincavam bastante com o fato dele ter sobrevivido à queda do avião em 77, e que teria “7 vidas como um gato”. A canção tem uma bela vibe hipnótica e passa longe da pieguice que esse tipo de tributo costuma acometer. A sequência vem com os poderosos rocks com o padrão Lynyrd Skynyrd, mas de forte influência hard rock “com pé no blues” (a tendência “experimental” desse disco), “Rockin’ Little Town” e“Jake”, todas envolventes até a medula.

A sequência de baladões “bluezy”, “Crawl”, “Life’s Lessons” e “Lucky Man” (a outra participação de Leon), levam o ouvinte para uma direção mais emocional. A banda mostra excelente forma instrumental, apesar de para alguns fãs southern mais radicais, poder soar como um balde de água fria. As canções são belíssimas, e acredito ser isso o mais importante em qualquer avaliação, não acham? Vale ressaltar a incrível forma dos vocais de Johnnie nesse registro. A encore se dá em grande estilo, com uma regravação do clássico “Gimme Back My Bullets”. A participação do então astro Kid Rock, com sua entonação de forte pegada rap, mostra que havia sim uma tentativa em soar tradicional e simultaneamente inovador, dialogando com o cenário atual. Belo encerramento para um dos GRANDES álbuns do ano de 2003. “Vicious Cycle” merece ser rememorado pelos fãs do Lynyrd Skynyrd e redescoberto pelas novas gerações!

Lynyrd Skynyrd – Vicious Cycle
Data de lançamento: 20 de maio de 2003
Gravadora: Sancturary

Tracklist:

“That’s How I Like It”

“Pick Em Up”

“Dead Man Walkin'”

“The Way” 

“Red, White e Blue”

“Sweet Mama”

“All Funked Up” 

“Hell or Heaven” 

“Mad Hatter”

“Rockin’ Little Town” 

“Crawl”

“Jake”

“Life’s Lessons” 

“Lucky Man”

“Gimme Back My Bullets” 

Formação:

  • Johnny Van Zant – vocal
  • Gary Rossington – guitarra
  • Billy Powel – teclado
  • Ean Evans – baixo
  • Michael Cartellone – bateria
  • Rickey Medlocke – guitarra e vocais
  • Hughie Thomasson – guitarra e vocais
  • Leon Wilkeson -baixo em “The Way” e “Lucky Man”

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