Quatro anos antes, o Korn havia lançado um álbum cujo título se traduzia como “Siga o Líder”. Exageros à parte, não havia exagero algum. O Korn era o maior, mais relevante e mais bem sucedido grupo dentro daquilo que se convencionou chamar de Nü Metal.
E parece surgir daí a razão do amor e ódio com o qual a banda costuma ser tratada. É Metal? Seria essa a forma mais adequada de nominar o seu estilo, se é que estilos precisam ser nominados? Até onde o Metal pode – ou não pode – ir, para não ser descaracterizado, e, por fim, quem afinal definiria isso? São algumas perguntas que podem fazer com que o tempo passe mais ludicamente em uma mesa com amigos, cerveja e uma porção de tira gosto, mas que não devem se prolongar por demasiado nas discussões sobre estereotipação da cultura. Se deixarmos toda essa coisa de lado, o que resta é que o Korn é uma excelente banda, possuidora de estilo e personalidade própria e, sem qualquer dúvida, muito pesada.
Afinações baixas? Claro que sim, porque não? Se os instrumentos musicais nos permitem infinitas possibilidades de obtenção de sons, qual a razão para não utilizá-los? “Untouchables” é o quinto trabalho onde o Korn oferece sua face e é um dos melhores de sua discografia. Houve altos e baixos nos discos anteriores e – delimitando a apreciação apenas sobre este – o disco de 2002 também não chega a ser um trabalho absoluto. Aliás, manter o padrão constantemente elevado ao longo de catorze faixas seria uma proeza invejável.
Mas o saldo pende bem mais para o lado positivo e o começo não poderia ter sido melhor! A canção de abertura foi o primeiro e merecido single a ser lançado. Tendo sido agraciada com um Grammy, “Here To Stay” tem todas as características reconhecíveis de uma música do Korn, adornada pelos elementos radiofônicos que constroem um hit, principalmente no refrão irretocável. “Make Believe” já demonstra outra faceta, mais densa, apesar dos ganchos inconfundíveis.
Densidade, alias, parece ser o termo mais adequado para ser utilizado várias vezes ao longo desse texto e – devemos ressaltar – não estaríamos falando apenas da parte musical, mas bem mais propriamente das letras extremamente pessoais de Jonathan Davis. “Bottled Up Inside” e “Embrace” são outros dos momentos onde os acordes pesam toneladas, embora fiquem um pouco atrás da fúria de “Wale Up Hate”, que possui alguns momentos que não seriam deslocados se estivessem em algum disco de Max Cavalera.
Embora “Alone I Break” tenha sido um dos três singles do disco, não possui tanto potencial quanto sua antecessora “One More Time”. Tanto nesta, quanto em “Hating”, podemos apreciar as ideias de linhas de guitarra criadas por Munky e Head, que não se deixam prender ao estrito conceito de riff.
Nessa primeira fase do conjunto, o ex-baterista David Silveira foi um personagem fundamental, através de sua fusão musical com o baixista Fieldy, provavelmente o principal personagem dentro da criatura Korn, através da sua inventividade e perícia no instrumento, com a utilização de diversas técnicas no manuseio das quatro cordas.
A capa de “Untouchables” não nos desvia do que o Korn quer alcançar. Seu som é tão diferente quanto variado e, apesar do sucesso do conjunto, sempre será algo estranho, algo anômalo, dentro do cenário da música popular. É, portanto, exatamente o que precisamos.
Formação
Jonathan Davis – vocal
Munky – guitarra
Head – guitarra
Fieldy – baixo
David Silveria – bateria
Músicas
01 Here to Stay
02 Make Believe
03 Blame
04 Hollow Life
05 Bottled Up Inside
06 Thoughtless
07 Hating
08 One More Time
09 Alone I Break
10 Embrace
11 Beat It Upright
12 Wake Up Hate
13 I’m Hiding
14 No One’s There