O primeiro contato deste redator com o Korn foi através do clipe de Did My Time, que era veiculado a exaustão na TV União, uma espécie de MTV cearense. Criança à época, eu não ligava tanto, porque o maior interessado em ver esse clipe era meu irmão mais velho, que era fã do Nu Metal que na época ainda aparecia no mainstream. Quando me veio a incumbência de dissertar sobre Take A Look In The Mirror, nesta egrégia seção Roadie Metal Cronologia, fui checar seu setlist. Me desanimei por achá-lo longo (13 músicas para mim já é muito para um álbum de Metal), mas me bateu uma boa nostalgia ao constatar a presença de Did My Time.
Esclareço isso porque o Korn foi uma banda que nunca me interessou conhecer a fundo, assim como o Nu Metal em geral. Somente de um ano para cá que me senti atraído pelos dois primeiros álbuns do Linkin Park, que sempre achei a banda mais legal e criativa do estilo, e alguns “lados B” do Slipknot (System Of A Down? Esta excelente banda nunca foi Nu Metal). Sobre o Korn, eu só conhecia o essencial para entender sua importância para o estilo que tomou de assalto a popularidade e as paradas no fim dos anos 90 e começo dos anos 2000 junto ao próprio Linkin Park, ao Slipknot e a aberração que atende pelo nome de Limp Bizkit.
Ouvir Take A Look In The Mirror só reforçou a minha falta de atração pelo Korn.
O sexto álbum de estúdio da banda californiana trouxe de volta o peso e a dinâmica que caracterizou os primeiros trabalhos do grupo. As afinações baixas estão lá com todo seu poder de peso e os ritmos cadenciados e groovados da bateria de David Silvera deixam espaço para que o peso possa se sobressair. Aliás, deveria se sobressair. Há a impressão de que a grande maioria das composições do álbum gira em torno do contrabaixo distorcido de Reginald “Fieldy” Arvizu, de modo que em vários momentos as guitarras ficam escondidas atrás do baixo gorduroso de Fieldy. Voltando a bateria, sua mixagem deu um aspecto retrô ao som do instrumento, emulando o som abafado e ao mesmo tempo destacado que lembra várias gravações dos anos 80, especialmente de …And Justice For All.
Produzido pela própria banda nos estúdios particulares de Jonathan Davis, Take A Look In The Mirror foi lançado no dia 21 de novembro de 2013 através da Epic Records. A primeira metade do álbum se apresenta bastante empolgante com Right Now e seu clipe nada ortodoxo. Break Some Off é um sucesso explorando variedades com as afinações baixas, timbres limpos e a versatilidade vocal de Davis, que vai dos limpos aos guturais. A cadenciada Counting On Me e seu colorido escuro em Ré Sustenido Menor ampliam a atmosfera densa do instrumental do grupo. A variedade é explorada novamente em Deep Inside com os phasers e flangers nas guitarras em partes mais calmas. Aí chega a ótima Did My Time para facilitar e confortar minha audição. Obviamente tive que assistir ao clipe, sim, aquele mesmo que tem a Angelina Jolie e que serviu de divulgação para A Origem da Vida, longa da franquia Lara Croft.
Pronto. A partir de Everything I’ve Known (que também ganhou clipe), o álbum se torna previsível e chato, pois a fraca capacidade do Nu Metal de se manter empolgante e de impressionar o ouvinte começou a emergir com força a partir deste momento. Não entendi o que o pobre do rapper Nas foi fazer na tétrica e “Limpbizkitiana” Play Me; ele estava mais deslocado do que pinguim no deserto do Saara. Constatei neste momento que Mike Shinoda é deus e que o Linkin Park é o estrado de seus pés. Ou rimas.
A coisa fica legal novamente na densa e maldosa Alive, que estava presente na primeira demo lançada pela banda, Neirdermayer’s Mind (1993), e que foi retrabalhada para Take A Look In The Mirror. Let’s Do This Now traz as conhecidas gaitas-de-fole de Jonathan Davis em sua introdução, que desagua num ótimo trabalho de bases de guitarras e de vocais. A previsibilidade ressurge na insossa I’m Done e na chata Y’all Want A Single. O álbum se encerra com When Will This End, cujo título é uma piada metalinguística com a própria faixa, tendo em vista que seu comprimento é de 14:23, sendo que existe um silêncio bem grande após o fim da música em si (que acontece em 3:39) que revela ao seu fim um desnecessário cover feito ao vivo para One, do Metallica.
Take A Look In The Mirror a princípio não foi tão bem nas paradas norte-americanas quanto seus antecessores, se recuperando na semana seguinte de seu lançamento e atingindo a nona colocação na Billboard 200. Este foi o último álbum com a formação original do grupo, tendo em vista que o guitarrista Brian “Head” Welch deixou o Korn em 2005, retornado somente em 2013 e encontrando um novo baterista no posto que era de David Silveria, Ray Luzier.
Este também foi o último álbum de estúdio do Korn lançado sob o selo Epic/Immortal. A parceria da banda com a gravadora encerrou-se após o lançamento da coletânea Greatest Hits, Vol. 1 em 2004, antes que a banda migrasse para a EMI e por lá lançasse See You On The Other Side em 2005. Mas este álbum é assunto para amanhã aqui no Roadie Metal Cronologia.
E para outro redator! Pois este aqui que escreveu este artigo que você acabou de ler não quer mais saber de Korn tão cedo novamente. Me deem licença, pois vou ouvir Hybrid Theory.
Take A Look In The Mirror – Korn (Epic/Immortal, 2003)
Tracklist:
01. Right Now
02. Break Some Off
03. Counting On Me
04. Here It Comes Again
05. Deep Inside
06. Did My Time
07. Everything I’ve Known
08. Play Me
09. Alive
10. Let’s Do This Now
11. I’m Done
12. Y’all Want A Single
13. When Will This End
Line-up:
Jonathan Davis – vocais
Head – guitarras
Munky – guitarras
Fieldy – contrabaixo
David Silvera – bateria
Participação:
Nas – vocais em “Play Me”