Desnecessário apresentar King Diamond aos leitores, afinal, se trata de um artista seminal para a história do Metal, uma das suas maiores vozes, e dono de um sem número de álbuns clássicos. The Eye é o 5º álbum da sua banda, lançado após o fim do Mercyful Fate em 1985 – depois retornariam em 1992, com King mantendo às duas bandas na ativa até 1999 -, e é considerado por muitos a joia da coroa da sua carreira, ao lado de Abigail (87). Exagero? Olha, gosto musical é algo muito pessoal, mas não dá para negar a grandeza de The Eye, por mais que do meu ponto de vista, Abigail, e mesmo Them, estejam um pouco acima.
A primeira coisa que chama a atenção em The Eye, é o fato dele se tratar de um álbum mais simples que o antecessor, Conspiracy (89). Menos complexo e com canções menores, se mostra mais acessível, mas valendo dizer que essa acessibilidade não significa perda de qualidade e enfoque mais comercial. King Diamond tem, para mim e para muitos fãs, o seu melhor desempenho vocal. Focando mais em tons médios, mas sem deixar de lado as múltiplas facetas da sua voz, que soa mais límpida e nítida, ele brilha como nunca. A dupla formada por Andy LaRocque e Pete Blakk se completa como poucas, fazendo um trabalho fenomenal, com ótimos riffs, solos e melodias. A parte rítmica, como Hal Patino (baixo) e Snowy Shaw (bateria) soa simples, correta, sólida e enérgica. Os teclados, peça importante no álbum, ficaram a cargo do produtor Roberto Falcão, e por mais que em alguns momentos tenham papel proeminente nas canções, não soam exagerados. Na verdade, são essenciais para a atmosfera sombria do álbum.
Como de praxe, esse é um trabalho conceitual, mas que se difere dos anteriores por ter a sua história contada do ponto de vista da 3ª pessoa. Tendo como base a perseguição da Igreja Católica a supostas bruxas, e o abuso sexual contra freiras, temos duas histórias que se passam no período da Inquisição, e que estão interligadas por um elemento em comum, o colar chamado The Eye. Esse colar permite ao protagonista, que o encontra no começo da história, vislumbrar uma série de eventos passados do qual o colar foi testemunha, tendo como foco a acusada de bruxaria, Jeanne D’Basson, uma garota inominada, e a jovem freira Medeleine Bavent, todas possuidoras do artefato em algum momento da história. Vale dizer que os elementos principais do que é contado, realmente ocorreram na França, no período compreendido entre 1450 e 1670, e que os personagens citados existiram. Aos que se interessarem por história, vale pesquisar a respeito do episódio das possessões de Louviers.
Musicalmente falando, estamos diante de um álbum nivelado por cima, com músicas de uma qualidade absurda. “Eye of the Witch” é a abertura perfeita, com seus ótimos riffs e solos, e os teclados que dão uma ambientação bem sinistra, que se encaixa perfeitamente na proposta de The Eye. Em “The Trial (Chambre Ardente)”, eles são os responsáveis por criar uma atmosfera escura, que casa com perfeição com os vocais de King, principalmente nas partes onde ocorrem os diálogos entre Jeanne Dibasson e o inquisidor Nicholas de la Reymie. É de arrepiar. “Burn” é a canção mais veloz do álbum, se destacando pelos riffs pesados e a boa utilização do violino; “Two Little Girls” é um interlúdio que liga as duas histórias, onde os vocais criam uma atmosfera maligna; “Into the Convent” é mais pesada e tradicional, enquanto “Father Picard” se destaca pelos ótimos riffs e melodias. A ótima “Behind These Walls” é um dos pontos altos, graças ao ótimo trabalho da dupla de guitarristas, tanto nos riffs quanto no solo, características também presentes em “The Meetings”. Andy e Pete também brilham na instrumental de acento clássico “Insanity”. Encerrando, temos “1642 Imprisonment” com seu bom refrão, e a excelente, e sinistra, “The Curse”, um final perfeito para uma obra de tamanha magnitude.
Se um dia eu tivesse que apresentar a obra de King Diamond a alguém que a desconhecesse, certamente iniciaria por The Eye. Ainda considero Abigail e Them superiores musicalmente falando, mas é inegável que em seu 5º álbum, King conseguiu alinhar com uma competência ímpar, um ar mais acessível com uma qualidade de composição monstruosa, fazendo desse um dos melhores trabalhos de uma carreira profícua em clássicos. Imperdível!
Formação:
– King Diamond (vocal/teclado)
– Andy LaRocque (guitarra)
– Pete Blakk (guitarra)
– Hal Patino (baixo)
– Snowy Shaw (bateria)
Faixas:
01. Eye of the Witch
02. The Trial (Chambre Ardente)
03. Burn
04. Two Little Girls
05. Into the Convent
06. Father Picard
07. Behind These Walls
08. The Meetings
09. Insanity
10. 1642 Imprisonment
11. The Curse
-
8.8/10