Roadie Metal Cronologia: King Diamond – House of God (2000)

Os anos 90 certamente foram extremamente produtivos para o dinamarquês King Diamond. Estando ativo tanto na sua carreira solo como na banda Mercyful Fate, o icônico artista lançou ao todo 10 discos na década, tendo a maioria uma recepção calorosa entre fãs e mídia. O final da década foi especialmente movimentado, com um lançamento do Mercyful Fate (“Dead Again“) e um do King Diamond (“Voodoo“) em 1998, seguido de mais um do Mercyful (“9“) em 1999. Na virada do século, o então prolífico artista lançou mais um disco na sua carreira solo, intitulado “House of God“, protagonista deste texto. Com um ritmo de produção frutífero como esse, lançando quatro discos em três anos, seria de se esperar que a qualidade entre eles não fosse das melhores, mas meus amigos, o que vimos foi exatamente o contrário. Todos os álbuns acima citado antes deste que será aqui examinado são excelentes, mas por hoje focaremos no “House of God“.

O King Diamond trouxe mais um disco conceitual no seu 9º full-length, dando continuidade à tradição de histórias de terror com altos teores de teatro, tanto na performance vocal, quanto no instrumental, cheio de melodias, arranjos e teclados. Para fãs, este disco é uma peça interessantíssima de transição entre duas eras da carreira do cantor. Nós testemunhamos algumas mudanças no som da banda ao decorrer dos anos 90, a produção ficou mais crua, as músicas mais pesadas (principalmente no insano “The Graveyard“) e os icônicos falsetes estavam cada vez mais dosados. Muito se especula sobre a diminuição dos agudos, com a maioria dos fãs concordando que King Diamond talvez não desse mais conta de cantar músicas inteiras com as notas nas alturas como ele fazia nos anos 80, apesar do mesmo negar isso, até hoje. É sabido que ele fumava e bebia muito na época, e que suas performances ao vivo muitas vezes deixavam a desejar. De qualquer maneira, eu pessoalmente vejo as mudanças como algo positivo: Demonstra uma maturidade musical imensa do vocalista, alterando seu estilo para melhor se adequar tanto à música que estava mais pesada, quanto aos eventuais problemas que ele enfrentava com sua voz. Além disso, o uso mais esporádico da técnica do falsete permitiu que King Diamond explorasse mais as muitas facetas de sua voz, deixando as músicas mais variadas e cheias de climas distintos, aumentando ainda mais o nível teatral das mesmas.

Em “House of God” vemos a continuação de muitas destas características, porém todas andando em rumo ao novo som da banda que viria a ser consolidado no próximo disco. É realmente uma mistura de tudo que ele fez nos anos 90, com a produção crua, o peso, o vocal agressivo e muitas vezes insano, ponderado pelas melodias fortíssimas e trabalho de guitarras cada vez mais detalhado que viriam a ser trabalhados ainda mais nos lançamentos vindouros. É realmente um disco-ponte entre duas sonoridades.

Mas muito se engana aquele que, ao ler isto, imagina um disco sem identidade própria. Aliás, já adianto que, na minha humilde opinião, este é o melhor lançamento desde o clássico absoluto “Conspiracy“. Tudo neste disco funciona perfeitamente, cada letra se encaixa como uma luva no clima criado pelos instrumentais, e as performances etéreas de King Diamond, em momentos melódicas e melancólicas, e em momentos agressivas e psicóticas, te transportam para dentro da história, criando imagens perfeitas de tudo o que está acontecendo com o sofrido protagonista.

Aliás, a história aqui também está entre as melhores do Mestre. Sem dar spoilers, a história se passa na França medieval, onde o protagonista encontra por acaso uma igreja abandonada, enfeitada com estátuas de criaturas bizarras, onde ele descobre segredos sinistros. É realmente um deleite sentar num quarto escuro com o encarte em mãos, e acompanhar o desenrolar desta história, tão bem traduzida para a forma musical. Uma trívia interessante de bônus: A igreja onde a maior parte da história se passa é inspirada em uma localidade real na França, a igreja de Maria Madalena, situada na comuna de Rennes-le-Châteu.

O disco também trás uma leve pitada de Black Sabbath desta vez, principalmente nas faixas “The Trees Have Eyes” (a qual, aliás, tem um riff que se assemelha ao riff de “Children of the Grave“) e “Catacombs“.

De resto, o disco traz tudo aquilo que se espera do King Diamond. As excelentes linhas de guitarras de Andy LaRocque continuam tão criativas e inspiradas como sempre, casando perfeitamente com o estilo do vocalista. O resto da banda também tem um performance excelente, especialmente sabendo que a mesma era uma formação que ainda viria a ser alterada novamente, antes de se solidificar por muito tempo no próximo lançamento.

É sempre difícil escolher destaques em álbuns do King Diamond, pois os mesmos costumam ter um consistência de qualidade invejável ao decorrer das faixas. O riff de abertura da faixa “Help” é pesado e te atinge como uma bomba, casando com o momento da história e o surto mental pelo qual o protagonista passava, o que torna a música extremamente memorável. “This Place Is Terrible” traz uma conclusão épica e teatral para o disco, com uma ótima letra cheia de versos dignos de citação.

Em conclusão, esta é mais uma adição sólida para a discografia do Mestre King Diamond. O dinamarquês soube evoluir o som da banda através de experimentalismo sem perder sua identidade única, algo que muitas bandas mais aclamados falharam miseravelmente em fazer nos anos 90. Este comprometimento em sempre entregar um material de qualidade, carregado de novidades, e se negar em ficar fazendo apenas mais do mesmo é o que destaca o sr. Kim Bendix Petersen de demais artistas do gênero. Principalmente no seguimento do Metal Tradicional, que é tão saturado de cópias infintas de Judas Priest e Iron Maiden.

Tracklist:
01 – Upon the Cross
02 – The Trees Have Eyes
03 – Follow the Wolf
04 – House of God
05 – Black Devil
06 – The Pact
07 – Goodbye
08 – Just a Shadow
09 – Help!!!
10 – Passage to Hell
11 – Catacomb
12 – This Place is Terrible
13 – Peace of Mind (instrumental)

Formação:
King Diamond – Vocal
Andy LaRocque – Guitarra
Glen Drover – Guitarra
David Harbour – Baixo
John Luke Hébert – Bateria

Nota: 9,0

Encontre sua banda favorita